Em protesto, Mocidade Unida da Mooca reescreve lema da bandeira do Brasil e cobra reparação ao povo negro

Bandeira do Brasil da Mocidade Unida da Mooca – Romulo Tesi

A Mocidade Unida da Mooca, escola do Acesso 1 de São Paulo, aproveitou o ensaio técnico do último sábado, no Anhembi, para fazer novo protesto.

A agremiação levou para o Sambódromo bandeiras do Brasil sem as cores oficiais, pintadas somente de preto e branco, e com o lema trocado: no lugar de “Ordem e Progresso”, um provocador “Erguido sobre sangue preto”. Logo abaixo, a palavra “reparação”.

Veja a ordem dos desfiles de 2020

O enredo da escola em 2020 é o professor, senador, dramaturgo e ativista – entre outras atividades – Abdias Nascimento, que militou pelos direitos humanos e no movimento negro. Daí a ideia da bandeira.

Desenho da bandeira da MUM

Recentemente, em entrevista ao Setor 1, o carnavalesco da escola, André Rodrigues, disse que “não adianta fazer esse enredo e não apoiar as causas que o Abdias apoiava”. Tanto que a escola organiza uma ala que desfilará com componentes exibindo cartazes com reivindicações e palavras de ordem.

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No desfile deste sábado, integrantes da ala levaram faixas em defesa das mulheres, LGBTQ+, negros, contra a intolerância religiosa e outras reivindicações. A ideia é que as pessoas levem suas próprias faixas para o desfile. Quem quiser participar pode fazer o próprio cartaz e levar aos ensaios, além de entrar em contato com Jussara (11 97297-1821) ou Jéssica (11 96717-9548).

Na festa de lançamento do CD, em dezembro do ano passado, a escola se destacou na Fábrica do Samba ao fazer um protesto lembrando os mortos no baile funk em Paraisópolis e em operações policiais em Heliópolis e no Morro do Dendê, no Rio de Janeiro. A expectativa é que ação semelhante aconteça no desfile oficial, no domingo de Carnaval.

Não é a primeira vez que uma escola de samba apresenta uma nova versão da bandeira do Brasil. No desfile campeão de 2019, a Mangueira levou a sua também: verde e rosa, e com o lema “Índios, negros e pobres”.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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