Filha de Laíla escreve carta e canta em homenagem ao pai; assista

Laísa e o pai, Laíla. Carnaval
Laísa e o pai, Laíla – Arquivo pessoal

Laísa, filha do sambista Laíla, escreveu uma carta e gravou um vídeo em homenagem ao pai, morto no último dia 18 de junho, vítima de complicações da Covid-19.

No texto, uma declaração de amor ao pai, Laísa fala da saudade e do que aprendeu com o “multi-sambista”, que atuou em diversos segmentos do Carnaval.

“Pai, você me ensinou a viver o samba, agora eu entendo o porquê desse seu apego ao trabalho. Você me ensinou o que é o Carnaval”, disse a filha, ritmista da Beija-Flor, em texto enviado ao Setor 1.

No vídeo feito para o pai, Laísa canta a música “Linda Voz”, de Lucas Morato.

Assista:

Em entrevista ao Setor 1 em 2020, Laísa falou de como se aproximou do Carnaval influenciada pelo pai.

“Fui por minha própria vontade, e acabei seguindo o caminho dele, na parte musical, em vez de querer ser passista, por exemplo. Depois ele me ensinou tudo”, lembrou.

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Leia a carta na íntegra:

“Linda Voz (Olá)” é uma música do Lucas Morato, filho do Péricles e dedicada ao pai por motivos óbvios. Não é minha, mas facilmente eu consigo redirecionar todo o sentimento pra você, meu pai.

Péricles é cantor, famoso… seu filho cresceu vendo o pai chegando tarde ou sempre muito ocupado com o trabalho.

A primeira vez que eu escutei essa música foi no programa “Esquenta”, lá em 2012. Sempre gostei muito de assistir ao programa e neste dia eu estava simplesmente ali, dentro de casa assistindo ao vivo, e me emocionei quando ele começou a cantar essa música.

Assim como as pessoas que estavam na plateia, eu chorava… chorava porque me via um pouco nessa música.

Não só porque era o sentimento de pai e filho, mas porque ele conseguia expressar tudo o que eu sentia quando eu via o meu pai sendo o “Laíla”.

Tudo bem que meu pai já foi cantor, já foi intérprete (de tudo um pouco), mesmo que não um Péricles, mas eu senti que algumas partes dessa música era um pouco sobre a nossa história, sabe?

Eu já cantei para o meu pai diversas vezes, e inclusive ele já me viu cantar em aniversários, aqui em casa de bobeira… SEMPRE perguntei para ele o que ele achava do meus vocais, e inclusive já me apresentei na Beija-Flor sob a produção dele.

Mas essa música eu sempre dediquei a ele, mas nunca cheguei a cantar, ele nunca chegou a ouvi-la de mim. E eu nunca soube o porquê. Talvez eu tenha reservado para esse momento mesmo. Essa música sempre foi um pouco de nós, agora faz ainda mais sentido.

Pai, você me ensinou a viver o samba, agora eu entendo o porquê desse seu apego ao trabalho. Você me ensinou o que é o carnaval.

No dia que aconteceu tudo, eu pude ver o quanto as pessoas que me conhecem de verdade já estavam preparadas pra esse dia, porque sabiam o quanto o senhor era importante pra mim. Sabiam que quando qualquer coisa acontecesse, eu desabaria. Essas pessoas foram as que deram um jeito de ir lá em casa e sentar numa cadeira no meu quarto e começaram a contar as melhores histórias que você fez parte. Entende que a maioria dos meus amigos tinha um pedacinho de você na vida? Você foi importante não só pra mim, mas foi importante pra todos eles. E isso me confortou muito, pois eu via o quanto você era e é querido por todos eles, e as marcas que você deixou na vida de cada um, se tornando memorável.

Minha última história contigo dentro do carnaval foi vendo a escola que você defendia em 2020, terminar o desfile de uma forma “desastrosa” e o tanto que eu chorei nem eu entendi, era como se estivessem me batendo, como se fosse a minha escola do coração sendo rebaixada. Mas agora eu entendo, eu chorei feito criança porque ali eu estava me despedindo do Laíla e sua última aparição e trabalho na Marquês de Sapucaí.

Então agora de alguma forma você vai me escutar, pai. Da mesma forma que sua voz ainda ecoa em mim e eu quero passar a minha voz pra você, onde estiver. E as pessoas que ficam vão entender a dor que é sentir que você não está mais aqui entre nós.

No dia da sua morte eu vi todas as homenagens a ti, vi a história que você escreveu, ao longo da sua vida. A ponto de estar em casa aos prantos, mas te ver sendo exaltado pelos seus feitos na televisão. Dessa vez seu nome não estava sendo usado para anunciar algum prêmio que ganhou, nem nada do tipo. Mas eram pessoas mostrando quem você era, e a sua importância, sabe?

Eu agora realmente te perdi de vista, e me ameniza sim todo esse legado que nos deixou, todas as histórias sobre sua trajetória que eu amo ouvir. O seu canto também me deixou cantando. E se existe um legado, saiba que estarei logo atrás buscando mais, sempre por você.

Te amo infinitamente e para sempre.

Com amor e como você costumava me chamar,

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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