Grande Rio dá guinada e anuncia enredo sobre líder do candomblé

Cartaz da Grande Rio 2020

A Grande Rio anunciou, na madrugada desta quinta-feira, 20, o enredo da escola para o próximo Carnaval. Em 2020, a agremiação de Duque de Caxias vai contar a história do pai de santo Joãozinho da Gomeia (1914 – 1971), líder do religioso, figura decisiva na popularização do candomblé.

O enredo foi batizado como “Tata Londirá: o Canto do Caboclo no Quilombo de Caxias”, e leva a assinatura da dupla de carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad. A sinopse será divulgada no 26 de junho, e entregue aos compositores às 20 horas do mesmo dia, na quadra da agremiação.

A escolha do tema representa uma mudança radical em relação aos enredos da escola nos últimos 20 anos, no mínimo – alguns de forte apelo popular, mas de leitura superficial; outros com desenvolvimento óbvio, sem grandes surpresas ou nuances. O tom agora é, inclusive, de crítica – ou pelo menos sobra espaço para isso, dado o personagem.

Joãozinho da Gomeia na capa da revista O Cruzeiro de setembro de 1967 – Reprodução

O baiano Joãozinho da Gomeia foi tão importante para o candomblé que se transformou em uma espécie de celebridade religiosa, com ruidosa atenção da mídia – sobretudo da revista O Cruzeiro. Atendeu todo tipo de gente em seu terreiro em Duque de Caxias, para onde se mudou após deixar a Bahia, inclusive integrantes do jet set brasileiro a partir dos anos 50. Figuram na extensa lista desde artistas até políticos, incluindo Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.

O pai de santo não se prendia aos limites do terreiro, e realizava apresentações na rua. Também se dedicou à música, com pelo menos um disco lançado, “O Rei do Candomblé”, com exaltações aos orixás e que reproduz o ritos dos centros, somente com batuque e canto. (Ouça abaixo)

Tata era homossexual assumido, mais um ingrediente no caldo de preconceito do qual foi alvo enquanto figurou como protagonista na cena cultural e religiosa brasileira. E chegou a incomodar até alguns irmãos de candomblé, inquietos com o fato de um líder candomblecista se dedicar a uma entidade de origem indígena, o Caboclo Pedra Preta.

História para contar na Sapucaí não vai faltar, portanto, ainda mais em tempos de ataques terroristas de adeptos de seitas cristãs contra terreiros. Um pano de fundo nada ignorável em tempos de intolerância religiosa.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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