Salgueiro confirma enredo sobre Benjamin de Oliveira, 1º palhaço negro do Brasil: ‘resposta para quem quer acabar com educação, arte e cultura’

Enredo do Salgueiro para 2020

O Salgueiro anunciou neste domingo, 5, o tema do desfile da escola para 2020, sobre o artista negro Benjamin de Oliveira, conforme antecipou o Setor 1. Batizado como “O Rei Negro do Picadeiro”, o enredo terá como protagonista o primeiro palhaço afrodescendente do Brasil.

Em 2020, completam-se 150 anos do nascimento do artista mineiro, de 11 de junho de 1870.

Pela fala do carnavalesco da escola, Alex de Souza, o desfile terá forte teor crítico, de oposição ao racismo e à intolerância, tendo como contexto a atual fase política brasileira.

“Esse enredo é a resposta para aqueles que querem acabar com a educação, a arte e a cultura do Brasil”, disse Alex durante o evento.

Recentemente, o governo Bolsonaro anunciou cortes de verba na educação e reduziu de R$ 60 milhões para R$ 1 milhão o teto de captação por projeto na Lei Rouanet.

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O evento de lançamento, transmitido ao vivo pelo perfil de Facebook da escola, teve um tom lúdico. Antes do anúncio, houve apresentação de um grupo de acrobatas, ao som de músicas clássicas do universo circense, como a marchinha “Máscara Negra”, de Zé Keti, executados pela bateria Furiosa e cantado pelos membros de carro de som salgueirense.

Um vídeo mostrou depoimentos do salgueirense Haroldo Costa e de Aílton Graça, que falaram sobre os desafios de ser um artista negro no Brasil. Imagens de Grande Otelo, Helio de la Peña, Cacau Protássio, Tião Macalé e Mussum também foram exibidas, e dão pistas de como será o desenvolvimento do enredo

A sinopse será lida pelo carnavalesco aos compositores nesta segunda, 6, às 19h.

Nascido pobre em Pará de Minas (MG), Benjamin superou o preconceito para se tornar um dos maiores artistas do Brasil no início do século 20. Era filho de mãe escrava e pai capataz. Depois de passar um tempo com ciganos, fugiu com a trupe de um circo até chegar ao Rio de Janeiro, onde se firmou como um artista completo: escrevia, dirigia e atuava.

Antes, porém, exerceu várias funções no circo, até virar palhaço meio sem querer, aos 20 anos, ao substituir um integrante do grupo que adoecera. “E eu tive que fazer o palhaço. E foi ali, na Várzea do Carmo, naquele barracão de zinco e tábua que eu pela primeira vez apareci vestido de palhaço”, contou Benjamin uma vez. A estreia não foi das melhores, e há relatos de que deixou o palco sob vaias e até ovadas.

Benjamin continuou sua peregrinação até chegar à então capital federal, onde chamou atenção de gente influente e poderosa – incluindo o então presidente da República, o marechal Floriano Peixoto.

Já com status de grande artista, introduziu no fim da década de 1910 o “Circo Teatro” no país, misturando os dois universos e realizando apresentações de operetas e paródias, mas também de obras de Shakespeare. A novidade caiu no gosto popular e viveu seu auge até fins dos anos 30.

Benjamin morreu no Rio de Janeiro, em 3 de maio de 1954, pouco depois de conseguir uma pensão do governo federal que serviria, em tese, para recuperar sua combalida situação financeira.

Na avenida

Benjamin já foi homenageado na Marquês de Sapucaí: em 2009, o palhaço foi o enredo da São Clemente, então no grupo de acesso. O desfile foi desenvolvido pelos carnavalescos Mauro Quintaes e Alexandre Louzada. Em São Paulo, em 1986, o artista foi o protagonista do Unidos do Peruche, com “Benjamin de Oliveira, o ‘Palhaço Negro'”.

Benjamin de Oliveira em ação – Reprodução

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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