Carnavalesco exalta volta da política e aponta polarização esquerda x direita entre Tuiuti e Beija-Flor

Luiz Fernando Reis, carnavalesco – Foto: Romulo Tesi

Em matéria de Carnaval crítico, Luiz Fernando Reis é uma das maiores autoridades do país. O carnavalesco foi o responsável por alguns dos enredos mais contestadores desde os anos 80, época de redemocratização após a ditadura militar, quando o Brasil ainda se acostumava de novo com a liberdade de expressão. Nesse período, Reis foi decisivo ao dar uma marca política à Caprichosos de Pilares, que, em 1985, exigia votar para presidente – e diretamente. Ninguém melhor que o próprio artista para comentar a nova onda de desfiles engajados.

“A política voltou ao Carnaval”, comemora Reis, sobre os desfiles de Beija-Flor, Paraíso do Tuiuti e Mangueira. Mas ele se apressa em diferenciar a inclinação da campeã de Nilópolis em relação à pequena agremiação de São Cristóvão.

“A crítica da Beija-Flor está muito mais à direita. A escola me parece mais próxima àqueles  paneleiros que vestiram verde e amarelo e agora estão arrependidos. Enquanto na Tuiuti a crítica era mais à esquerda, contra a Reforma
Trabalhista, questionando se a escravidão está de volta”, explica Reis, que discorda do uso do edifício da Petrobras como símbolo de corrupção, como foi feito em um dos carros alegóricos da Deus da Passarela.

“Foi uma falha de enredo monumental. A Petrobras é a maior empresa brasileira, motivo de orgulho nacional. As besteiras foram feitas por seus gestores, e não pela empresa. Então vamos falar deles, e não da Petrobras”, opina Reis, comentarista da Rádio Tupi, que enxerga no vice-campeonato da Tuiuti uma abertura do Carnaval para gente de fora desse universo.

Paraíso do Tuiuti 2018 – Raphael David/Riotur

“Foi importante não só para a escola, mas para o Carnaval. A Tuiuti passou a ser a queridinha das pessoas de fora do Carnaval. O que é muito interessante, porque você começa a trazer gente que não acompanha muito e que passaram a olhar o Carnaval com mais carinho”, comemora Reis, para quem a escola de São Cristóvão só não foi campeã por causa do peso de sua bandeira.

Apesar de discordar do título da Beija-Flor, por causa da plástica aquém do normal da escola, Reis exalta o trabalho de chão da agremiação. E aponta um vencedor em especial: o diretor de Carnaval, Laíla.

“Eu credito muito essa vitória a uma pessoa que pode estar sendo chamuscada agora, que é o Laíla. A vitória da Beija-Flor está ligada a ele. Não foi a parte plástica, não foi o (Marcelo) Misailidis (coreógrafo autor do enredo e de parte das concepção dos carros). A comunidade da Beija-Flor ganhou o Carnaval, com samba, harmonia, evolução… E tenho que parabenizar. Quando a comunidade pisa mordida, ela dá tudo de si e faz a diferença”, conclui.

Laíla e Neguinho da Beija-Flor comemoram título – Fábio Motta/Estadão Conteúdo
Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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