‘Nem um centavo’: Crivella avisa que não quer dar dinheiro para escolas de samba em 2020

Prefeito do Rio, Marcelo Crivella – Renan Olaz/CMRJ

No que depender de Marcelo Crivella, as escolas de samba do Rio de Janeiro ficarão sem dinheiro da prefeitura para o Carnaval 2020. Em entrevista na última quarta-feira, 22, ao programa “Ponto a Ponto”, da BandNews, apresentado por Mônica Bergamo e Antonio Lavareda, o prefeito foi categórico ao afirmar que não pretende repassar recursos do município para as agremiações.

“Esse ano eu espero não colocar nem um centavo. E eu tenho certeza que o Carnaval vai ser tão bonito como sempre foi. Quem precisa pagar o Carnaval é quem fatura com ele: Ambev, Liesa, a Globo. Eles, sim, precisam bancar o Carnaval”, declarou Crivella ao ser questionado sobre os cortes de verba na folia.

Desde que assumiu, o prefeito vem reduzindo drasticamente a subvenção para as escolas. Primeiro de R$ 2 milhões para R$ 1 milhão, depois para R$ 500 mil. E pelo andar desse desfile, em 2020 vai a zero.

Crivella voltou a fazer a mesma analogia proferida recentemente, em coletiva de apresentação do Carnaval 2020, chamando a festa de “bebê parrudo” que precisa “ser desmamado”. “Não pode ficar no peito da mãe o resto da vida”, declarou.

Veja a entrevista na íntegra abaixo. Crivella fala sobre o Carnaval aos 32 minutos.

Este ano, as escolas foram salvas por um aporte de R$ 15 milhões da Light, cuja responsabilidade é dividida entre a Riotur e o governo do Estado. Crivella e Wilson Witzel já se pronunciaram, em ocasiões diferentes, como “pais” da ideia. A princípio, os recursos foram viabilizados por renúncia fiscal de ICMS por parte do estado.

A ajuda fez com que boa parte dos dirigentes carnavalescos se aproximassem de Witzel, alvo de apaixonados elogios durante o Carnaval e alçado ao posto de “salvador da pátria”. Nos bastidores, circula a informação de que o governo estadual poderia assumir a subvenção que Crivella já disse que não quer dar.

O prefeito citou ainda a desistência da Uber, que havia prometido patrocinar o Carnaval das escolas de samba em R$ 10 milhões. A empresa de transporte particular deixou o projeto após a prisão do presidente da Mangueira, Francisco de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira, na operação Furna da Onça, da Polícia Federal.

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Ao citar a prisão, porém, Crivella falou no plural e em “carnavalescos”. Não há notícia, porém, da prisão de carnavalescos, artistas responsáveis pelo desenvolvimento dos enredos e criação de fantasias e alegorias, entre outras incumbências artísticas.

“Eu não posso bancar o Carnaval todo ano, sendo que outros faturam. O que tenho feito é tirar o recurso público e colocar o recurso privado. No último ano eu consegui R$ 20 milhões da Ambev, consegui R$ 15 milhões da Light. Tinha a Uber, que colocava mais ou menos R$ 10 milhões, mas eles desistiram porque alguns carnavalescos foram presos, e eles têm a questão do compliance. Mas conseguimos alguns outros investidores e chegamos a R$ 40 e poucos milhões. Nosso gasto passou para 30 (milhões).”

Economia da cidade

O prefeito justifica o corte pela necessidade de investimentos em setores essenciais, como saúde e educação. E afirma que a administração municipal arrecada pouco com a folia.

‘Judas’ de Crivella no desfile da Mangueira de 2018 – Ide Gomes/Framephoto/Estadão Conteúdo

“A prefeitura vive de dois principais recursos: o IPTU e o ISS. Quem fatura com o Carnaval é a Liesa, a Globo, os hotéis, os vendedores de cerveja… Eles, sim, fazem muito dinheiro. Mas a prefeitura tem R$ 70 milhões de despesa. Segundo estudos da Secretaria de Fazenda, o que vem para nós de ICMS é pouco mais de 3 ou 4 milhões de reais”, afirma Crivella.

Se para as contas da gestão Crivella o Carnaval rendeu pouco, o mesmo não pode ser dito sobre a economia da cidade em geral. Segundo dados da própria Riotur, a folia movimentou R$ 3,78 bilhões, com alta de 26% em relação ao ano passado. O número de turistas também cresceu, de 1,5 milhão para 1,62 milhão, com crescimento de 8% este ano.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

1 comentário

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  • CORRETÍSSIMO………………DESDE QUE O DINHEIRO SEJA INVESTIDO AO BENEFICIO DO POVO QUE ENFRENTA TANTOS PROBLEMAS, TAIS COMO ENCHENTES, QUEM FATURA COM A FESTA QUE INVISTA NELA.