Se não fosse José Geraldo de Jesus, o Carnaval seria outra coisa. Funcionário da Riotur por anos, o Candonga, como ficou conhecido, era o guardião da chave da cidade – aquela que é (ou era) entregue ao prefeito para ser passada ao Rei Momo no início da folia. Agora seu nome vai batizar o segundo recuo da bateria, entre os setores 9 e 11 do Sambódromo da Marquês de Sapucaí, local que criou e onde fez história – a sua e a dos desfiles.
O projeto de lei do vereador Thiago K. Ribeiro, que dá o nome “Espaço Candonga” ao segundo recuo, tramitava desde 2016, até ser finalmente aprovado em fins de março deste ano. Antes, porém, foi preciso derrubar o veto do prefeito Marcelo Crivella, em fins de março.
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O chefe do executivo carioca alegou que dar nome a logradouros é uma atribuição do poder executivo, e não da Câmara.
Ribeiro prefere não comentar possíveis motivações religiosas para o veto. “Ele [Crivella] veta de 80% a 90% dos projetos que tramitam na Câmara. Não me causa surpresa, temos apenas opiniões divergentes”, minimiza o vereador. Já Maurício, filho de Candonga, a história é diferente. Para ele, o prefeito agiu motivado por questões pessoais.
“Eu tenho certeza [que vetou por problemas com a família]. Ele não nos dá apoio nenhum. Foi um veto totalmente particular. É uma homenagem a uma pessoa que fez muito pelo Carnaval do Rio. É feio. O custo é zero. Será que ele vetaria a abertura de uma igreja?”, critica Maurício.
Maurício e a irmã, Cristina, mantêm até hoje a tradição do pai: todo ano levam litros de água e o cravo escarlate – bebida alcoolica, de receita secreta e, garantem, poderes afrodisíacos – para servir aos ritmistas, costume que nasceu na década de 1970. Tudo levado na mesma Caravan laranja ano 1980. “É o único carro que entra ali”, diz Maurício.
Os irmãos também são os guardiões da chave da cidade – feita de madeira e decorada com lantejoulas. A função era do pai, coordenador dos desfiles, que ficou com a missão por conta dos constantes sumiços do adereço até sua morte, em 1997.
Pela tradição, a chave é levada ao prefeito que, numa cerimônia carregada de simbolismo, é entregue ao Rei Momo. Isso até antes o início da atual gestão: nos últimos três anos, Crivella não apareceu. Em 2017, o ato teve a então secretária de Cultura, Nilcemar Nogueira, como representante da prefeitura. No Carnaval seguinte, Maurício entregou a chave diretamente ao Rei Momo. Este ano, incumbência ficou com o presidente da Riotur, Marcelo Alves.
“Nesse último ano [Crivella] chegou ao ponto de falar que não ia abrir o Carnaval do Rio. Eu desrespeitei. Como guardião da chave da cidade não vou deixar quebrar essa tradição. Eu peguei a chave, fui para a Sapucaí e disse: ‘Se ele não vai abrir, eu abro’. No segundo ano, [a cerimônia] foi no Palácio da Cidade. Ele esteve presente e disse que não ia colocar a mão na chave. Eu entreguei direto para o Rei Momo”, relembra Maurício.
Apesar do histórico de entreveros com o prefeito, a família quer mais é saber de comemorar a homenagem a Candonga.
“É algo maravilhoso para a família. É histórico, uma congratulação muito justa, um reconhecimento ao sambista. Não tem mais recuo de bateria. Agora as escolas vão entrar no ‘Espaço Candonga'”, diz, orgulhoso.
Veja o documentário e conheça mais sobre a vida de Candonga:
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Meu amigo Candonga, com ele e o Perna conheço Simonal. Comemos pastel e calçado de cana no beco das garrafas, em Copacabana. Figura q pelo Carnaval deve sempre ser lembrado. Parabéns à família.