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2º turno do Rio resume 4 anos de briga no Carnaval e pode ser decisivo para escolas de samba

Crivella com dirigentes das escolas de samba durante campanha eleitoral de 2016

O segundo turno das eleições para prefeito do Rio de Janeiro pode ser um grande “tudo ou nada” para pelo menos um “partido”: o do Carnaval. Os eleitores cariocas levaram para a reta final da disputa dois candidatos que, em matéria de folia, estão em campos diametralmente opostos.

De um lado, o atual prefeito, Marcelo Crivella, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, que passou praticamente todo os seu mandato em um empenho pessoal de esvaziar os desfiles das escolas de samba. Do outro, o ex-prefeito Eduardo Paes, de gestões generosas com as agremiações e que fazia questão de não só apoiar, como participar da festa.

A maior parte das escolas declarou apoio a Paes durante a campanha, num gesto tão óbvio quanto contrito, dada a experiência delas em quatro anos sob gestão Crivella. Sem falar no que boa parte do povo do samba encara como uma traição.

O portelense Eduardo Paes na Sapucaí em 2012 – Nelson Perez/Riotur

Uma escolha difícil

Em 2016, durante a campanha eleitoral, as escolas apoiaram Crivella contra Marcelo Freixo. Em um ato simbólico, que assombra até hoje os dirigentes do Carnaval, o candidato evangélico cantou “pega no ganzê” e posou com algumas dos figurões da cartolagem carnavalesca, como o presidente da liga, Jorge Castanheira, e o então comandante da Mangueira, Francisco de Carvalho.

Era de conhecimento até das esculturas dos barracões a falta de compatibilidade de Crivella, por questões óbvias, com o samba. Mas o povo deu “10, nota 10” para o bispo contra o candidato que pretendia, por exemplo, restringir verbas para desfiles patrocinados. Para os dirigentes das escolas, não era uma escolha difícil.

Crivella assumiu em janeiro de 2017. Em junho do mesmo ano, o então presidente da União da Ilha, Ney Filardi, antecipou o anúncio do corte de verba para as escolas e explanou o prefeito, que logo depois confirmou a tesourada: a subvenção de R$ 2 milhões por agremiação seria reduzida pela metade. E depois, ano após ano, o valor foi sendo reduzido até ser zerado em 2020. Motivo alegado: aumentar as diárias das creches conveniadas.

Chiquinho, que chegou a ser preso na Operação Furna da Onça, arrependeu-se logo em 2018. “Erramos”, disse Chiquinha em fevereiro daquele ano, em entrevista ao Setor 1.

“A gente acreditou no Crivella. Ele foi à Liesa, declarou apoio, garantiu manter o que o ex-prefeito repassava, que ele quebraria o preconceito, que provaria que a religião não tem a nada a ver com a questão do Carnaval… Infelizmente não cumpriu nada do que prometeu”, disse o deputado estadual na época.

‘Judas’ de Crivella no desfile da Mangueira de 2018 – Ide Gomes/Framephoto/Estadão Conteúdo

Bebê parrudo x bebês das creches

Na campanha, Crivella manteve a coerência e tratou o Carnaval da mesma forma como fez durante a gestão: como algo caro, um sem retorno financeiro para a cidade, um “bebê parrudo que precisa ser desmamado”, numa imagem que repetiria por várias vezes. Mesmo que a Riotur, empresa municipal responsável pela festa, comemorasse toda quarta-feira de Cinzas os bilhões movimentados nos dias de Momo.

Por isso, em 2020, não houve margem para se cogitar um apoio a Crivella em quadras e barracões, mas a experiência de 2017 não deixou as escolas mais cabreiras. Pelo contrário: quase todas de Grupo Especial e Série A declararam alinhamento automático a Paes, cuja eleição é tratada como algo quase messiânico. Ele, por sua vez, pelo menos publicamente, não garantiu o retorno da subvenção aos padrões de 2016.

“A questão central não é subsídio. Carnaval precisa de respeito institucional, carinho, apoio e organização do prefeito”, disse Paes em sabatina da Rádio Arquibancada, antes do início oficial da campanha.

Agora, com Crivella do outro lado, as escolas terão pouca margem para negociar seu apoio. Na teoria, é um “tudo ou nada”, mas que num cenário de crise pós-pandemia pode virar um “pouco ou nada”.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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