Conheça o samba de 50 anos que ajudou a inspirar o enredo da Tuiuti

Bem antes da Paraíso do Tuiuti causar alvoroço no Carnaval com o desfile sobre os 130 anos da Lei Áurea, a Unidos de Lucas levou o tema da escravidão para o Carnaval em plena ditadura militar. Foi em 1968, quando a Unidos de Lucas desfilou com o antológico “História do Negro no Brasil”, conhecido como “Sublime Pergaminho”.

Em entrevista ao Setor 1 em janeiro deste ano, o carnavalesco Jack Vasconcelos citou o samba de 1968, e como a Tuiuti atualizaria a questão da escravidão tornando em pergunta a afirmação “Meu Deus, está extinta a escravidão”. Segundo o enredo da escola de São Cristóvão, não é bem assim…

“Sublime Pergaminho” tem como autores Zeca Melodia, Nilton Russo e Carlinhos Madrugada, e foi gravado por alguns dos grandes nomes da música brasileira, como Martinho da Vila, Emílio Santiago e Nara Leão.

Não raro o samba é incluído em compilações das maiores obras da história do Carnaval, e é fácil o maior hino da agremiação de Parada de Lucas, 5ª colocada em 1968. Naquele ano, a escola teve Clóvis Bornay como carnavalesco.

Em 2018, desfilando na Intendente Magalhães, a Unidos de Lucas ficou em terceiro lugar na Série C e subiu para a B, última divisão antes da Marquês de Sapucaí.

(Uma curiosidade para quem é da Zona da Leopoldina: há registros na internet de que a Unidos de Lucas ensaiava no Greip do IAPI da Penha, onde este blogueiro foi criado, local que teria abrigado a final da disputa de samba de 1968)

Ouça algumas versões e leia a letra:

Sublime Pergaminho, Unidos de Lucas 1968:

Quando o navio negreiro
Transportava os negros africanos
Para o rincão brasileiro
Iludidos com quinquilharias
Os negros não sabiam
Ser apenas sedução
Para serem armazenados
E vendidos como escravos
Na mais cruel traição
Formavam irmandades
Em grande união
Daí nasceram os festejos
Que alimentavam os desejos de libertação
Era grande o suplício
Pagavam com sacrifício
A insubordinação
E de repente uma lei surgiu
Que os filhos dos escravos
Não seriam mais escravos do Brasil
Mais tarde raiou a liberdade
Daqueles que completassem
Sessenta anos de idade
O sublime pergaminho
Libertação geral
A princesa chorou ao receber
A rosa de ouro papal
Uma chuva de flores cobriu o salão
E um negro jornalista
De joelhos beijou a sua mão
Uma voz na varanda do Paço ecoou
Meu Deus, meu Deus
Está extinta a escravidão

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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