O pré-Carnaval de 2019, por enquanto, tem enredo semelhante ao do último ano: briga entre a prefeitura do Rio de Janeiro e as escolas de samba. E o tema central é o mesmo: dinheiro. Especificamente o repasse de verba da administração municipal para as agremiações.
Durante 2017, as partes entraram em choque após o prefeito Marcelo Crivella anunciar o corte de 50% na subvenção, que passou para R$ 1 milhão por escola – a alegação foi de que era preciso realocar recursos para aumentar a diária das creches. Agora, de acordo com publicação no Diário Oficial, o montante garantido é de R$ 500 mil. E aí começam as desavenças.
Dirigentes de agremiações ouvidos pelo Setor 1 dizem que, após reuniões com representantes da gestão municipal, a promessa era de que a subvenção permaneceria no mesmo valor após o corte, ou seja, de R$ 1 milhão. Os pagamentos seriam feitos em três parcelas: a primeira, no valor de R$ 250 mil em 12 de novembro, o que não se concretizou – o contrato sequer foi assinado; a segunda em dezembro, também de R$ 250 mil; a terceira, de R$ 400 mil, seria depositada em fevereiro, após a arrecadação do IPTU; a última, de R$ 100 mil, seguindo o rito dos outros repasses, cairia após a prestação de contas.
O entendimento da Riotur, responsável por repassar a verba aprovada, é diferente.
O órgão do município afirma que o R$ 1 milhão seria formado por R$ 500 mil da prefeitura e outros R$ 500 mil da Uber. No entanto, a companhia de transporte particular desistiu do patrocínio, gesto que enfureceu tanto Riotur quanto as escolas. Em entrevista recente ao blog, o presidente da empresa municipal, Marcelo Alves, mostrou-se pessimista sobre a verba complementar, praticamente jogando a toalha. Há, porém, negociações abertas com a 99, concorrente da Uber.
A prova da intenção da prefeitura pôde ser vista no Diário Oficial de quinta, 6, onde há a previsão de pagamento de apenas R$ 500 mil oriundos da prefeitura, sendo R$ 214 mil em 2018 e o restante em 2019 – sem especificar datas.
“As conversas realizadas entre a prefeitura e os representantes das escolas do grupo especial previam um aporte de R$ 1 milhão para cada agremiação. Os recursos que viabilizariam a subvenção seriam divididos entre a municipalidade (R$ 500 mil) e o patrocínio da Uber captado pela Riotur (R$ 500 mil)”, declarou a Riotur em comunicado, atestando a diferença de entendimento entre município e escolas.
“Fanatismo”
Dirigentes das agremiações procurados pelo blog demonstraram surpresa com a redução do valor, pelo menos em relação ao que era esperado. Uma reunião entre os representantes das escolas foi marcada para a próxima segunda-feira, 10, para tratar do assunto.
O presidente da Unidos da Tijuca, Fernando Horta, não escondeu a insatisfação. Em conversa com o blog, o dirigente mostrou preocupação com o andamento do trabalho no barracão da escola, revelou atraso no pagamento de mão de obra e ainda criticou durante o prefeito.
“O barracão está quase parado. Nós fizemos nosso projeto em cima de uma verba esperada. Para comprar mercadoria a gente tem tem crédito, mas não existe ‘crédito’ para pagar profissionais. Já estou com a quinzena atrasada. Se ele dissessem ‘não vamos dar nada’, nós buscaríamos alternativas. Mas as escolas se comprometeram em cima de uma situação garantida por eles, e ficam fazendo esse jogo”, disse.
“As pessoas dizem que o prefeito dá dinheiro para o Carnaval. Não é isso. Quem dá dinheiro para a Prefeitura são as escolas. Faturam milhões em cima do Carnaval. Isso é má vontade. O interesse dele (Crivella) é acabar com o Carnaval. O fanatismo chega a esse ponto”, disparou Horta, citando indiretamente suposta motivação religiosa do prefeito, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, como motivação para redução de verbas.
Leia abaixo a nota da Riotur na íntegra:
As conversas realizadas entre a prefeitura e os representantes das escolas do grupo especial previam um aporte de R$ 1 milhão para cada agremiação. Os recursos que viabilizariam a subvenção seriam divididos entre a municipalidade (R$ 500 mil) e o patrocínio da Uber captado pela Riotur (R$ 500 mil).
Ao longo dos últimos sete meses, ocorreram reuniões com a Uber, que firmou um contrato com a Riotur que, como noticiado na semana passada, foi rescindido por ordem do setor de compliance da matriz americana em virtude da operação Furna da Onça, que acarretou a prisão de Chiquinho da Mangueira, deputado estadual e presidente de uma das agremiações do grupo especial.
Cabe ressaltar que a prefeitura realiza a cessão do Sambódromo, bem como de serviços de iluminação, ordenamento público e limpeza, entre outros, para a realização dos desfiles, com todos os custos cobertos pelo município.
A Riotur ainda segue dialogando com diversas empresas, tendo realizado ontem uma reunião com a empresa 99, para complementar o aporte para as escolas do grupo especial.
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Se ele pudesse o Carnaval não mais aconteceria.