O samba-enredo perdeu um dos maiores compositores do gênero: o multicampeão David Corrêa morreu neste domingo, 10, aos 82 anos. A assessoria de comunicação da Portela confirmou a informação ao Setor 1.
A escola informou que, segundo relato de familiares, o Hospital Naval Marcílio Dias, onde o sambista estava internado, comunicou que a causa da morte de Corrêa foi Covid-19.
O portelense estava internado no CTI do hospital, no bairro do Lins, na Zona Norte do Rio, desde o último dia 2. Neste domingo, ele chegou a ser submetido a uma sessão de hemodiálise, mas apresentou piora no quadro de insuficiência renal e faleceu.
O sambista sofreu um atropelamento no mês passado. Passou por cirurgia no pulmão e recebeu alta.
Viúvo, Corrêa deixa cinco filhos. A família ainda não informou o local e horário do sepultamento.
Clássicos
Corrêa é autor de sambas antológicos para várias escolas, mas foi na Portela que fez história. Ele ingressou na ala de compositores da agremiação em 1972 e foi campeão já no ano seguinte. Depois seriam mais seis vitórias, que o colocariam no posto de maior campeão de disputas da escola, junto de Noca da Portela, com sete triunfos.
O compositor também assinou obras no Salgueiro (1984), Vila Isabel (1985 e 86), Imperatriz (1988), Mangueira (1994) e Estácio de Sá (1995).
Em algumas delas, Corrêa criou clássicos do gênero samba-enredo que superaram os limites do mundo do Carnaval, como “Das maravilhas do mar, fez-se o esplendor de uma noite”, para a Portela de 1981, “Skindô, skindô”, do Salgueiro de 1984, e “Atrás da verde e rosa só não vai quem já morreu”, da Mangueira de 1994, sobre os Doces Bárbaros (Gal Costa, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gilberto Gil). O samba dedicado aos baianos ganhou as arquibancadas e passou a ser cantado pelas torcidas dos times de futebol do Rio de Janeiro.
Corrêa também é um dos autores do samba de 1995 da Estácio de Sá, ano do enredo dedicado ao centenário do Flamengo.
O compositor também foi intérprete da Portela e outras escolas, desfilando como apoio inclusive de Jamelão na Mangueira. Em 1975, defendeu seu samba no desfile com Clara Nunes, Silvinho do Pandeiro e Candeia.
O trabalho de Corrêa, porém, não está restrito ao samba-enredo. Ele teve músicas gravadas por grandes nomes da música brasileira, como Elza Soares, Maria Bethânia, Reinaldo e Almir Guineto – que eternizou o sucesso “Mel na Boca”.
Corrêa também gravou seus próprios álbuns: em 1976, lançou o primeiro, “Menino Bom”. Depois viriam “Lição de Malandragem” (1981), “Pique Brasileiro” (1986) e “Chopp Escuro” (1991).
A cantora Teresa Cristina dedicou o início da sua live diária no Instagram ao compositor, cantando sambas do portelense.
“Fiquei confuso!”
Em agosto do ano passado, por causa de confusão com nomes, circulou o boato de que Corrêa havia falecido. A notícia da falsa morte se espalhou pelas redes sociais, e algumas escolas e personalidades do samba chegaram publicar notas de pesar. Tudo, porém, não passou de um mal-entendido.
Na ocasião, em contato com o Setor 1, o sambista brincou: “Fiquei confuso! Não consigo sair do telefone. Pelo menos, pela quantidade de pessoas que estão me ligando, vai ter muita gente no meu enterro”, brincou o compositor na época, já pensando no seu sepultamento. Ele nem imaginava que, meses depois, o mundo enfrentaria uma pandemia de coronavírus que proibiria aglomerações, incluindo qualquer gurufim.
Veja os sambas-enredo vencedores de David Corrêa:
Portela
1973 – “Pasárgada, o amigo do rei”
1975 – “Macunaíma, herói de nossa gente”
1979 – “Incrível, fantástico, extraordinário”
1980 – “Hoje tem marmelada”
1981 – “Das maravilhas do mar, fez-se o esplendor de uma noite”
1982 – “Meu Brasil brasileiro”
2002 – “Amazonas, esse desconhecido. Delírios e verdade do eldorado verde”
Salgueiro
1984 – “Skindô, skindô”
Vila Isabel
1985 – “Parece até que foi ontem”
1986 – “De alegria cantei, de alegria pulei, de três em três pelo mundo rodei”
Imperatriz
1988 – “Conta outra que essa foi boa”
Mangueira
1994 – “Atrás da verde e rosa só não vai quem já morreu”
Estácio de Sá
1995 – “Uma vez Flamengo…”
Ouça: Podcast Samba Leal, do jornalista Eugênio Leal, com uma entrevista de David Corrêa feita em setembro de 2008
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