Mangueira faz reparação histórica e anuncia enredo sobre trio de baluartes: Cartola, Jamelão e Mestre Delegado

Verde e Rosa vai homenagear três dois seus maiores nomes, dois deles ‘esquecidos’ em outros Carnavais

Cartola, Jamelão e Mestre Delegado: enredo da Mangueira de 2021 – Divulgação/Mangueira

Cobrada por deixar de homenagear na avenida dois de seus maiores nomes, a Mangueira vai reparar a suposta injustiça no Carnaval de 2021 – fora de época, quando e se acontecer em julho. A Verde e Rosa anunciou nesta quinta-feira, 17, que levará para a Marquês de Sapucaí um enredo sobre três dos mais importantes baluartes da escola e do próprio Carnaval: Cartola, Jamelão e Mestre Delegado.

Batizado como “Angenor, José e Laurindo”, título formado com os nomes de batismo de cada um, o enredo será o sexto trabalho na escola do aclamado carnavalesco Leandro Vieira, artista que, nos últimos dias, aguçou a curiosidade da turma do samba pelo último tema de desfile a ser anunciado no Grupo Especial.

A sinopse, a logo e o formato da disputa de samba serão divulgados neste sexta, 18.

Segundo o próprio carnavalesco, a Mangueira fará uma “reparação importante em sua história, quando deixou de homenagear outros dois grandes nomes que passaram em branco em seus centenários: Cartola, seu fundador e Jamelão, que através de sua voz eternizou sambas antológicos que ganharam o mundo”.

Confira:
Veja a ordem dos desfiles de 2021

Frevo e Cuiabá

Vieira se refere a dois Carnavais em que as esperadas homenagens ao compositor e ao intérprete (puxador não!) deram lugar a enredos patrocinados.

Em 2008, nos 100 anos do nascimento de Cartola, um dos fundadores da Mangueira, a escola fez um desfile sobre outro centenário, do frevo. A troca valeu um aporte financeiro de R$ 3 milhões da prefeitura de Recife – valores oficiais -, mas rendeu (e rende) um rosário de críticas. Trocar o autor de “As rosas não falam” e outros clássicos absolutos, a quem a escola deve suas próprias cores, pelo frevo foi algo tratado como um pecado quase imperdoável. Mas, sim, deve haver o perdão.

No mesmo ano, coube ao Paraíso do Tuiuti, do acesso B, equivalente ao terceiro grupo, homenagear Cartola. Um vice campeonato valeu um lugar no então Grupo A.

Cartola, em foto de 1977 – Arquivo/Estadão Conteúdo

Em 2013, no centenário de Jamelão, a Mangueira ignorou seu cantor, que empunhou o microfone da escola por incríveis 57 anos seguidos, e homenageou a cidade de Cuiabá, em troca de um patrocínio de R$ 3,6 milhões (valores oficiais) da prefeitura da capital do Mato Grosso. Na concentração, momentos antes da Manga entrar na Sapucaí, dirigentes da escola mal disfarçavam o incômodo com as perguntas dos jornalistas sobre o lapso com Jamelão.

E o intérprete não ficou sem desfile: o cantor foi o enredo da Unidos do Jacarezinho no mesmo ano, no grupo de acesso, apresentação bancada, segundo o então presidente da Mangueira, Ivo Meirelles, com o dinheiro do patrocínio cuiabano, conforme relato ao site Sambario (assista aqui).

Jamelão – Foto: Fernando Pereira/Estadão Conteúdo

Mestre

Entre os homenageados, Mestre Delegado é o menos conhecido fora da chamada “bolha carnavalesca”. Mas o legado do mestre-sala, que morreu em novembro de 2012, permanece até hoje. Agora é a hora do povo conhecer e exaltar, pelo olhar de Leandro Vieira, a importância para a folia de Delegado, que tinha esse apelido por causa da fama de “prender” as mulheres na base do papo.

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Cartola, Jamelão e Mestre Delegado
Delegado – Reprodução/Facebook

“Talvez por ser a figura menos popular do trio, foi também quem mais me despertou interesse no processo. A trajetória dele é mantida viva no boca a boca, através da oralidade no morro da Mangueira”, disse Vieira em entrevista ao jornalista Pedro Willmersdorf, do jornal O Globo, que antecipou a notícia do enredo.

Considerado um dos maiores – ou o maior – mestre-sala da história, Delegado completaria 100 anos em 2021. A homenagem, portanto, é oportuna. Pelo menos por esse centenário a Mangueira nunca será cobrada.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

1 comentário

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  • Trio fortíssimo, da nossa estação primeira de mangueira, essência pura de luz, em espirito baloartes , se eternizarão em verde e rosa na Sapucaí. Parabéns Leandro Vieira um gênio do Carnaval. Jesus Cristo salvai nos 🙏💚🙏