Morre o sambista Almir Guineto, aos 70 anos

Almir Guineto - José Patrício/Estadão Conteúdo

Morreu na manhã desta sexta-feira, aos 70 anos, o sambista Almir Guineto. O músico estava internado no Hospital Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde se tratava de problemas renais e diabetes, que enfrentava há 15 meses.

Em comunicado no Facebook, a família divulgou a notícia do falecimento e agradeceu pelas orações e carinho dos fãs.

Nascido e criado no Salgueiro, Guineto tem raízes no samba, estilo que ajudou a transformar. Seu pai, Iracy Serra, foi um dos mais importantes compositores do Acadêmicos do Salgueiro; a mãe, Nair de Souza, a Dona Fia, era costureira e integrante da ala das baianas, figura de destaque na escola; um dos seus irmãos, Chiquinho foi um dos fundadores do grupo Originais do Samba (do qual Almir integraria durante um tempo); e outro, Mestre Louro, comandou a bateria salgueirense por mais de 30 anos, alguns deles tendo Guineto ao lado.

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No samba fora das quadras é que Guineto construiu sua carreira e marcou época. Frequentador do Cacique de Ramos, o sambista foi um dos fundadores do grupo Fundo de Quintal, no fim da década de 1970, com Bira, Jorge Aragão, Neoci, Sereno, Sombrinha e Ubirany. Lá, sob a sombra da tamarineira, ajudou a criar a sonoridade do que passou a se chamar de pagode, inclusive com a invenção do cavaco-banjo. O instrumento, muito usado até hoje, contava com corpo de banjo e braço de cavaco. O samba nunca mais seria o mesmo.

Primeira formação do Fundo de Quintal, com Almir Guineto (à esquerda) e seu cavaco-banjo – Reprodução

Ao serem descobertos pela madrinha Beth Carvalho, Almir e a turma do Cacique ganharam o Brasil.

Logo depois partiu em carreira solo, no início da década de 1980, quando se notabilizaria de vez como um dos maiores nomes do samba do país. O primeiro disco, “O suburbano”, contava com músicas de sua autoria e de outros compositores. “Sorriso novo”, de 1985, seria outro sucesso comercial.

O sambista é autor de sucessos como como “É, pois é” (com Luverci Ernesto e Luís Carlos), “Mordomia” (com Ari do Cavaco e Gracinha) e o clássico “interplanetário” absoluto “Coisinha do pai”, com (Jorge Aragão e Luís Carlos). Em 1997, a música ganhou o espaço, ao ser usada pela engenheira brasileira da Nasa Jacqueline Lyra, para “acordar” o robô Pathfinder, que explorava o solo de Marte.

Guineto gravou dezenas de sucessos, cantados desde sempre pelos fãs brasileiros, ricos e pobres, de todo o país, como “Caxambu”, “Conselho”, “Insensato Destino” e “Mel na boca” (É mentira/Cadê toda promessa de me dar felicidade/Bota mel em minha boca/Me ama, depois deixa a saudade/Será…).

Em São Paulo, para onde se mudou em 1979, Almir Guineto também gravou seu nome no samba da cidade.  O compositor é autor, com Luverci, de “À luta, Vai-Vai”, que se tornaria uma espécie de samba-exaltação da escola e que seria gravado por Beth Carvalho. Na agremiação do Bixiga, ganhou dois sambas de enredo: em 1979 e 1980.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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