O presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Jorge Perlingeiro, esteve com o secretário de Cultura do governo federal, Mário Frias, nesta quinta-feira, 30. O encontro aconteceu no gabinete de Frias, em Brasília, e contou também com a participação do deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ). Na pauta, o apoio do governo Jair Bolsonaro aos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro.
De acordo com notícia publicada no site da Liesa, o “apoio institucional deverá se concretizar na próximo dia 13”, data em que Perlingeiro deve retornar a Brasília para novo encontro com Frias. O texto não informa como será o apoio, e diz somente que, na próxima reunião, o presidente da liga e Frias “analisarão projetos que poderão merecer a chancela do Governo Federal”.
A publicação informa ainda que Perlingeiro falou com Frias sobre a “necessidade de uma revitalização da Cidade do Samba, objetivando transformá-la num novo centro de cultura e turismo para o Rio de Janeiro”.
Em declaração divulgada pela Liesa, Perlingeiro afirma ter convidado Frias e o presidente Bolsonaro para os desfiles na Marquês de Sapucaí no Carnaval de 2022.
“Levamos alguns livros que mostram os bastidores do espetáculo e convidamos o Secretário para assistir aos desfiles do Grupo Especial, em fevereiro. Pedimos que estendesse o nosso convite ao Presidente da República”, disse o presidente da Liesa.
Caso Frias e Bolsonaro aceitem o convite, poderão assistir, entre outras apresentações, a desfiles dedicados a orixás – casos de Grande Rio, com Exu, e Mocidade, com Oxossi -, à cultura e luta dos povos negros – como Paraíso do Tuiuti, Salgueiro, Beija-Flor e Portela -, e uma homenagem da Vila Isabel a Martinho da Vila, que teve sua biografia retirada do site da Fundação Palmares, órgão do governo federal.
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A aproximação da Liesa ao governo federal no momento em que o Bolsonaro enfrenta uma crise política e econômica, alvo de denúncias na CPI da Pandemia, não chega a ser uma surpresa. Em março deste ano, pouco antes de assumir a presidência da Liesa, Perlingeiro disse ao Setor 1 que pretendia tornar o governo federal um aliado do Carnaval do Rio.
“O Rio de Janeiro é uma grande vitrine para o turismo. Tenho certeza que o presidente da República [Jair Bolsonaro] tem o maior interesse em nos ajudar, mas não com o pires na mão. É abrindo portas, fazendo parcerias, porque sabem que nós somos importantes para que o país receba milhões de turistas. Em São Paulo as escolas têm isenção de ISS [Imposto sobre Serviços]. Isso representaria R$ 5 milhões no Rio de Janeiro. Essa é a ajuda que a gente quer. Toda verba que vier, da forma que vier, é bem-vinda”, disse Perlingeiro na ocasião.
No entanto, alguns bolsonaristas mais conhecidos já se posicionaram anteriormente contra o Carnaval e o repasse de verba para a festa.
Um deles é o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), que, quando era vereador do Rio, chegou a dizer, em discurso na Câmara, que o Carnaval é “culto a orixás com dinheiro público e fonte de lucro para tráfico e prostituição”.
Na CPI da Pandemia, os governistas, por diversas vezes, tentaram relacionar a explosão de casos de Covid-19 à realização do Carnaval de 2022.
Outro apoiador de Bolsonaro, Marcelo Crivella teve sua gestão como prefeito do Rio marcada pelos seguidos cortes de verba para o Carnaval – no último ano, em 2020, não houve subvenção para as escolas de samba. Além disso, Crivella criticava a festa publicamente e chegou a promover uma campanha institucional da prefeitura contra os repasses.
O próprio presidente nunca se demonstrou um entusiasta do Carnaval. E algumas escolas fazem oposição aberta ao presidente, inclusive nos desfiles e nos sambas. Em 2020, a Acadêmicos de Vigário Geral, do acesso, levou para a Sapucaí uma alegoria com uma escultura de palhaço semelhante ao personagem Bozo (um dos apelidos dados a Bolsonaro pelos opositores) com faixa presidencial (foto abaixo).
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