Lierj questiona legitimidade de dissidentes, cita falta de transparência no julgamento e recusa filiação de campeã da Série B do Rio

A guerra entre Lierj e seus dissidentes da Liga-RJ ganhou mais um episódio nesta segunda-feira, 22. Em comunicado divulgado pela entidade que organiza os desfiles da Série A – principal divisão de acesso do Rio de Janeiro -, a nova liga é questionada sobre sua lisura na administração, aponta falta de transparência e se anuncia que recusou a filiação da Acadêmicos de Vigário Geral, campeã da Série B e que, em tese, deveria disputar o acesso para o Grupo Especial em 2020.

A nota chega a colocar em dúvida os resultados de alguns Carnavais da Série B organizados pela Liesb – liga que promove os desfiles da Estrada Intendente Magalhães e que é comandada por dirigentes próximos à Liga-RJ. Além disso, a Lierj menciona um suposto controle de várias agremiações por uma mesma pessoa – tal qual uma holding, termo em inglês usado no jargão empresarial para se referir a uma companhia com maioria acionária de várias outras.

“(…) a Liga supracitada [Liesb] não demonstra qualquer interesse em ser transparente, uma vez que a formação do corpo de jurados e o respectivo desenvolvimento do julgamento é cercado por mistérios. Não há qualquer registro na mídia ou na Internet que esclareça os respectivos nomes e critérios utilizados para avaliações, assim como a maneira em que foram designados a cada módulo, para onde as notas são levadas após o término dos desfiles, como são transportadas até a apuração e, principalmente, os motivos que levaram a cada pontuação, através de justificativas escritas. Essas situações colocam em xeque, por exemplo, a ascensão de escolas tidas nos bastidores como pertencentes a um mesmo dono, como G.R.E.S. Unidos de Bangu, G.R.E.S. Acadêmicos do Sossego, G.R.E.S. Unidos da Ponte e G.R.E.S
Acadêmicos de Vigário Geral, cuja desconfiança é ainda mais enfática, com diversas agremiações da Série B vindo procurar a Lierj para relatar fatos estarrecedores”, afirma a Lierj, presidida por Renato Marins, o Thor, que também comanda o Paraíso do Tuiuti, do Grupo Especial.

“Sendo assim, a filiação do Vigário Geral não será aceita até que sejam feitos os devidos esclarecimentos”, completa.

Renato Thor – Reprodução/Facebook

A criação da Liga-RJ foi anunciada na semana passada, com nove escolas e tendo como presidente Wallace Palhares, ex-mandatário do Sossego. A fundação da Liga se deu em protesto contra a Lierj, acusada basicamente de falta de transparência, má administração e alvo de questionamentos sobre os resultados dos desfiles.

Fazem parte da Liga-RJ: Acadêmicos da Rocinha, Acadêmicos de Santa Cruz, Acadêmicos de Vigário Geral, Acadêmicos do Sossego, Inocentes de Belford Roxo, Unidos da Ponte, Unidos de Bangu, Unidos de Padre Miguel e Unidos do Porto da Pedra.

A Liga diz que, por ter a maioria das escolas, tem autoridade para organizar os desfiles. Em resposta, a Lierj reafirma que segue como organizadora dos desfiles da Série A e não reconhece os líderes rivais, chamados de “autoproclamados dirigentes”.

Grupo de dirigentes da Liga-RJ: Palhares é o quarto da esquerda para a direita – Divulgação

“Piedade”

Há ainda críticas diretas a presidentes das agremiações, como Fábio Montibelo, da Porto da Pedra, um dos líderes do novo grupo e das desfiliações, e Palhares. A Lierj afirma que o Sossego, ex-escola de Palhares, só se manteve na Série A por “piedade das coirmãs”.

“O caso é ainda mais peculiar na medida em que o dirigente [Montibelo] quer mandar ao lado do Sr. Wallace Palhares, presidente do G.R.E.S. Acadêmicos do Sossego durante todo o período em que a escola esteve na Série A e que nem no grupo estaria atualmente por ter sido rebaixada em 2018, como a última colocada, tendo permanecido no grupo apenas pela piedade das coirmãs”, diz o comunicado.

Leia abaixo o comunicado da Lierj na íntegra:

Lierj segue responsável por organizar o Carnaval da Série A; entidade condena ataques infundados

A Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro reitera ser, desde maio de 2012, a única entidade responsável por organizar os desfiles da Série A, realizados na sexta-feira e no sábado de Carnaval, no Sambódromo carioca. Sendo assim, a diretoria da Lierj, democraticamente eleita pelas agremiações e representantes, não reconhece qualquer movimento isolado que visa puramente chamar a atenção, sem qualquer argumentação coerente que justifique eventuais rompimentos.

Vale ressaltar que não são poucos os tópicos irracionais que ditam a criação do que seria uma nova Liga, batizada de maneira bastante “criativa” como “Liga-RJ”. Os autoproclamados dirigentes, que não possuem legitimidade para tomar nenhuma decisão em prol do grupo, confundem de forma maldosa os objetos de acusação, direcionando questionamentos para quem está totalmente em dia com as obrigações que regem o estatuto, fato comprovado pelo poder público e pelos apoiadores, que jamais aportariam recursos caso tivesse ocorrido qualquer tipo de dúvida ou irregularidade ao longo de sete carnavais de enorme sucesso de crítica e público. Os próprios “líderes” de tal movimento oposicionista têm total ciência da normalidade da situação, uma vez que, ao longo de todos os anos em que fizeram parte da entidade, jamais protocolaram nenhuma queixa ou pedidos de esclarecimento, o que deixa mais do que claro tratar-se, agora, de ações puramente aproveitadoras para corresponder ao desejo de uma minoria de chegar ao poder e, assim, atender a vontades individuais a qualquer custo.

Infelizmente, o mesmo compromisso com a seriedade que sempre guiou a administração da Lierj não pôde ser observado em outras entidades, cujos atos obscuros deixaram os grupos de acesso do Rio de Janeiro à beira do declínio. Indaga-se, por exemplo, a localização da prestação de contas e de diversos documentos esclarecedores dos anos em que a Lesga dirigiu os até então grupos de acesso A e B. A antiga Liga das Escolas de Samba do Grupo de Acesso tinha como presidente, durante todo o período, o Sr. Reginaldo Gomes, também presidente da Inocentes de Belford Roxo, e foi extinta em 2012 após uma série de denúncias sobre irregularidades que seguem até hoje sem respostas.

Além disso, não é de se estranhar no grupo que seria “dissidente” a presença de pessoas com cargos e ligações publicamente estreitas, simultaneamente, com a Liga Independente das Escolas de Samba do Brasil e com agremiações que foram campeãs da Série B nos últimos quatro anos de maneira totalmente contestável. O próprio presidente da Liesb, Gustavo Barros, chegou a frequentar reuniões plenárias na Lierj como representante de escola recém-promovida do grupo que administra. Tais ações só corroboram a desconfiança crescente de sambistas, foliões, influenciadores digitais e jornalistas especializados com os grupos da Intendente Magalhães, uma vez que não é raro ver desfiles irretocáveis e premiados serem sumariamente rebaixados, em vez de ocuparem posições condizentes com o que apresentaram.

Ao contrário do que preza a ética, o bom senso e, principalmente, o respeito com os profissionais e desfilantes que tanto se doam ao Carnaval, a Liga supracitada não demonstra qualquer interesse em ser transparente, uma vez que a formação do corpo de jurados e o respectivo desenvolvimento do julgamento é cercado por mistérios. Não há qualquer registro na mídia ou na Internet que esclareça os respectivos nomes e critérios utilizados para avaliações, assim como a maneira em que foram designados a cada módulo, para onde as notas são levadas após o término dos desfiles, como são transportadas até a apuração e, principalmente, os motivos que levaram a cada pontuação, através de justificativas escritas. Essas situações colocam em xeque, por exemplo, a ascensão de escolas tidas nos bastidores como pertencentes a um mesmo dono, como G.R.E.S. Unidos de Bangu, G.R.E.S. Acadêmicos do Sossego, G.R.E.S. Unidos da Ponte e G.R.E.S. Acadêmicos de Vigário Geral, cuja desconfiança é ainda mais enfática, com diversas agremiações da Série B vindo procurar a Lierj para relatar fatos estarrecedores. Sendo assim, a filiação do Vigário Geral não será aceita até que sejam feitos os devidos esclarecimentos.

Nunca é demais recordar, ainda, que dirigentes dessas duas instituições, Lesga e Liesb, antes de liderarem a criação da ilegítima “Liga-RJ”, já tinham tentado chegar ao poder de maneira irregular na própria Lierj, tentando convocar assembleias em desacordo com o estatuto. Tal convocação foi invalidada pela Justiça, que determinou uma multa no valor de R$ 500 mil, sob pena de prisão, em caso de descumprimento. O grupo, liderado pelo presidente do Conselho Deliberativo da Liesb, que também é dirigente do G.R.E.S. Unidos de Bangu e das demais escolas oriundas da Série B nos últimos anos, chegou a recorrer, recebendo novamente parecer desfavorável. Na decisão, o desembargador Pedro Saraiva de Andrade Lemos ressalta que “a alegação de que o Sr. Sandro Avelar seria procurador dotado de poderes para transigir por dez agremiações associadas não restou minimamente comprovado pelo agravante”.

Por fim, causa surpresa a composição de eventual vice-presidência pelo Sr. Fabio Montibelo, uma vez que é também presidente do G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra e já havia enfatizado repetidas vezes em entrevistas que não ocuparia qualquer cargo em Liga por considerar tal fato “imoral”. O caso é ainda mais peculiar na medida em que o dirigente quer mandar ao lado do Sr. Wallace Palhares, presidente do G.R.E.S. Acadêmicos do Sossego durante todo o período em que a escola esteve na Série A e que nem no grupo estaria atualmente por ter sido rebaixada em 2018, como a última colocada, tendo permanecido no grupo apenas pela piedade das coirmãs.

Em síntese, a Lierj realça o compromisso com os sambistas e com as agremiações para seguir realizando o trabalho honesto e competente que tanto gerou frutos e consolidou a Série A como um verdadeiro sucesso, fato ratificado pela opinião pública e pelos parceiros que conquistou ao longo dos anos, como a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), a TV Globo e tantos outros que voltaram a acreditar em um grupo de acesso após várias décadas. A entidade garante que seguirá agindo conforme a ética e a transparência, sempre respeitando a lei e o Estatuto Social, e que tomará as providências cabíveis contra qualquer tipo de ofensa, tentativas baratas de desestabilização e acusações infundadas. A diretoria da entidade segue com total tranquilidade, pois sabe que o sambista não é bobo e sabe avaliar todos os fatos com inteligência, em vez de cair em contos ou historinhas.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

2 comentários

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  • Isso só mostra o quanto a LIERJ está desesperada,tudo leva a crer que ela ficará com O Grupo B e quem sabe voltando a Sapucaí, em 2020. aí poderemos ter isso:

    Grupo Especial – LIESA – Domingo e Segunda
    Grupo A – LigaRJ – Sexta e Sábado
    Grupo B – LIERJ – Terça
    Grupo C – LIESB – Terça (Intendente Magalhães)
    Grupo D – LIESB – Segunda (Intendente Magalhães)
    Grupo E – ACAS – Domingo (Intendente Magalhães)
    Escolas Mirins – Sexta-feira antes das Campeãs ou no Sábado antes do Carnaval, eu apostaria no primeiro.