Grande Rio escolhe samba neste sábado após disputa mais comentada dos últimos anos

Joãozinho da Gomeia – Reprodução/O Cruzeiro

Quem é da turma do Carnaval deve ter ouvido a pergunta pelo menos uma vez nas últimas semanas: “Myngal ou Deré?” – uma espécie de “já viu Bacurau?” versão sambista. A dúvida sobre a preferência entre as duas obras mais aclamadas na disputa da Grande Rio dominou o debate por muito tempo nas redes sociais e ajuda a esquentar a final mais aguardada dos últimos anos, neste sábado, a partir das 22h30, na quadra da escola em Duque de Caxias. Ainda que a parceria de Myngal tenha caído antes da semifinal.

A festa terá transmissão ao vivo pelo Facebook da agremiação, em uma produção sem precedentes para o universo sambista: serão seis câmeras, cobertura de tapete vermelho, apresentação de Alex Cardoso, do Bar Apoteose, e Luise Campos, assessora de comunicação da escola, reportagem de Jean Caxias e comentários de Luiz Antônio Simas, Aydano André Motta e Vinícius Natal. (Para o povo de Niterói: a Rádio Arquibancada transmite a final da Viradouro; a escola também exibe a festa em seu perfil no Facebook). Tudo para mostrar o último capítulo de uma aventura que parece ter sido roteirizada, por vários motivos.

Primeiro pela mudança em Duque de Caxias. Conhecida como a escola das estrelas do jet set brasileiro, a Grande Rio deu uma guinada e retomou a tradição de temas afro dos anos 1990. Chegaram os jovens carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad e, em seguida, o aguardado o anúncio do enredo sobre Joãozinho da Gomeia, o pai de santo gay responsável por colocar o candomblé nas capas das revistas entre as décadas de 1950 e 1960.

A expectativa em torno dos sambas é tanta que alguns nem lembram que a noite terá ainda a coroação da rainha de bateria Paolla Oliveira. Entre o povo do samba, se fala menos da rainha e mais do rei – o Rei do Candomblé, como era conhecido o protagonista do enredo. Justamente na Grande Rio…

A animação cresceu após a divulgação da homenagem a Tata Londirá, justo pela crença da comunidade do Carnaval de que enredo bom rende samba bom. E na Grande Rio foram muitos. Há quem diga que pelo menos sete.

O hype em torno das parcerias de Myngal e Derê começou nos grupos de WhatsApp, com versões caseiras circulando pelas comunidades do aplicativo de troca de mensagens. Logo surgiram os clipes no YouTube, viu-se que a disputa prometia muito mais que um simples duelo entre dois favoritos.

Ainda assim, o debate permaneceu muito tempo entre Myngal e Derê, até que, no dia 11 de setembro, a escola anunciou os semifinalistas sem o primeiro. A comoção nas redes sociais foi grande. Até o humorista Marcelo Adnet, que está na disputa da São Clemente, se pronunciou.

“Em choque. Não imagino o carnaval sem xetruê e xetruá. Que terá acontecido?”, disse Adnet no Twitter, citando a saudação ao boiadeiro usada na letra do samba de Myngal.

Logo após o anúncio, começaram a circular boatos de que a obra havia sido desclassificada por uma irregularidade, o que não foi confirmado por nenhuma das partes envolvidas (checamos!). No dia seguinte, mais boataria. Mesmo quem não tinha a obra como preferida, queria pelo menos o samba na final deste sábado. Mas não do que reclamar da safra.

A saída do samba de Myngal acabou diluindo o favoritismo de Derê: a opinião mais ou menos geral é que a Grande Rio tem cinco grandes opções para escolher após as apresentações da madrugada desde domingo, na ordem de apresentação: Marcelinho Santos (samba 8), Dinho Artigliri (23), Derê (20), Márcio André (11) e Elias Bililico (12). Com cinco finalistas, o resultado deve sair nas primeiras horas da manhã de domingo.

“Acho que só a Grande Rio tem condições de desfilar em 2020 com o que concebo como ‘grande samba’! E um samba espetacular ficou pelo caminho. Tem coisa boa em outras escolas, mas nada que pra mim se aproxime. E tem uns três na final que podem ser ‘o samba do carnaval'”, avaliou Luiz Antônio Simas, em postagem no Twitter.

Depois da final deste sábado, aí sim, Bacurau pode dominar o discussão na tribo do samba. A não ser que comecem outra, na Portela: “é toada ou não é toada?”

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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