Chiquinho pediu R$ 1 milhão a Cabral para pagar desfile da Mangueira, diz MPF; deputado usava mãe e meias para receber dinheiro

Chiquinho da Mangueira – Foto: Romulo Tesi

Preso na Operação Furna da Onça, da Polícia Federal, nesta quinta-feira, o deputado estadual (do PSC) e presidente da Mangueira, Francisco de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira, recebeu mais de R$ 3 milhões em propina, de acordo com as investigações. Um dos destinos do dinheiro era a Estação Primeira de Mangueira, dentro de um esquema em que o parlamentar usou até a própria mãe.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Chiquinho e outros políticos movimentaram cerca de R$ 54 milhões, entre 2011 e 2014, em esquema que envolvia troca de votos que beneficiassem a quadrilha do então governador Sérgio Cabral por dinheiro. (Saiba mais sobre a operação no site da BandNews FM Rio)

O MPF sustenta que pelo menos parte do montante recebido por Chiquinho foi usado para custear o desfile de 2014 da Mangueira. O Carnaval daquele ano foi o primeiro do dirigente à frente da escola após vencer eleição e substituir o músico Ivo Meirelles. Na época, a agremiação sofria uma grave crise financeira, com uma dívida estimada, como o próprio Chiquinho afirmou na época, de R$ 12 milhões. Naquele Carnaval, a escola terminou em 8º lugar, com o enredo “A festança brasileira cai no samba da Mangueira”.

Chiquinho da Mangueira (PSC) na chegada à Superintendência da Polícia Federal, no Rio, após ser preso – Estefan Radovicz/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

“Chama a atenção”

Em depoimento, Sergio de Castro Oliveira, conhecido como Serjão, ex-assessor de Cabral, contou que intermediou pagamentos do ex-governador a Chiquinho – um deles no valor de R$ 200 mil. O montante seria uma fração de um volume maior, de R$ 1 milhão, pedido pelo deputado para ajudar a pagar os custos do desfile da escola de samba naquele ano.

Em entrevista coletiva na manhã desta quinta, membros do MPF não souberam dizer qual montante total foi destinado ao desfile de 2014 da Mangueira. Segundo a procuradora da República Renata Ribeiro Baptista, a situação de Chiquinho “chama a atenção” dos investigadores pelos valores, que teriam sido utilizados para “custear o Carnaval”.

O pagamento, segundo consta nas investigações, foi realizado na rua Visconde de Abaeté, no bairro de Vila Isabel, endereço ao lado da casa onde mora a mãe do parlamentar. O conteúdo do depoimento, afirma o MPF, foi confirmado por meio de apuração feita com a quebra de sigilo telefônico de Serjão.

Desfile da Mangueira em 2014 – Marco Antonio Cavalcante/Riotur

O operador de Cabral afirmou ainda ter feito pelo menos um pagamento de R$ 20 mil, também a mando de Cabral, a Chiquinho, em transação intermediada por uma pessoa identificada como Vivaldo. O valor seria um dos pagamentos mensais ao parlamentar – os chamados “mensalinhos”. A investigação cita outros repasses, de valores maiores – de R$ 100 mil ou até R$ 290 mil.

“(…) no dia 15.8.2013, por volta das 16:00:00, SERGIO OLIVEIRA ligou para o celular de CHIQUINHO DA MANGUEIRA. No mesmo dia, o Sistema ST (usado pelos colaboradores no controle das transações) acusa a entrega de R$ 290.000,00 a VIVALDO (no caso, identificado como “FRED”). Quanto a esse lançamento de 15.8.2013, importa destacar que o COAF registrou, em 8.8.2013 (portanto, uma semana antes!), um saque em espécie de R$ 280.000,00, feito por CHIQUINHO DA MAGUEIRA, o que demonstra que este requerido estava fazendo um esforço de arrecadação de recursos em várias frentes”, afirma o MPF.

Mãe

O MPF sustenta que Chiquinho utilizou sua mãe para realizar as transações ilegais.

De acordo com o órgão, entre dezembro de 2013 e fevereiro de 2014, foram realizados seis pagamentos de R$ 500 mil (totalizando R$ 3 milhões) em nome de “Chiquinho”, “Celeste/Chiquinho”, “Chiquinho ou Celeste” ou “Chiquinho/Celeste”. Para o MPF, a indicação de uma “Celeste” no Sistema ST confirma o destino dos pagamentos, já que a mãe do parlamentar se chama Maria Celeste Ferreira de Oliveira.

Serjão afirmou em depoimento que a mãe de Chiquinho não sabia do que se tratavam as entregas. “(…) Uma vez o deputado pediu que os valores fossem entregues a sua mãe, em um envelope lacrado a fim de que ela não conseguisse perceber qual era o conteúdo”, contou.

Trecho da petição divulgada pelo MPF – Reprodução

Dinheiro em meias

Em depoimento à Polícia Federal em setembro de 2018, Luiz Carlos Linhares Ferreira, apontado como um dos entregadores que trabalhavam para os doleiros Claudio Barboza e Vinicius Claret, “disse se lembrar de ter entregue dinheiro a homem identificado apenas como Chiquinho”.

Segundo Ferreira, valores de até R$ 400 mil foram pagos a Chiquinho, com cédulas colocadas dentro de “meias compridas”.

As investigações apontam que Chiquinho chegou a receber pessoalmente alguns pagamentos.

O MPF afirma que, além da mãe de Chiquinho, foram usados no esquema a Estação Primeira de Mangueira e o Instituto Mangueira Esperança.

“Essa dinâmica de pagamentos está conforme os apontamentos feitos pelo COAF no RIF n. 36175 (v. doc. 61), segundo os quais, entre as 9 (nove) comunicações de movimentações financeiras atípicas envolvendo CHIQUINHO DA MANGUEIRA, todas elas têm como coparticipantes a escola de samba mencionada, o Instituto Mangueira Esperança e a mãe do parlamentar. Em 2017, sem levar em conta as operações em espécie,
foram movimentados mais de R$ 30.000.000,00 (trinta milhões de reais)”, afirma o MPF.

Trecho da petição divulgada pelo MPF – Reprodução

Outro lado

Após contato do Setor 1, a assessoria de Chiquinho enviou uma nota em que o deputado declara que “todas as acusações são infundadas e totalmente inverídicas”. O advogado Pablo Andrade afirmou que “a medida foi completamente desarrazoada e ficará demonstrado que não houve qualquer ato ilícito praticado pelo deputado”.

Veja a nota na íntegra:

O deputado Chiquinho da Mangueira, através de sua assessoria, declara que todas as acusações imputadas a ele através da operação “Furna da Onça”, realizada pela Polícia Federal, que o levou a prisão temporária no dia de hoje (08), são infundadas e totalmente inverídicas. Segundo o advogado Pablo Andrade, da equipe jurídica de Chiquinho da Mangueira, a medida foi completamente desarrazoada e ficará demonstrado que não houve qualquer ato ilícito praticado pelo deputado.

A assessoria de comunicação da Estação Primeira de Mangueira afirmou que ainda nesta quinta será divulgada a posição da escola, citada como destino de dinheiro de propina.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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