Influenciadas, de início, pelo estilo de cortejo das grandes sociedades, as escolas de samba, em momentos diferentes de sua história, passaram por revoluções estéticas e temáticas que as reinventaram e lhes deram nova envergadura cultural. A vitória da Grande Rio no carnaval de 2022 parece inaugurar uma nova era na Marquês de Sapucaí.
No Salgueiro da década de 1960, Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues, ladeados por seus aluno da Escola de Belas Artes, aprimoraram a feitura de alegorias e fantasias – e escolheram como protagonistas dos enredos ícones da história negra do Brasil, algo inédito, posto que era praxe que as agremiações abordassem figuras e fatos da história do Brasil. Pupilo da dupla, Joãosinho Trinta ensaiou no Salgueiro e realizou por completo na Beija-Flor da segunda metade dos anos 1970 uma revolução dentre dela mesma: verticalizou as alegorias, aumentou-lhes o luxo e criou enredos oníricos e baseados na cultura popular. Mas o luxo de Joãosinho, assim como o de Pamplona, provinha de sua criatividade na hora de utilizar material alternativo.
Esse padrão estético e temático dominou o carnaval e aproximou as escolas de outra manifestação predecessora: as grandes sociedades, com seu visual luxuoso e rebuscado, influência da festa renascentista europeia. A figura do carnavalesco tornou-se predominante, consagrando, além de Joãosinho Trinta, nomes de Rosa Magalhães, Max Lopes, Fernando Pinto, Maria Augusta, Renato Lage – todos, exceto este Fernando Pinto, oriundos do Salgueiro. Cada um com seu estilo, mas dentro dos parâmetros estabelecidos por Salgueiro e Beija-Flor.
Quando Paulo Barros despontou na Unidos da Tijuca no início do século XXI, buscava romper com essa estética. O carnaval descarnavalizado de Barros foi sucesso de público e de parte da crítica. Sua estética baseava-se em pouca carnavalização das alegorias, formadas por elementos humanos em movimentos, e em ícones da cultura pop. Causou polêmica – a despeito de suas inovações, sobretudo as alegorias humanas, serem observadas em outras escolas. Paulo Barros buscava o entretenimento, sem muita preocupação com a mensagem do enredo, e sua ascensão coincidiu com o ápice dos enredos patrocinados por empresas ou por cidades.
Uma década depois despontou no carnaval o jovem Leandro Vieira, que estreou no Grupo Especial pela Mangueira sagrando-se campeão. Ele propunha uma estética mais tradicional, porém sem muito rebuscamento, e enredos engajados social e politicamente. Assim, a narrativa, a história que as escolas de samba levam para a avenida, tornou-se tão importante quanto sua execução plástica. Seu sucesso fez com que escolas, aos poucos, buscassem esse tipo de enredo.
Gabriel Haddad e Leonardo Bora, carnavalescos campeões pela Grande Rio, pisaram na avenida cimentada anos antes por Leandro Vieira. Utilizando materiais alternativos, desenharam fantasias e alegorias com visual colorido e em tons quentes, algumas para retratar o lixão de Gramacho. A mensagem do enredo, em que a entidade da religião afro-brasileira Exu era desmistificada, encaixou-se perfeitamente na estética. Há quem afirme, entre estudiosos do carnaval, que, com a consagração do título, a Grande Rio inaugura uma nova era no carnaval carioca. Se acontecer, será mais uma mudança em um evento que está em constante mutação.
Bruno Filippo – Jornalista e sociólogo
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