Ryanna, 12 anos, queria ser passista, mas, diante da resistência do pai, está pensando em ir para a bateria e tocar caixa, como o irmão gêmeo, Ryan. “Ela ficou chateada, disse que não ia mais sair na escola”, revela a mãe, Jaqueline, sobre a filha batizada em homenagem à contora Rihanna.
Enquanto fala, observa de perto, de soslaio, cada movimento dos filhos no último carro da Portela, que, pouco mais de uma hora depois, na madrugada da terça-feira de Carnaval, partiria na caravana levando o homenageado no enredo, Milton Nascimento.
“É muito emocionante. Eles são Portela doente! Ele escuta todos os sambas da escola, inclusive os mais antigos”, diz Jaqueline, ex-passista da Caprichosos de Pilares, mas que naquele momento cumpria a função de diretora informal de harmonia do coro de 20 crianças portelenses escolhidas para desfilar ao lado de Bituca.
“É uma experiência que eu quero repetir várias vezes quando crescer”, declara Ryan, desfilando pela primeira vez no “time de cima” da Portela.
As crianças foram selecionadas na escola mirim Filhos da Águia, em um processo feito na encolha, de forma discreta, para não deixar a ansiedade tomar conta.
“Eu ia ficar muito ansioso, muito emocionado, muito alegre. Ela chegou em casa um dia e soltou a bomba”, lembra João Miguel, 10 anos, admitindo que como seria a espera até o dia de integrar o cortejo portelense dedicado a Milton.
“Eu só contei a ele no dia em que fomos ao barracão conhecer o carro”, diz a mão de João, Dormalys, sobre a visita de três dias antes do desfile. “Ele está feliz, eu estou mais ainda. Orgulhosíssima”, completa. A ideia também era evitar a quebra de sigilo sobre a escolha.
A ansiedade também fez Renata, a mãe de Pedro, 12, guardar segredo até que o grupo visitasse o barracão e recebesse a noticia. “Desde que pegamos ele está botando essa roupa o dia inteiro dentro de casa”, revela a mãe, filha de portelense.
“Ele evolui muito, sabe cantar todos os sambas. Então foi escolhido porque evolui”, gaba-se.
No processo de seleção, Pedro gravou um vídeo e enviou para a escola, que aprovou a participção. “Esse menino sempre está escolhido nas coisas, graças a Deus”, comemora Renata.
“Eu amo a Portela desde pequenininho. A minha avó começou a me levar, e agora eu vou sempre”, diz Pedro, em uma declaração à escola do coração. A base vem como?
“Eu sempre fui portelense. É um orgulho ver meus filhos ali, porque eu nunca tive oportunidade de desfilar”, afirma Fernando, o pai de Ryanna. “Só de olhar eles fantasiados já me arrepia”, completa, já cogitando mudar de ideia sobre o desejo da filha se tornar passista.
“Acho que estou me acostumando mais com a ideia. Quem sabe… A gente pode pensar mais pra frente”, completa.
Avisada de que o pai está mudando de ideia, Ryanna mantém o foco no desfile: “Não sei, vamos ver. Não sei nem explicar a felicidade por estar aqui”.
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