Beija-Flor revisita Egito para exaltar pensamento negro e derruba estátuas na Sapucaí

Abre-Alas da Beija-Flor – Marco Antonio Teixeira/Riotur

Já virou uma brincadeira, principalmente entre os que não acompanham a vida das escolas de samba o ano inteiro, repetir que todo desfile começa com o Egito. Tirando o exagero do chiste, a afirmação tem um fundo de verdade. Mas o clichê às vezes é necessário, como fez a Beija-Flor no fim da madrugada deste sábado (23), fechando o primeiro dia de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro.

Com um enredo sobre os pensadores negros, intitulado “Empretecer o Pensamento é Ouvir a Voz da Beija-Flor”, a escola de Nilópolis refez a viagem de volta ao Egito. Mas no lugar das sagas fantásticas de Joãozinho Trinta, a dupla de carnavalescos Alexandre Louzada e André Rodrigues visitaram a história, começando a aula na Marquês de Sapucaí por Kemet – complexo de povos africanos que habitavam o Vale no Rio Nilo, que viria a ser chamado.de Egito posteriormente.

Se o Egito Antigo é um velho clichê do Carnaval, foi partindo de Kemet que a Beija-Flor mostrou um desfile de temática original, e fugindo de abordagens e estética comuns, essas sim com signos conhecidos há anos por quem assiste aos desfiles.

Logo no primeiro setor da apresentação, a Beija-Flor apresentou ensinamentos do filósofo Frantz Fanon, Lélia Gonzales e outros, em sequência, entregando o enredo que prometeu.

Nascida da cabeça do enredista João Gustavo Mello, a ideia do enredo era mostrar cara, nome e obra de pensadores negros, escondidos na história oficial, incluindo artistas de várias frentes.

Mas além de exaltar personagens como a escritora Conceição Evaristo e os irmãos Rebouças, a Beija-Flor tratou de fazer jus ao verso do seu samba de 2022: “arte negra em contra-ataque”.

No último setor do desfile, componentes puxavam cordas presas em estátuas de heróis brancos da história oficial – uma delas semelhante ao bandeirante Borba Gato, cujo monumento se encontra na região de Santo Amaro, em São Paulo.

Quando as cordas eram puxadas, as estátuas tombavam, como se estivessem sendo derrubadas, na alegoria batizada de “Reparação Histórica”.

“A cultura do negro deve ser apresentada, ensinada. E nós não queremos competição, queremos igualdade”, disse ao Setor 1 o ator Antônio Pitanga, que desfilou na Beija-Flor.

Parte do próprio enredo, o intérprete Neguinho da Beija-Flor exaltou o tema do desfile logo no retorno do Carnaval após a fase mais dura da pandemia de Covid-19.

“Estamos voltando, começando tudo de novo, e exaltando nossos heróis negros”, disse o cantor.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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