Mangueira desiste de provocação a Crivella e tira ‘Universal’ de samba

Mangueira 2017 – Fernando Grilli/Riotur

A Mangueira não terá mais a palavra “Universal” em seu samba de 2018. Depois de anunciar a mudança na letra na última segunda-feira, a escola decidiu voltar atrás. Com isso, o refrão retorna à versão original: “Eu sou Mangueira meu senhor, não me leve a mal”, e não mais “Eu sou Mangueira meu senhor, sou Universal”.

Segundo a agremiação, o presidente mangueirense, Francisco de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira, decidiu desfazer a mudança após ouvir segmentos da escola. A alteração, informa a Manga, foi feita numa reunião na última segunda, que não teve a participação de Chiquinho. Nela, a coordenação musical da escola fez uma votação para incluir o “Universal” na letra.

“O presidente Chiquinho da Mangueira, que não participou da reunião por estar em viagem resolvendo problemas da Mangueira, achou melhor ouvir e consultar segmentos da escola, e concluiu que a Estação Primeira não terá alteração em seu texto original que incluía a palavra ‘universal’ no lugar de ‘não me leve a mal'”, informou a escola em comunicado.

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A mudança na letra era uma clara cutucada no prefeito do Rio, Marcelo Crivella, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus. Crivella entrou em atrito com as escolas após anunciar o corte de 50% na verba destinada às agremiações, reduzindo de R$ 26 milhões (R$ 2 milhões para cada uma) para R$ 13 milhões a subvenção.

A Mangueira tratou de responder Crivella com o enredo “Com dinheiro ou sem dinheiro, eu samba”, assinado pelo carnavalesco Leandro Vieira. A ideia é repensar o Carnaval e lançar a ordem para o povo brincar, mas sem deixar de responder Crivella, que faz questão de se dissociar de tudo relativo à festa, ainda que tenha recebido apoio da maioria das escolas.

Prefeito do Rio, Marcelo Crivella – Renan Olaz/CMRJ

Veja a letra abaixo:

Compositores: Lequinho, Júnior Fionda, Alemão do Cavaco, Gabriel Machado, Wagner Santos, Gabriel Martins e Igor Leal.
Intérpretes: Ciganerey e Péricles

Chegou a hora de mudar
Erguer a bandeira do Samba
Vem a luz à consciência
Que ilumina a resistência dessa gente bamba

Pergunte aos seus ancestrais
Dos antigos carnavais, nossa raça costumeira
Outrora marginalizado já usei cetim barato
Pra desfilar na Mangueira

A minha escola de vida é um botequim
Com garfo e prato eu faço meu tamborim

Firmo na palma da mão, cantando laiálaiá
Sou mestre-sala na arte de improvisar

Ôôô somos a voz do povo
Embarque nesse cordão
Pra ser feliz de novo
Vem como pode no meio da multidão

Não… Não liga não!
Que a minha festa é sem pudor e sem pena
Volta a emoção
Pouco me importam o brilho e a renda

Vem pode chegar…
Que a rua é nossa, mas é por direito
Vem vadiar por opção, derrubar esse portão, resgatar nosso respeito

O morro desnudo e sem vaidade
Sambando na cara da sociedade
Levanta o tapete e sacode a poeira
Pois ninguém vai calar a Estação Primeira

Se faltar fantasia alegria há de sobrar
Bate na lata pro povo sambar

Eu sou Mangueira meu senhor, não me leve a mal
Pecado é não brincar o carnaval!

Eu sou Mangueira meu senhor, não me leve a mal
Pecado é não brincar o carnaval!

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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