13 de Maio e 20 de Novembro: os dilemas da Abolição, por Bruno Filippo

Vila Isabel 1988 – Divulgação

Neste Brasil convulsionado de 2021, comemora-se nesta quinta-feira, 13 de maio, o Dia da Abolição da Escravatura. Na Umbanda, religião de matriz africana, é o Dia dos Pretos Velhos – arquétipos de senhores que sofreram nas senzalas durante a escravidão e têm sabedoria para dar conselhos. No distante carnaval de 1988, ano do centenário da Abolição, Vila Isabel e Mangueira, respectivamente campeã e vice, protagonizaram dois dos momentos mais marcantes da história dos desfiles das escolas de samba. Mais de três décadas depois, aquele carnaval enseja também um significado político e sociológico não muito compreensível à época, mas hoje perfeitamente inteligível – e um fato que pode ser usado didaticamente para entendê-lo.

A primeira vez que se comemorou o 20 de novembro foi em 1971. A invocação a Zumbi dos Palmares, presente nas letras de ambos os sambas, inseriu-se no processo de valorização dessa data – dia de seu assassinato, em 1695 – como Dia da Consciência Negra. Sete anos depois, o alcaide César Maia elevou-o à condição de feriado municipal, e em 2002 a então governadora Benedita da Silva transformou-o em feriado estadual. Atualmente, centenas de cidades decretam feriado.

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Ao mesmo tempo, o dia 13 de Maio, dia da Abolição, foi sendo relegada como efeméride da questão racial , em parte porque ainda se enxerga a Lei Áurea ou como um ato de caridade da Princesa Isabel ou como consequência das pressões da Inglaterra; em parte porque o abolicionismo foi um movimento de agregação, do qual participaram todos os espectros da sociedade brasileira, independentemente da cor da pele – jornalistas, intelectuais, escritores, cientistas, líderes políticos. Não havia, portanto, uma identidade exclusivamente negra. Um livro recente e muito importante para entender a capacidade gregária do Abolicionismo, e de como isso foi capital para o 13 de Maio de 1888 – portanto, em uma perspectiva contrária à ideia de concessão imperial ou de importância identitária –, chama-se “Flores, votos e balas – O movimento abolicionista brasileiro (1868-88)”, da historiadora Ângela Alonso.

Em Palmares, ao contrário, lutava-se pela libertação, mas se segregava o mundo exterior, que o escravizava. Zumbi não queria mudar esse mundo, mas criar outro, à parte. Os abolicionistas, dois séculos depois, sonhavam mudar o Brasil. A tarefa ficou incompleta – conforme previra Joaquim Nabuco à época da Abolição. Por causa disso, implantamos cotas raciais e outras ações afirmativas. E, também por causa disso, o gênero samba-enredo ganhou estas duas obras-primas:

Vem a lua de Luanda
Para iluminar a rua
Nossa sede é nossa sede
De que o apartheid se destrua

Vila Isabel 1988 – Rodolpho, Jonas e Luiz Carlos da Vila

Pergunte ao Criador, pergunte ao Criador
Quem pintou esta aquarela
Livre do Açoite da Senzala
Preso na miséria da favela

Mangueira 1988 – Alvinho, Helio Turco e Jurandir

Bruno Filippo é jornalista e sociólogo

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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