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Rio: Impasse sobre verba expõe desencontro entre prefeitura e escolas; presidente detona Crivella: ‘quer acabar com o Carnaval, é fanatismo’

Paraíso do Tuiuti 2018 – Raphael David/Riotur

O pré-Carnaval de 2019, por enquanto, tem enredo semelhante ao do último ano: briga entre a prefeitura do Rio de Janeiro e as escolas de samba. E o tema central é o mesmo: dinheiro. Especificamente o repasse de verba da administração municipal para as agremiações.

Durante 2017, as partes entraram em choque após o prefeito Marcelo Crivella anunciar o corte de 50% na subvenção, que passou para R$ 1 milhão por escola – a alegação foi de que era preciso realocar recursos para aumentar a diária das creches. Agora, de acordo com publicação no Diário Oficial, o montante garantido é de R$ 500 mil. E aí começam as desavenças.

Dirigentes de agremiações ouvidos pelo Setor 1 dizem que, após reuniões com representantes da gestão municipal, a promessa era de que a subvenção permaneceria no mesmo valor após o corte, ou seja, de R$ 1 milhão. Os pagamentos seriam feitos em três parcelas: a primeira, no valor de R$ 250 mil em 12 de novembro, o que não se concretizou – o contrato sequer foi assinado; a segunda em dezembro, também de R$ 250 mil; a terceira, de R$ 400 mil, seria depositada em fevereiro, após a arrecadação do IPTU; a última, de R$ 100 mil, seguindo o rito dos outros repasses, cairia após a prestação de contas.

‘Judas’ de Crivella no desfile da Mangueira de 2018 – Ide Gomes/Framephoto/Estadão Conteúdo

O entendimento da Riotur, responsável por repassar a verba aprovada, é diferente.

O órgão do município afirma que o R$ 1 milhão seria formado por R$ 500 mil da prefeitura e outros R$ 500 mil da Uber. No entanto, a companhia de transporte particular desistiu do patrocínio, gesto que enfureceu tanto Riotur quanto as escolas. Em entrevista recente ao blog, o presidente da empresa municipal, Marcelo Alves, mostrou-se pessimista sobre a verba complementar, praticamente jogando a toalha. Há, porém, negociações abertas com a 99, concorrente da Uber.

A prova da intenção da prefeitura pôde ser vista no Diário Oficial de quinta, 6, onde há a previsão de pagamento de apenas R$ 500 mil oriundos da prefeitura, sendo R$ 214 mil em 2018 e o restante em 2019 – sem especificar datas.

“As conversas realizadas entre a prefeitura e os representantes das escolas do grupo especial previam um aporte de R$ 1 milhão para cada agremiação. Os recursos que viabilizariam a subvenção seriam divididos entre a municipalidade (R$ 500 mil) e o patrocínio da Uber captado pela Riotur (R$ 500 mil)”, declarou a Riotur em comunicado, atestando a diferença de entendimento entre município e escolas.

“Fanatismo”

Dirigentes das agremiações procurados pelo blog demonstraram surpresa com a redução do valor, pelo menos em relação ao que era esperado. Uma reunião entre os representantes das escolas foi marcada para a próxima segunda-feira, 10, para tratar do assunto.

O presidente da Unidos da Tijuca, Fernando Horta, não escondeu a insatisfação. Em conversa com o blog, o dirigente mostrou preocupação com o andamento do trabalho no barracão da escola, revelou atraso no pagamento de mão de obra e ainda criticou durante o prefeito.

Fernando Horta, presidente da Unidos da Tijuca – Foto: Facebook Fernando Horta

“O barracão está quase parado. Nós fizemos nosso projeto em cima de uma verba esperada. Para comprar mercadoria a gente tem tem crédito, mas não existe ‘crédito’ para pagar profissionais. Já estou com a quinzena atrasada. Se ele dissessem ‘não vamos dar nada’, nós buscaríamos alternativas. Mas as escolas se comprometeram em cima de uma situação garantida por eles, e ficam fazendo esse jogo”, disse.

“As pessoas dizem que o prefeito dá dinheiro para o Carnaval. Não é isso. Quem dá dinheiro para a Prefeitura são as escolas. Faturam milhões em cima do Carnaval. Isso é má vontade. O interesse dele (Crivella) é acabar com o Carnaval. O fanatismo chega a esse ponto”, disparou Horta, citando indiretamente suposta motivação religiosa do prefeito, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, como motivação para redução de verbas.

Crivella em reunião com escolas de samba em 2018: impasse se repete – Foto: Paulo Araújo

Leia abaixo a nota da Riotur na íntegra:

As conversas realizadas entre a prefeitura e os representantes das escolas do grupo especial previam um aporte de R$ 1 milhão para cada agremiação. Os recursos que viabilizariam a subvenção seriam divididos entre a municipalidade (R$ 500 mil) e o patrocínio da Uber captado pela Riotur (R$ 500 mil).

Ao longo dos últimos sete meses, ocorreram reuniões com a Uber, que firmou um contrato com a Riotur que, como noticiado na semana passada, foi rescindido por ordem do setor de compliance da matriz americana em virtude da operação Furna da Onça, que acarretou a prisão de Chiquinho da Mangueira, deputado estadual e presidente de uma das agremiações do grupo especial.

Cabe ressaltar que a prefeitura realiza a cessão do Sambódromo, bem como de serviços de iluminação, ordenamento público e limpeza, entre outros, para a realização dos desfiles, com todos os custos cobertos pelo município.

A Riotur ainda segue dialogando com diversas empresas, tendo realizado ontem uma reunião com a empresa 99, para complementar o aporte para as escolas do grupo especial.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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