Clipe sobre sambista da Portela que visita o próprio velório viraliza na web e conquista fãs

A corrida para ter um samba campeão numa escola de samba atingiu um novo patamar na temporada 2022-23 – especificamente na seara dos clipes. Se tradicionalmente as parcerias fazem vídeos apenas para ilustrar as letras, a turma do compositor Valter da Silva Filho, o Valtinho Botafogo ousou: investiu em dramaturgia para contar a história do sambista que morre e encontra os baluartes da Portela no além.

“Parti feliz ao comemorar mais uma estrela”, diz a letra da obra, que disputa a honraria de servir de trilha para o desfile sobre o centenário da Portela, no Carnaval de 2023.

Veja a ordem dos desfiles de 2023

O vídeo viralizou nas redes sociais na chamada bolha carnavalesca e arrebatou fãs, que espalharam o clipe nos aplicativos de mensagens e suas respectivas figurinhas de Whatsapp.

“Tá uma loucura”, diverte-se Valtinho, um dos compositores do samba, autor da ideia do clipe com os parceiros e protagonista do curta-metragem.

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Com a obra concorrente como canção original, o filme conta a história do sambista que morre durante a comemoração do título da Portela. Em outro plano espiritual, Valtinho encontra com Paulo da Portela, Clara Nunes, Dodô e outros baluartes, que entregam ao recém-desencarnado a inspiração para a composição de um samba sobre a escola.

Gurufim portelense

O compositor visita o próprio velório, participa do gurufim – regado a cerveja e samba, claro -, revê amigos e afaga os cabelos da viúva chorosa – vivida pela própria esposa de Valtinho, Camila Lúcio, da harmonia portelense, que atuou como uma espécie de assistente do diretor, o próprio intérprete Zé Paulo Sierra.

A cena em que Valtinho “morre” durante a festa do título portelense (atenção para o copo de cerveja na mão) – Reprodução

“Ele que dirigiu as pessoas, dizendo como fazer nas cenas, e eu ajudava”, diz Camila, que, como fã de vídeos curtos de Tik Tok e séries das plataformas de streaming, incentivou o marido e o restante da parceria a abraçar a ideia.

Ela admite que mal conseguia esconder o riso com a brincadeira. Isso diante de um concentrado Valtinho, ciente da responsabilidade do papel principal. Inclusive deitado no velório com as narinas tampadas com algodão, um dos pontos mais comentados do clipe.

“Dá pra ver no vídeo que eu mal consigo segurar [o riso]”, lembra Camila.

Cena polêmica

A cena do velório foi de longe a mais polêmica do filme. Tudo porque parte dos figurantes simplesmente se negou a “brincar com coisa séria”.

“Uma amiga não quis participar, mas tudo bem, respeitamos”, revela Valtinho, que contou com o apoio dos amigos para formar o elenco.

A polêmica cena do velório – Reprodução

Paulo da Portela, por exemplo, foi vivido por um passista da Águia, Arthur Santos. Nice, funcionária da escola, interpretou a porta-bandeira Dodô. E a passista Juliana Alves foi Clara Nunes, usando o mesmo figurino do ensaio técnico de 2019, quando a cantora foi enredo da Portela.

O orçamento do filme foi de R$ 2 mil, e as filmagens levaram três dias, tendo como locações a quadra da agremiação e o estúdio no bairro de Pilares. A edição foi de Wagner Rodrigues.

“Eu nunca tinha feito nada parecido. Nunca tinha atuado em nada”, destaca Valtinho, bicampeão na Portela, em 2019 e 2020.

Alerta de spoiler

O ponto alto do filme – o plot twist – é protagonizado pelo casal, quando Camila acorda Valtinho do sono. O compositor, assustado, percebe tudo não passou de um sonho, e sai correndo para entregar o samba para a disputa da Portela.

“Nãããooo!!!”, grita Valtinho ao despertar. “Nossa, tive um sonho estranho. Que dia é hoje?”, pergunta, atônito.

“Dia 2”, responde Camila.

“Meu Deus, eu tenho que entregar o samba da Portela!”, responde, exaltado. “Deixa eu ir, deixa eu ir”, repete, enquanto pega uma roupa e sai em disparada.

O desfecho da trama, porém, é diferente do narrado na letra, em que o personagem se torna “mais um bamba imortal”, que antecedem os versos “Num samba de Monarco e Alvaiade/Encontro a luz celestial”.

No vídeo, Valtinho fica bem vivo, compondo com os parceiros e adiando o gurufim. Até porque a disputa começa dia 14 de agosto.

Veja a letra e a ficha completa:

Compositores: Valtinho Botafogo, Beto Aquino, Phabbio Salvatt, Pecê Ribeiro, Rosinata Santana e D’sousa
Apoio especial: Manuel Tunholi

Intérpretes: Zé Paulo Sierra e Diego Nicolau

Vídeo : Wagner Rodrigues

Parti feliz
Ao comemorar mais uma estrela
No esplendor da quarta feira
Cheguei ao céu
Não pude definir aquele azul
Meus olhos não puderam decifrar
Foi quando Paulo veio ao meu encontro, a “claridade”me fez enxergar
Das pedras vi o amor nascer e no quintal desabrochar
Portela de oswaldo cruz e madureira
Rufino, Natal e Candeia Estrelas cintilantes do lugar

Pega no cavaco Ari
Canta mais um samba Davi
E eu vendo tudo de lá
Sera de fato o infinito ?
Só sei que não quero acordar…

“Nessa avenida colorida”
A vida parece não ter fim
Realidade ou fantasia
O surdo marcou igual pra mim
Ao longe percebo o cetim tremulando
O mesmo cetim que me cobre é o manto
Me pego sorrindo, chorando
Me afaga os cabelos Dodo
Portela de Silvio e Dedé, da vaidade
Espalhou a paz pela cidade
Abram alas pro seu carnaval
Portela hoje vivo a eternidade
E se meu nome então
Virar saudade
sou mais um bamba imortal.
Num samba de Monarco e Alvaiade
Encontro a luz celestial

Bate no peito quem é fruto da Jaqueira
Filho da Águia altaneira
De Oxossi e Oxum
Sebastião, Conceição vem nos abençoar
Se eu for da Portela não vou terminar

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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