Candidato único ao posto, Jorge Perlingeiro será – se tudo acontecer dentro do script – eleito o novo presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) na noite desta quinta-feira, 18. A plenária com os presidentes das agremiações é apenas uma formalidade para aclamar o nome indicado pelos líderes do Carnaval carioca, grupo em que desponta Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, autor do convite.
“Eu não aceitei de pronto, levei uns dias até aceitar esse desafio, com muita honra e muito orgulho”, disse Perlingeiro ao Setor 1, que se nega a falar como presidente antes da noite desta quinta, quando será eleito o substituto de Jorge Castanheira, no cargo desde 2007.
Junto de Guimarães, Perlingeiro faz parte da gestão inaugural da Liesa, em 1984. O primeiro cargo foi como assessor do então presidente Castor de Andrade, cuja vida e obra foi contada pela elogiada série documental “Doutor Castor”, da plataforma de streaming Globoplay. Agora, à frente da entidade, vai encarar a maior crise já enfrentada pelo Carnaval.
A pandemia de Covid-19 paralisou quadras e barracões, cancelou o Carnaval de 2021 e deixou sem sustento os trabalhadores que vivem da festa – muitos destes sem qualquer vínculo formal com os empregadores.
“Estou na torcida para que essa vacina chegue o mais rápido possível, porque é ela que vai tirar e gente dessa coisa horrível que está acontecendo”, declarou Perlingeiro, que, aos 76 anos, já recebeu a primeira dose da vacina contra a Covid-19 – a segunda está prevista para o dia 7 de abril.
O cenário é desalentador, mas há pelo menos uma boa notícia. Superada a gestão Marcelo Crivella, que cortou verbas e atuou deliberadamente contra os desfiles, a cidade é governada agora por um prefeito próximo do Carnaval: o portelense Eduardo Paes promete uma festa grandiosa em 2022 e acena com o apoio necessário, incluindo a volta da subvenção às agremiações. Além disso, em âmbito estadual, há uma manifestada boa vontade do governador Cláudio Castro em cooperar.
Mas Perlingeiro quer subir um nível nas relações do Carnaval carioca e estuda uma aproximação com o governo federal. Mesmo com uma possível influência contrária da ala mais conservadora de Brasília. Para o futuro presidente da Liesa, a importância cultural e econômica do Carnaval para o país fará o presidente Jair Bolsonaro pensar de forma republicana.
“Tenho certeza que o presidente da República [Jair Bolsonaro] tem o maior interesse em nos ajudar, mas não com o ‘pires na mão’. É abrindo portas, fazendo parcerias, porque sabem que nós somos importantes para que o país receba milhões de turistas”, prevê.
Autor de bordões famosos, como “Só se for agora”, Perlingeiro se tornou também a voz oficial das apurações, quando lê as notas atribuídas pelos jurados às escolas de samba. Para a voz da apuração, o evento precisa mudar.
Entre as mudanças sugeridas por Perlingeiro estão a troca de local, passando para uma grande casa de espetáculos, com ar refrigerado, bufê e um número definido de torcedores de cada escola, e a mudança de horário, com a última nota sendo lida já dentro do Jornal Nacional, da TV Globo.
“Eu posso ao menos sugerir. Já falei duas vezes com o Boninho [José Bonifácio Brasil de Oliveira, diretor da Globo]”, diz Perlingeiro, reforçando que são apenas sugestões, não uma proposta concreta.
Em 2021, Perlingeiro completaria 30 anos de leitura de notas, mas a marca acabou adiada para 2022. E ele garante que, assumindo a presidência, vai continuar lendo as notas.
“Se não fosse dessa forma estava arriscado eu não aceitar ser presidente”, brincou.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista:
INDICAÇÃO
Fiquei muito feliz e honrado com a indicação do meu nome para a presidência da liga. Nunca me passou pela cabeça. Sempre me dediquei ao Carnaval, como fiel escudeiro de todos os presidentes, como um apaixonado pela festa, mas sempre atuei na parte artística, porque sempre fui um comunicador.
POR QUE PERLINGEIRO?
Minha presença no Carnaval deve ter pesado um pouco na escolha do meu nome, mas também minha isenção. Nada contra, mas acho que um presidente de escola de samba não deve ser presidente da liga. Não é que vai haver má fé, mas é algo complicado. Todos sabem que sou Vila Isabel, mas nunca puxei a sardinha para a escola. Minha vivência no Carnaval.
CONVITE
Foi na casa do Capitão Guimarães, há cerca de um mês. Eu não aceitei de pronto, levei uns dias até aceitar esse desafio, com muita honra e muito orgulho.
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SEM DISPUTA
Colocaram meu nome junto de outros 13 ou 14, e dizem que o meu foi o único que não teve rejeição. A liga não tem na sua história eleição com disputa de chapas.
CRISE
Sei das dificuldades que vem por aí, e não são poucas. A gente se encontra no pior momento da história, com um grande agravante, que não sabemos quando vai acabar. Estou na torcida para que essa vacina chegue o mais rápido possível, porque é ela que vai tirar e gente dessa coisa horrível que está acontecendo.
É um momento grave de saúde e também econômico, com gente perdendo emprego, casa, perdendo tudo. E o Carnaval está inserido na realidade da cidade, do país. Mas estou muito esperançoso de que vamos fazer Carnaval em fevereiro. Isso eu posso adiantar: será o Carnaval mais Concorrido de todos os tempos, porque ninguém nunca passou dois anos sem o Carnaval. Os ingressos vão evaporar em questão de horas. E vamos desinterditar a Cidade do Samba o mais rápido possível.
GOVERNO FEDERAL E APOIO DO PODER PÚBLICO
Não duvido [do apoio]. O Rio de Janeiro é uma grande vitrine para o turismo. Tenho certeza que o presidente da República [Jair Bolsonaro] tem o maior interesse em nos ajudar, mas não com o pires na mão. É abrindo portas, fazendo parcerias, porque sabem que nós somos importantes para que o país receba milhões de turistas. Em São Paulo as escolas têm isenção de ISS [Imposto sobre Serviços]. Isso representaria R$ 5 milhões no Rio de Janeiro. Essa é a ajuda que a gente quer. Toda verba que vier, da forma que vier, é bem-vinda.
DINHEIRO
Nós precisamos de muito dinheiro para fazer um grande espetáculo. O povo que paga o ingresso quer ver isso. Acabou aquele Carnaval tradicional, da comissão de frente com a velha guarda, que tira o chapéu… Isso é muito bonito, respeito, peguei nessa época, mas o Carnaval evoluiu. Hoje é um grande espetáculo. E fazer isso não é barato.
JORGE CASTANHEIRA
Sei do trabalho dele e da competência dele, e espero dar continuidade, só que de forma diferente. Parabenizo muito o Jorginho. Ele começou quase como um [office] boy dentro da instituição e chegou brilhantemente ao um período de quase 17 anos de liderança. Só temos formas diferentes de administrar.
LEITURA DAS NOTAS
Vou continuar lendo as notas. Aliás, lendo não. Eu interpreto. Se não fosse dessa forma estava arriscado eu não aceitar ser presidente [risos]. Não sou nenhuma estrela, mas isso é uma coisa que me identifica. As pessoas me param na rua gritando “nota 10” ou pedindo para falar a nota de determinada escola. Faço muita questão de, mesmo presidente, se eu for eleito, continuar fazendo o meu trabalho. Se não para mim não tem mais Carnaval. Eu completaria 30 anos de apuração em 2021, então quero atingir essa marca em 2022, nem que seja a última vez.
APURAÇÃO
Infelizmente não é grande. Para mim, o filé mignon do Carnaval é a apuração. Tinha que ser uma coisa mais bonita, num lugar melhor, numa casa de shows, com horário melhor, perto do Jornal Nacional [da TV Globo], com mais brilho, com torcedores de todas as escolas na plateia. Eu prepararia um grande espetáculo, não aquela coisa acanhada, com aquelas barraquinhas safadas na Apoteose, com um calor 40° às 3h45 da tarde. A emissora [TV Globo] que compra o evento quer dessa forma, e a gente respeita. Essa é uma opinião minha, não estou fazendo críticas à emissora. Eu posso ao menos sugerir. Já falei duas vezes com o Boninho [José Bonifácio Brasil de Oliveira, diretor da Globo].
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