No Carnaval de 2023, a Beija-Flor de Nilópolis levará a Marquês de Sapucaí um ala cuja fantasia representa o anticomunismo. Batizada “ameaça vermelha”, o figurino faz uma crítica à paranoia disseminada na população brasileira para abrir caminho para medidas autoritárias.
A escola cita dois momentos da história do Brasil em que o chamado “fantasma” do comunismo foi usado pelos governantes para amedrontar a sociedade: em 1937, com Getúlio Vargas e o Estado Novo, e em 1964, no golpe militar que depôs o presidente João Goulart e instaurou uma ditadura que durou mais de 20 anos.
“Não à toa, nos dois momentos, teorias conspiratórias sobre uma ameaça comunista no Brasil ganharam força com o objetivo de criar na população temor e insegurança”, publicou a Beija-Flor.
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“Mobilizando valores, crenças e ideias construíram uma representação que se disseminou acerca do comunismo e legitimou ações violentas. Sendo um país forjado na desigualdade e erguido, em seus pilares, para manutenção desta, uma corrente ideológica que defende a transformação social entra em choque com o sentido desta nação, com a sua lógica fundante, sua razão de ser”, completa a escola em postagem.
A fantasia é completamente vermelha, e é completada por um adereço de mão, uma espécie de cajado em forma de foice, numa clara referência ao símbolo comunista composto com o martelo.
A ala é parte do enredo “Brava Gente! O grito dos excluídos no bicentenário da Independência” para o Carnaval de 2023, sobre a Independência do Brasil na Bahia, feriado comemorado no dia 2 de julho pelos baianos. A Beija-Flor propõe a alteração: em vez de comemorarem a libertação comprada de Portugal, em 7 de setembro de 1822, os brasileiros deveriam deslocar a festa para a data baiana, de um ano depois, no 2 de julho de 1823.
O desfile terá a assinatura dos carnavalescos Alexandre Louzada e André Rodrigues, e pesquisa do professor Mauro Cordeiro.
“Assim, ainda hoje, em momentos de crise ou instabilidade política institucional, o fantasma de um ‘perigo vermelho’ é acionado para legitimar medidas autoritárias, excludentes e antidemocráticas”, conclui a escola.
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Assim, a agremiação faz a ligação com o momento atual do Brasil, mesmo sem citar nominalmente o presidente Jair Bolsonaro, que se coloca como “defensor” contra a “ameaça vermelha”, mesmo sem traços da ideologia no mainstream político brasileiro.
Coincidentemente, a “luta contra o comunismo” é uma das bandeiras das manifestações antidemocráticas que tomaram as rodovias do país após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Bolsonaro nas eleições presidenciais do último dia 30 de novembro.
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