Categorias: Carnaval 2021

Grupo lança manifesto por trabalhadores do Carnaval e cria imagens simbólicas do ano sem desfiles

O ateliê de Ivonete entregou a última fantasia produzida para a Grande Rio dias antes do desfile de 2020. Desde então, a equipe comandada por ela nunca mais costurou um corte de cetim ou colou um adereço nos figurinos criados pelos carnavalescos. Por força da pandemia de Covid-19, o trabalho para o Carnaval foi paralisado, e a turma de Nete, como é conhecida, passou a se dedicar à produção de 32 mil máscaras, doadas para a comunidade e hospitais. Isso até meados de setembro, quando o ateliê em Duque de Caxias, sem encomendas, foi finalmente fechado. E assim permanece cinco meses depois.

“Nessa época a gente estaria ensacando e entregando as últimas fantasias para a escola. Só de pensar que estamos agora parados, sem trabalho, bate muita tristeza”, declara Nete, 22 anos de Carnaval.

Nete trabalha há 22 anos no Carnaval – Foto: Carnavalize

“São várias famílias precisando desse dinheiro”, completa a costureira, referindo-se aos 30 profissionais, contando com ela, que produzem todo ano as fantasias para 11 alas da escola caxiense.

Nete faz parte de um grupo diretamente impactado pelo cancelamento dos desfile de 2021, para quem a crise bate mais forte. Gente fundamental na engrenagem da máquina milionária do Carnaval do Rio de Janeiro, mas que ficou sem trabalho, sem dinheiro e tem diante de si um futuro ainda incerto. E mais: têm pouco amparo do poder público e são pouco percebidos.

Para dar visibilidade a gente como a Nete, o coletivo Carnavalize lançou nesta quinta-feira, 11, um manifesto em defesa dos trabalhadores do Carnaval.

“Resolvemos propagar a voz e os rostos dos profissionais menos famosos, pois são eles os que mais estão sofrendo nesse período. São aderecistas, costureiras, escultoras, preparadora de casais… Além de um carnavalesco da Série A e um casal mirim. Pessoas de diferentes ramos, mas que se dedicam às artes do Carnaval”, explicou Felipe Tinoco, membro do Carnavalize.

Silêncio

A ação, batizada “Vazio de Carnaval”, vai até o sábado, dia 20, quando aconteceria o desfile das campeãs. As redes sociais do coletivo estarão integralmente dedicadas ao manifesto, publicando um tributo por dia com fotos, vídeos e testemunhos desses personagens, heróis e heroínas de barracões.

“O projeto se chama Vazio de Carnaval não só porque não teremos os desfiles esse ano, como também pelo silêncio que sentimos das agremiações durante esse período. A ideia de fotografar profissionais de base do barracão foi da Beatriz Freire [integrante do Carnavalize], e tem tudo a ver com o que o grupo faz: enxergar o Carnaval como uma potente manifestação artística e social”, diz Tinoco.

No domingo, 14, o coletivo lançará um vídeo-depoimento da porta-bandeira da Beija-Flor, Selminha Sorriso. A artista foi filmada dando giros com o pavilhão da escola na Marquês de Sapucaí vazia, numa imagem que entra para a história dos desfiles.

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“A gente quer gerar imagens de reflexões que façam as pessoas se sentirem acolhidas com a ausência dos festejos, reforçando o quanto o Carnaval é importante para as nossas relações, para nossa cultura, para toda a cidade e o país, gostem as pessoas ou não. Levantar essa bandeira é fundamental”, defende o mangueirense Tinoco.

Espera

“Carnaval é muito importante para a minha vida. Quando eu vejo as fantasias que fiz passando na avenida, choro de emoção”, diz Nete, que deixou a enfermagem para se dedicar somente ao samba há cerca de 20 anos. Trabalhou com Alexandre Louzada, Max Lopes, Joãosinho Trinta e outros carnavalescos. Nunca mais largou. “No Carnaval a gente forma famílias”, diz ela.

Enquanto isso, Nete e seus 30 costureiros e aderecistas aguardam a vacina e, depois, o telefone tocar. Ela não viu, mas já sabe “por alto” como são as fantasias que a dupla de carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad desenharam para o desfile sobre Exu, em 2022.

“Assim que avisarem, a gente começar a fazer”, avisa.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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