Quem esteve na concentração da Unidos da Tijuca no último domingo se deparou com uma cena que contraria todo o folclore carnavalesco: risonho e atencioso, Laíla, no primeiro desfile após a saída conturbada da Beija-Flor, atendia a imprensa sem negar respostas, fazendo alguns gracejos e rindo das próprias brincadeiras. Bem diferente do sisudo diretor de Carnaval que costuma despertar admiração e temor na mesma medida. Às vezes simultaneamente.
“Estou muito feliz”, repetia Laíla, dando a mesma resposta para perguntas sobre o Carnaval da Tijuca, a nova casa e a saúde do coração. “E que sejam felizes juntos conosco”, completou.
Fila andou
Laíla saiu da Beija-Flor após uma separação com reclamações públicas, isso depois do título de 2018, que muitos colocam em boa parte em sua conta. No meio do Carnaval, não raro dizem que a Deusa da Passarela ganhou aquela no chão, comandado pelo diretor, e apesar da plástica estranha ao torcedor da escola.
Após deixar a Beija-Flor, foi acolhido por duas agremiações, uma em cada lado da Via Dutra. No Rio, foi contratado pela Unidos da Tijuca, comandada pelo ex-desafeto Fernando Horta. E voltou a São Paulo pelo Águia de Ouro, atual campeão do Acesso 1.
No Anhembi, abriu o sábado com um desfile político, cujo samba leva sua marca: uma junção de quatro obras – e incríveis 33 autores. Na pista, a atuação foi digna da fama de Laíla: uma escola enchendo o pulmão para cantar, o que fez a escola ser apontada pela mídia especializada como uma das favoritas ao título.
Experiência que ela já cansou de sentir no Rio, onde pisou na Sapucaí nas primeiras horas da manhã de segunda-feira com a responsabilidade de quem briga pelo primeiro lugar.
Ponte aérea
A chance de ganhar dois carnavais no mesmo ano empolga Laíla.
“Se eu ganhar…”, começa a responder, para se corrigir em seguida. “Eu não… Se nós ganharmos lá e aqui vai ser um ‘problema’, né? Uma felicidade de fim de carreira, porque não vou ser eterno. Estou com 70 e alguma coisa [de idade]. Será uma coisa muito boa”, prevê.
Sobre aposentadoria, coloca a própria morte como idade máxima em uma “Reforma da Previdência” bem particular, e diz que vem cumprindo um papel que, segundo o próprio, era inédito na sua vida.
“Tem muita gente querendo aprender, e eu estou podendo ensinar”, diz, para soltar uma gargalhada em seguida.
A alguns metros dali, o presidente Horta, tão vascaíno como Laíla, enche a bola de quem, para ele, foi uma contratação de peso, “melhor profissional do Carnaval”, em suas palavras.
“Foi como se eu tivesse contratado o Pelé para o Vasco”, compara.
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