Mocidade anuncia enredo sobre o tempo

Pacheco (à esq.), Donner e Louzada durante apresentação do enredo de 2019 da Mocidade – Foto: Reprodução/Facebook

A Mocidade Independente de Padre Miguel anunciou nesta sexta-feira o enredo “Eu sou o Tempo. Tempo é Vida”, tema do desfile da escola para o Carnaval 2019.

A agremiação já divulgou a sinopse do enredo, assinada pelo carnavalesco Alexandre Louzada, junto de um texto de apresentação que resume a ideia.

“Mais um carnaval se apresenta. É o tempo que passa e novamente estamos aqui, carregando no peito a estrela da Mocidade Independente de Padre Miguel, que leva em seu nome a eterna juventude. Para a Mocidade, que será sempre jovem, o tempo é fonte de inspiração no carnaval de 2019. Eu sou o tempo, nós somos o tempo. Já pensou nisso? Todos construímos os nossos momentos e embalamos as nossas histórias nos braços de algo intocável, incontrolável e, por vezes, imensurável. Passa rápido, devagar, não volta, não perdoa e queremos sempre mais. Tempo é vida; a vida é o tempo. Por isso, relaxe e embarque nesse sonho com a gente. Venha aproveitar esses momentos e monte o quebra-cabeças da sua própria história. Deixe a sua mente bailar, no ar, em novos tempos. É tempo de Mocidade!”, publicou a escola.

O lançamento foi feito em apresentação com a participação do vice-presidente da agremiação, Rodrigo Pacheco, que comandou o anúncio, o presidente Wandyr Trindade, Louzada e o designer Hans Donner, que colaborou na concepção do enredo.

Segundo Pacheco, a ideia original é de Louzada, que tentava emplacar o enredo há alguns anos, e contou com a ajuda do artista alemão naturalizado brasileiro.

“Saindo um pouco do que a gente vinha fazendo. Fizemos Marrocos, Índia… Existia até uma brincadeira na internet, que faríamos a trilogia da Glória Perez. Mas a gente mudou radicalmente. Vem aí um Carnaval totalmente identificado com a escola. Mocidade com cara de Mocidade”, disse Pacheco.

“Já tentamos fazer esse Carnaval, mas não conseguimos. A partir de certo momento, o enredo voltou à pauta porque encontramos outra pessoa [Donner], que tem outro projeto, que é praticamente um enredo também. Foi um alinhamento de ideias”, narrou, falando da junção das ideias de Louzada e Donner.

“Não é que o tempo passa rápido, que todo mundo pensa. Nós é que estamos passando rápido pelo tempo. Não estamos mais valorizando os momentos que vivemos”, discursou Donner, explicando parte do enredo e dando pistas de como o tema será tratado no desfile.

Datas

A escola também divulgou as datas da entrega dos sambas e da final, que serão em 14 de julho e 15 de setembro, respectivamente. A ideia é deixar mais tempo, cerca de um mês, para a preparação da gravação.

 

Assista abaixo à apresentação:

Leia a sinopse abaixo:

Sinopse do Enredo

Eu sou o Tempo. Tempo é Vida.

Tempo, tempo, tempo, tempo…

As batidas do meu coração marcam o compasso no tambor do samba, quando ecoa o apito da partida do trem da vida, nos trilhos do tempo, caminho infinito, riscado no espaço pela cauda de luz da estrela-guia, que cria um vácuo de sonho que a ciência desafia e que invade a morada de Cronos, a antimatéria que brilha, magia, e que se comprime e se expande, se dobra, retrocede e avança, num vai e vem que se esvai e se lança numa viagem louca, do presente ao passado e, numa reviravolta, de volta para o futuro.

Tempo que aqui se define ou que nasce indefinido, num tempo quando o tempo sequer existia no mundo, fruto do Caos, num dado momento, quando o Céu se encontrou com a Terra e concebeu o titã implacável, senhor da razão e do destino, o tempo que se mede desmedindo.

Tempo que a humanidade buscou entender acompanhando a dança dos astros, bailando entre a luz e a treva, dia e noite se repetindo e se reinventado constantemente, luas e marés mutantes, pois nada é igual ao que era antes, antes de tudo mudar. Tempo de florescer, de plantar e de colher, tempo de hibernar e de buscar onde se aquecer, tempo a brotar em épocas, ritos em profusão, oferendas, estações, declarações de fé em solstícios e equinócios, sagrações da primavera em cada alvorecer.

Tempo de descobrir, marcar, calcular. Quanto tempo o tempo tem? Tempos remotos de se observar o Sol a riscar de sombra a haste sobre a terra, horas que se desenham, nas gotas da clepsidra, tempo que orna e transborda. Tempo que ocioso passeia, de cima para baixo, e que se revira nas ampulhetas – o tempo que desliza nas areias, vira-virando o mistério.

Tempos idos medidos em calendários antigos, civilizações e impérios – apogeu e queda. Tempo que do universo é o regente e que em ciclos se divide no lado de cá do ocidente, envolto em enigmas entre o povo Maia, tempo que se faz serpente. Tempo viril, “yang”, que fecunda as terras do oriente, regando de chuva o seu chão. Tempo que se faz festejado, tão aguardado, tempo mítico dragão.

Tempo que gira perverso: eis que é tempo de inventar o tempo e de se aprisionar dentro dele. Engrenagens em movimento, tic-tac, relógios, máquinas do tempo pra lá e pra cá em um pêndulo. Som das horas a despertar, o galo que já cantou. Tempo que urge, a pressa, é cedo, é tarde, é hora de trabalhar, tempo que corre, dispara, tempo que é dinheiro, aposta, notícia, tempo de vida, o tempo que de fato não para.

Tempo que jaz no tempo, repousado nas camadas de tempos passados. O tempo redescoberto, preservado em museus e livros, frases então reveladas, arquivo do tempo. Tempo que brilha em mentes a frente do próprio tempo e, tal qual uma equação, viaja anos-luz na imensidão. Ciência equilibrada em teorias que em dobras do tempo, faz o longe quase perto e se teletransporta. Ou não? Tempo virtual, memória atemporal que a tecnologia armazena no ar, nas nuvens. O que antes era ficção científica, hoje é realidade. Tempo que se congela estéril na ilha glacial, Aíon, guardião da eternidade, faz da grande geladeira a nossa herança, a esperança de preservação.

Tempo, indomável tempo, de Kairós, o fragmento, único como o sopro divino, tempo de Deus que não é medido, tempo para ser vivido, sem pressa, sem medo, vida que segue, tempo indesvendável, tempo que é segredo e árvore sagrada.

O toque da inspiração vem num estalo de tempo: a arte se faz imortal e se eterniza na memória, de geração a geração, de voltas e reviravoltas, na tela do carnaval ou em uma explosão de cor no meio desse povo, assim como a nossa escola, que atravessou os trilhos do tempo e se imortalizou na história. Tempos de glórias, descritos por seus poetas nos seus lindos sambas, das paradinhas inesquecíveis, dos seus gênios artistas que lançaram tantas cores nos seus tantos carnavais. Ela, a eterna juventude, Mocidade Independente, que carrega a estrela, que é o cosmo, como emblema, o verde da brotação que se renova e o branco da paz de espírito. É possível parar o tempo na síncope do batuqueiro. Hoje o trem que transporta o futuro, que recuperou o tempo perdido, na vanguarda, redemoinho, acelera e retorna orgulhoso, na certeza de novas conquistas – e conduz a sua gente à mais infinita alegria!

Vira-tempo no templo do samba, eis que chega o nosso momento. Uma voz ecoa na noite: “Vamos lá! A hora é essa!” Coloque a fantasia, ouça o som da bateria.

É tempo de desfilar!

Alexandre Louzada

 

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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