Prepara o seu coração, que lá vem – provavelmente – a apuração mais emocionante dos últimos anos no Carnaval do Rio de Janeiro. Depois de 12 desfiles, é possível apontar com segurança que há pelo menos três escolas brigando pelo título na Quarta-Feira de Cinzas (em ordem alfabética): Imperatriz, Vila Isabel e Viradouro. Há mais gente correndo por fora, mas o trio da segunda-feira desponta com alguma vantagem.
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A Viradouro fez o que o clichê carnavalesco chama de “desfile técnico”. Mas longe de ser sinônimo de monótono. A plástica de ótimo gosto foi o destaque da apresentação, mas o desenvolvimento do enredo sobre Rosa Egipcíaca é digno de nota. Diante de uma personagem complexa, a escola de Niterói soube fazer um recorte preciso para contar a história da “santa” ex-escravizada. Obra da dupla Tarcísio Zanon, o carnavalesco, e o enredista João Gustavo Melo.
Ainda na seara dos enredos, a Imperatriz teve a história sobre a saga de Lampião post mortem um dos seus principais pontos fortes. As passagens do cangaceiro em busca do descanso eterno, e rejeitado no inferno e no céu, foram bem traduzidos em fantasias e alegorias de estética com a assinatura Leandro Vieira.
A Vila Isabel trouxe um Paulo Barros inspirado em fantasias e alegorias, sem abrir mão de algumas marcas próprias. Teve até rampa, dessa vez usada para integrar todo o desfile. O enredo temático sobre festas é bem a área de domínio do carnavalesco, que apareceu revigorado após o desfile decepcionante de 2022 pelo Paraíso do Tuiuti.
A escola de São Cristóvão, aliás, veio no clima “calada vence” e pode beliscar um lugar no Sábado das Campeãs. Pouco falado no pré-Carnaval, o Tuiuti falou da cultura paraense, Mestre Damasceno e búfalo-bumbá numa apresentação de estética suntuosa assinada pela dupla de carnavalescos Rosa Magalhães e João Vitor Araújo. Ainda vale destacar a parte musical, com a bateria de Mestre Marcão e o samba, pouco notado na safra.
Seguindo na parte sonora, a Mangueira levantou a Sapucaí já na manhã de segunda-feira com um sambão sobre a baianidade musical feminina. A bateria completou o serviço, e a Manga entregou um desfile para acordar quem estava quase dormindo. Na parte plástica, a dupla Guilherme Estevão e Annik Salmon superaram as dificuldades e entregaram um trabalho seguro e acertado, com fácil leitura do enredo. Só não foi atrás da Verde e Rosa quem já tinha morrido. Corre por fora, junto da Beija-Flor.
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A escola de Nilópolis sofreu com problemas de evolução, mas soube virar o jogo durante o desfile depois de um incêndio no abre-alas. A água usada apagar o incêndio esfriou o ânimo no início do desfile, mas logo a Deus da Passarela se recompôs e deu mais uma aula de canto e samba. Esse, aliás, foi berrado pelo povo da Baixada. A letra é o maior papo reto do ano, trilha do enredo que reivindica como data da independência do Brasil o 2 de julho de 1823 baiano.
Defendendo o título, a Grande Rio deu outro show de plástica, agora com o enredo sobre Zeca Pagodinho. Destaque para o setor do desfile sobre o universo infantil, inspirado na devoção do homenageado por Cosme e Damião. O recorte do enredo vale o destaque: em vez de simplesmente mostrar Zeca, os carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad traduziram o sambista em signos como piso de caquinhos e São Jorge. Deu muito certo. Não aconteceu uma catarse, e o samba pareceu não render o que os fãs da obra – os quitandinhers – esperavam. Mas o lugar no Sábado é quase uma barbada.
A escola do sambista, porém, ficou entre as maiores decepções do Carnaval. A Portela, no ano do seu centenário, fez um desfile acidentado, com problemas em alegorias, que causaram um efeito cascata: evolução prejudicada e buraco na pista. Para piorar, a peruca da fantasia da porta-bandeira Lucinha Nobre caiu durante uma das apresentações. Resultado: uma onda de tristeza cortou a Sapucaí. Sambistas e sambeiros lamentaram.
Salgueiro, opulento, mas com enredo difícil compreensão, ainda deve disputar uma vaga no Sábado das Campeãs. A Mocidade teve alguns bons momentos com Mestre Vitalino, mas ficou marcante mesmo a harmonia xoxa – deve brigar na parte de baixo.
O Império Serrano encarou a frieza da Sapucaí na abertura dos desfiles do Especial no domingo, mas ainda assim entregou uma carga de emoção com a homenagem a Arlindo Cruz. O desenvolvimento do enredo, porém, foi o ponto fraco.
Por fim, a Unidos da Tijuca sofreu com problemas nas alegorias, pouco inspiradas. Um dos melhores desenvolvedores de enredo do Carnaval do Rio, o bom contador de histórias Jack Vasconcelos, fez um desfile mais convencional. O destaque foi a comissão de frente, a primeira da história a usar a iluminação especial da Sapucaí dedicado à apresentação.
Vencedora e rebaixadas serão conhecidas na próxima quarta-feira, 22, na apuração na Praça da Apoteose.
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