Presidente da Portela mostra otimismo por verba federal, mas relação com Prefeitura preocupa

Presidente da Portela, Luis Carlos Magalhães, e Monarco com o troféu do título de 2017 – Foto: Portela

O presidente da Portela, Luís Caros Magalhães, fará parte do grupo de dirigentes do samba que vão se reunir com o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão nesta terça-feira, em Brasília, logo após a posse do novo titular da pasta. A pauta do encontro é o repasse de verba do Governo Federal para as escolas, com parte de uma operação para cobrir o rombo de R$ 1 milhão deixado após o corte de recursos da Prefeitura do Rio de Janeiro. Magalhães se mostra otimista para o encontro, e defende o repasse como legítimo.

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“A minha expectativa é muito boa. Em geral, a competência das atividades carnavalescas é municipal, e isso é verdade para o Carnaval de Curitiba, de Maceió e Porto Alegre, por exemplo, mas não para o Rio, onde o Carnaval é nacional. Extrapola a competência municipal. Defendo a tese de que é bom para o Estado e o País, e que, portanto, é lícito pedir ajuda para ter uma festa cada vez mais robusta. Estou achando que (a verba federal) vai sair”, disse Magalhães ao Setor 1.

Sérgio Sá Leitão, ministro da Cultura

Um ponto, porém, causa preocupação. O encontro desta terça foi amarrado pelo deputado federal Pedro Paulo (PMDB-RJ), adversário do prefeito do Rio, Marcelo Crivella. Pedro Paulo, inclusive, foi o autor de uma ação na Justiça para impedir que o alcaide usasse o slogan da campanha (“Cuidando das pessoas”) durante o exercício do mandato. No mesmo processo, o deputado pede que Crivella devolva aos cofres públicos R$ 10 milhões – valor que teria sido gasto nos informes publicitários em que aparece o slogan.

A Prefeitura fechou acordo para dar a cada uma das escolas R$ 1 milhão, e Crivella ainda se comprometeu a conseguir mais R$ 500 mil na iniciativa privada. A princípio, a Liesa espera conseguir outros R$ 500 mil do Governo Federal, o que resultaria nos R$ 2 milhões originais, recebidos pelas agremiações de subvenção municipal.

Crivella ao assinar acordo de repasse para escolas de samba – Foto: Paulo Araújo

Diante deste cenário, Magalhães não esconde o sentimento de incerteza sobre o futuro da equação dos repasses dependendo do montante prometido pelo MinC.

“Como vai ficar a relação com o município? O prefeito garantiu mais R$ 500 mil (fora o R$ 1 milhão de subvenção). Eu fiz essa pergunta a ele: ‘o senhor está dizendo ou afirmando que será R$ 1,5 milhão?’ Ele disse que estava afirmando, só que não seria orçamentária, mas do mercado. Ele garantiu. E se o ministro falar que garante R$ 1 milhão? O prefeito vai arremeter e dizer que não precisa dar mais nada?”, questionou Magalhães.

Dividindo a conta

O presidente de uma das campeãs do Carnaval 2017 diz que, ainda que não se consiga chegar ao total de R$ 2 milhões, somando as verbas federal, municipal e privada, o valor de R$ 1,5 milhão já seria “uma grande coisa”. O dirigente também não sabe dizer se seria possível assinar um acordo com o Minc por mais de um Carnaval. Mas faz um apelo para que o debate não acabe desta forma.

Portela 2017 – Fernando Grilli/Riotur

“Eu vou lamentar se essa questão for resolvida e nunca mais se falar nisso. É preciso repensar o financiamento do Carnaval”, disse Magalhães, que defende a divisão da conta da festa e mais partes.

Para o dirigente, os vários setores da cadeia produtiva do Carnaval devem ajudar a financiar os desfiles.

“Quem se beneficia do Carnaval? As companhias áreas, a rede hoteleira, a rede de restaurantes? Quem ganha dinheiro com o Carnaval tem que parabenizado, mas tem que cair aqui. Não sou contra que o governo ajude, mas não precisa dar muito. Se fizer direito, cabe um pedaço para cada um. Ninguém quer arrebentar nada, não tem maluco no samba, mas a gente quer fazer tudo de forma técnica”, explicou.

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Entenda o caso do corte de verba

Crivella anunciou que pretende cortar em 50% a verba destinada às escolas de samba para investir em creches. O valor em 2017 foi de R$ 24 milhões, sendo R$ 2 milhões para cada agremiação. Como em 2018 serão 13 escolas no Grupo Especial, a expectativa era que o montante chegasse a R$ 26 milhões. Mas, conforme a Riotur (Empresa Municipal de Turismo do Rio de Janeiro), responsável por organizar a festa, já confirmou, o valor ficará mesmo em R$ 13 milhões.

A Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) anunciou que, sem os R$ 13 milhões, os desfiles ficam inviáveis em 2018, e decidiu suspender as apresentações até que as partes cheguem a um acordo. A entidade espera conseguir um encontro com o prefeito, algo que vem tentando há meses, sem sucesso.

A Riotur disse, em nota, que o Carnaval está garantido e afirmou que vai buscar na iniciativa provada os recursos para as escolas. Mas confirma que as creches são prioridade.

Em resposta, sambistas realizaram um protesto. O grupo se concentrou em frente ao edifício administrativo da prefeitura, na Cidade Nova, e caminhou até a Marquês de Sapucaí.

O prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis, se prontificou a ajudar e ofereceu levar os desfiles para a cidade da Baixada Fluminense. “A festa traz receita, movimenta a economia. Tem dinheiro para tudo. Se puder levar a Sapucaí para Caxias, eu banco. Vai dar lucro, traz turistas, é importante para a cidade”, disse Reis ao jornal Extra.

No dia 28 de junho, Crivella recebeu as escolas de samba e ficou decidido que haverá desfile em 2018.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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  • Eu entendo que, depois da posição adotada pelo Crivella em relação aos desfiles, qualquer presidente de Escola de Samba, ficaria com um pé atrás com o senhor Prefeito.

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