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Morre Laíla, um dos maiores do Carnaval, aos 78 anos

Laíla e Iemanjá, em foto de 2020 – Romulo Tesi

Com BandNews FM Rio

Morreu nesta sexta-feira, 18, um dos nomes mais importantes da cultura brasileira, o sambista e diretor de Carnaval Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o Laíla, aos 78 anos.

Laíla faleceu após ficar internado por cinco dias no Hospital Israelita Albert Sabin, no Maracanã, na Zona Norte do Rio. A informação foi confirmada pela mulher dele, Marli da Silva Ribeiro, com quem Laíla era casado havia 56 anos.

O sambista foi hospitalizado após apresentar sintomas da Covid-19. Ele testou positivo para a doença e ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva.

Laíla chegou a melhorar nesta quinta-feira, 17, e tinha expectativa de ser transferido para a enfermaria.

O diretor já tinha recebido as duas doses da vacina Coronavac.

As histórias do Carnaval brasileiro e de Laíla se misturam, e é impossível contar uma sem falar do outro. Dominou como poucos arte – ou ciência – de colocar uma escola de samba na avenida, seja qual fosse. Tinha obsessão pelos quesitos de chão – harmonia e evolução, principalmente -, e não raro foi apontado como o principal responsável pelos resultados das escolas pelas quais passou.

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O sambista tinha fama de ser um pessoa sisuda, muito séria e de poucos sorrisos. Em entrevista ao Setor 1 em janeiro de 2020, Laíla comentou.

“Não é tipo. Eu sou assim desde pequeno”, disse.

Em 2020, Laíla foi diretor de carnaval da escola de samba União da Ilha do Governador, que acabou sendo seu último trabalho em uma escola de samba.

Laíla, pelo artista MAM

O diretor é muito identificado com a Beija-Flor de Nilópolis, escola pela qual conquistou oito vezes o título de campeão dos desfiles do Grupo Especial.

“A Beija-Flor declara luto oficial por Laíla. Que o nosso eterno griô e ex-diretor de Carnaval, descanse em paz. Gratidão!”, publicou a escola nilopolitana no Twitter.

Na agremiação, participou dos primeiros campeonatos, na década de 1970, quando a escola despontou como uma das potências do Carnaval e estabeleceu um novo padrão de luxo e opulência.

No fim dos anos 1990, na mesma Beija-Flor, transformou definitivamente a forma de desenvolvimento dos desfiles, criando a Comissão de Carnaval no lugar da figura do carnavalesco único. A fórmula deu certo: a escola dominou as disputas, sobretudo nos anos 2000, e esteve praticamente sempre nas primeiras posições.

A forma de desfilar da Beija-Flor, de muito canto forte, firmado na base de muitos ensaios, moldou os desfiles e virou padrão para outras. Não por acaso, no seu último ano em Nilópolis, foi apontado como o principal responsável pelo título conquistado “no chão”, como a turma do samba se refere às apresentações com canto e evolução fortes. Foi mais um ano do chamado “rolo compressor” nilopolitano.

Sua origem, porém, é o Salgueiro, onde participou da chamada revolução salgueirense, atuando em diversas áreas e com nomes como Fernando Pamplona e Joãosinho Trinta.

Laíla ainda trabalhou em outras escolas como Unidos da Tijuca, Grande Rio, Peruche e Águia de Ouro – as duas últimas em São Paulo -, sempre com passagens marcantes.

Ao todo foram 17 títulos de Grupo Especial.

Compositor, cuidava com esmero das disputas de samba. Algumas vezes, em busca da melhor obra possível para o desfile, juntava dois, três ou até quatro sambas para chegar ao resultado desejado. Suas junções entraram para a história, como fez em 1993, na Grande Rio, no chamado “No mundo da Lua”.

Durante anos também comandou a gravação das faixas dos discos oficiais de samba-enredo, deixando sua marca em mais um segmento do Carnaval. E foram muitas.

Vascaíno, frequentou, enquanto pôde, o estádio de São Januário para ver o time do coração. E era dos torcedores mais “corneteiros”.

“Com tristeza recebemos a notícia do falecimento de Laíla, vascaíno e diretor de carnaval. Desejamos muita força aos familiares e amigos neste momento. Quando se vai um torcedor nosso, se vai um pedacinho da gente”, publicou o clube.

Laíla também era um homem de fé inabalável. Ao ponto de sempre incluir componentes espirituais entre as causas de problemas de saúde, como contou ao blog.

“Falo categoricamente: a minha fé e religião que me tiram dos problemas. Há pessoas que te fazem mal sem você saber, mas minha fé é muito grande. Não saio de casa sem rezar. Eu chego aqui [barracão] e, se estiver acontecendo alguma coisa, lá na porta eu já estou sabendo”, garantiu Laíla, seguidor da umbanda, frequentador assíduo do centro espírita e que se dizia um “filho de Xangô osso duro de roer”.

Em 2019, após comandar o desfile do Águia de Ouro, em São Paulo, prometeu trabalhar até morrer.

“Não sei quando pararei… Na hora que papai do céu me levar… Mas quero trabalhar até a última gota. Enquanto eu tiver força, vou trabalhar. Eu ainda tenho muito para dar, tenho certeza disso”, declarou, sem segurar as lágrimas.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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