Setor 1

Dois dos carnavalescos que assinam enredos críticos no Carnaval 2020, Leandro Vieira, da Mangueira, e Jorge Silveira, da São Clemente, mostraram esta semana um pouco do que será apresentado na Marquês de Sapucaí.

O mangueirense Vieira adiantou duas fantasias do enredo “A verdade vos fará livre”, sobre um Jesus Cristo nascido pobre na morro da Mangueira. Uma delas representa Maria Madalena com vestimentas de estética LGBT, incluindo as cores do arco íris. A ideia é associar a punição imposta à figura bíblica, o apedrejamento, ao sofrimento da comunidade LGBT causada pela intolerância.

“Quando a figura histórica de Maria Madalena ganha contornos estéticos associados a estética LGBT a conscientização sobre os crimes de ódio contra uma população que sofre na pele com a violência dos mecanismos ideológicos e repressivos passa a ser um dado artístico que leva ao debate dos direitos da minorias e de pautas que muitos pretendem tornar vazias”, publicou Vieira em seu perfil no Instagram.

A outra fantasia mostrada pelo carnavalesco, “Maria das Dores Brasil”, retrata a mãe de Cristo de forma atualizada, como as mães brasileiras que perdem os filhos por meio da violência do Estado. O figurino conta com uma releitura da bandeira do país: além das cores verde, rosa e preto, no lugar das originais, o lema “ordem e progresso” foi trocado por um “estado assassino”.

“A fantasia Maria das Dores Brasil’ é então uma tradução da mãe do Cristo ‘original’, mas também uma extensão do sofrimento de milhares de outras mães nas periferias brasileiras que tiveram filhos vítimas de políticas públicas de violência e despreparo”, explica Vieira.

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Em tom mais irreverente, Jorge Silveira revelou apenas partes de algumas fantasias do seu “O conto do vigário”, sobre trambiques e mentiras contadas no Brasil desde o tempo de colônia até atualmente – incluindo as notícias falsas, as fake news.

Foram mais de 10 fotos publicadas por Silveira em seu perfil no Facebook. Há entre elas menções ao fascínio do governo atual e apoiadores pelas armas – e a resposta dos críticos (“faz arminha que passa”) -, o truque dos sanduíches bem fotografados pelas redes de fast food e gasolina adulterada, entre outros “contos do vigário”. Até a grávida de Taubaté foi lembrada.