Morreu nesta quinta-feira, 27, no Rio de Janeiro, o sambista Nelson Sargento, aos 96 anos. Um dos maiores nomes da música brasileira, presidente de honra da Mangueira, Nelson faleceu vítima da Covid-19. As informações são da BandNews FM.
O mangueirense estava internado desde a última sexta-feira, 21, no Inca. O caso se agravou nesta quarta, e Nelson precisou ser intubado, mas não resistiu. Ele foi um dos primeiros vacinados do país contra o coronavírus.
Nelson deixa a mulher, Evonete Belisario Mattos, e seis filhos: Antônio Fernando, Marcos Vinicius, Jose Geraldo, Leo Mattos, Ricardo Mattos, Ronaldo Mattos, além de netos e bisnetos. O sambista teve ainda o filho Nelson Luis, já falecido.
“A família e a equipe de Nelson comunicam, com pesar e tristeza, o falecimento do mestre, baluarte e Presidente de honra da Mangueira, Nelson Sargento ocorrido hoje, às 10h45, no hospital do Inca – Unidade Cruz Vermelha, no Rio de Janeiro, por complicações da Covid 19”, comunicou a equipe do compositor.
Por causa da pandemia de coronavírus, a família decidiu não realizar velório. O corpo do artista será cremado em cerimônia restrita à família, nesta sexta, 28, às 13h30, no Cemitério do Caju.
Mais do que compositor sambista, Nelson foi um defensor do gênero, e deixou de herança para a MPB o hino “Agoniza Mas Não Morre”, sobre o ritmo que moldou a própria cultura do país. Foram mais de 400 sambas escritos em toda a vida.
“Com grande pesar informamos que nosso presidente de honra, Nelson Sargento, nos deixou essa manhã. Sua partida deixará saudades em todos os amantes do samba e da cultura brasileira. A semente plantada por ele rendeu frutos que estarão eternizados junto à certeza de que “O samba agoniza, mas não morre” jamais. Vai amigo Nelson, com seu jeito fino e elegante, se juntar a Cartola, Nelson, Jamelão e outros bambas, fazer uma roda de samba e olhar por nós”, publicou a Mangueira no Instagram.
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Nos últimos anos, desfilou em posições de destaque na Mangueira. No último Carnaval, em 2020, Nelson, católico, cruzou a Marquês de Sapucaí como José, no enredo dedicado a Jesus Cristo.
No ano anterior, foi campeão com a Mangueira desfilando como Zumbi dos Palmares, no desfile sobre personagens esquecidos pela história oficial do Brasil – enredo assinado pelo carnavalesco Leandro Vieira.
Na ocasião, desfilou sentado em um trono, ao lado de Alcione, que representou a esposa de Zumbi, Dandara.
Nascido Nelson Mattos, em 1924, o sambista somou ao nome a última patente ao deixar o Exército. Apesar de mangueirense, foi cria do Salgueiro, onde teve o primeiro contato com o samba. Após a morte do padrasto, mudou-se com a mãe para o morro da Mangueira aos 12 anos, ingressando na ala de compositores da Estação Primeira aos 18.
Nelson esteve em todas, literalmente. Trabalhou como pintor de paredes na juventude, e foi um homem dedicado à arte, atuando como cantor, compositor, artista plástico, ator e escritor – um “artista quase completo”, como o próprio dizia, sem falsa modesta.
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Na escola do coração, venceu a primeira disputa de samba em 1949, com o padrasto Alfredo Português. Ao lado do parceiro – português de Lisboa, também pintor de paredes – Nelson fez “Apologia aos mestres”. Foram campeões de novo no ano seguinte, com “Plano Salte”.
Voltariam a vencer novamente em 1955, reforçados por Jamelão, com o clássico “Cântico à natureza”, também conhecido como “Primavera”.
Em toda a vida de militância no samba, foi parceiro dos maiores, com destaque para Cartola e Carlos Cachaça. Também assinou músicas com Wilson das Neves, Darcy da Mangueira, Daniel Gonzaga (filho de Gonzaguinha), entre outros.
Integrante do grupo “A Voz do Morro”, formado por Zé Keti na década de 1960, se apresentou com os outros bambas Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, José da Cruz e Anescarzinho. A criação do conjunto significou a primeira chance de compositores registrarem seus sambas.
O primeiro álbum só foi gravado em 1979, após o sucesso de “Agoniza Mas Não Morre” na voz de Beth Carvalho. “Sonho de um sambista” foi lançado quando Nelson tinha 55 anos, disco produzido por João Carlos Botezelli, o Pelão, que já havia gravado os primeiros álbuns de Cartola.
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No cinema, atuou em filmes de grandes diretores. Esteve em “O Primeiro Dia”, de Walter Salles e Daniela Thomas, e “Orfeu”, de Cacá Diegues. Protagonista do curta “Nelson Sargento da Mangueira”, de Estêvão Pantoja, ganhou o Kikito do Festival de Gramado de Melhor Curta e Melhor Trilha Sonora.
Escreveu dois livros: “Prisioneiro do Samba” e “Um certo Geraldo Pereira”, sobre o famoso sambista, com quem conviveu.
Também se dedicou com paixão as artes plásticas, tendo inclusive exposto suas obras, que incluem pinturas figurativas e abstratas.
Nelson também era apaixonado pelo Vasco da Gama, seu time do coração. Recentemente foi homenageado pelo clube, que o presenteou com uma camisa comemorativa ao aniversário da chamada “Resposta Histórica”, quando o Vasco não se submeteu à pressão da federação carioca de futebol da época para a exclusão de jogadores negros e pobres. Nelson inclusive nasceu no mesmo ano do episódio, decisivo para o próprio futebol brasileiro.
Para o Vasco, escreveu o samba “Casaca, Casaca”, onde ressaltava a luta do clube contra o racismo. “Vasco da Gama, baniu o preconceito, em nome do direito, dando razão a razão”, diz a letra.
“É com profunda tristeza que recebemos a notícia do falecimento de um dos grandes nomes da história do samba e um grande amigo do Vasco, Nelson Sargento. Desejamos muita força aos amigos, familiares e fãs neste momento de profunda dor”, publicou o clube.
Nelson teve sete filhos, sendo seis biológicos e um adotado, mas deixa órfã uma torcida numerosa de fãs apaixonados pela obra do sambista de maior patente do Brasil.
Como diz o samba “Flores em Vida”, escrito por Moacyr Luz e Aldir Blanc em homenagem a Nelson Sargento, citando outro Nelson, o Cavaquinho, “despedida não dá nenhum prazer”.
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