A Vai-Vai viveu neste domingo mais um capítulo da crise que se instalou na escola desde o 10º lugar no Carnaval deste ano. Alegando insegurança e atendendo a pedidos de segmentos, a agremiação do Bixiga cancelou a eliminatória do samba-enredo para 2019.
Segundo a diretoria, o temor é que o clima belicoso entre a atual gestão e a oposição, representada pelo grupo Resistência, possa causar mais problemas, como aconteceu em fins de julho, durante evento na quadra. Na ocasião, os opositores do presidente Darly Silva, o Neguitão, espalharam faixas nos arredores da sede pedindo a saída do dirigente. Brigas foram registradas, e vários vídeos da confusão circularam pelas redes sociais.
“Nossa comunidade está traumatizada e temerosa, fomos procurados por diversos chefes de segmentos preocupados e apavorados com as publicações, e diante de tão iminente possibilidade de se repetir os atos de violência já ocorridos no último dia 29 de julho e a situação de risco para nossa comunidade, decidimos por bem agir. Considerando que não vislumbramos um ambiente de tranquilidade para a realização dos trabalhos da fase de eliminatória para esse domingo, optamos pela inédita decisão de cancelar as atividades de domingo na quadra para podermos tomar as medidas cabíveis de forma a assegurar a segurança da nossa comunidade, nossas baianas, velha guarda, ala das crianças, bem como todos os segmentos da escola, o público e as nossos estimados familiares”, publicou a diretoria, em comunicado que cita até o ataque a faca ao candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro.
Sem confirmar se haverá eliminatória no próximo domingo, 16, a escola promete estudar e “tomar medidas” para a realização da disputa. “O diálogo só é mantido com quem efetivamente deseja fazê-lo em alto nível, nas esferas competentes e não a base de insinuações de violência e ameaças”, escreveu a diretoria.
No mesmo dia, o Resistência divulgou uma nota rebatendo acusações e reforçando a exigência pela renúncia da atual administração, que chama de “ilegítima”. O grupo entende que Darly não poderia tentar uma terceira reeleição e cobra a realização de um pleito para formação de novas diretoria e conselho.
“Moralmente, nenhum dos dois segmentos [conselho e diretoria] possui condições de continuar. Suas atitudes estão colocando em risco a continuidade da Escola de Samba VAI-VAI, numa linha que compreende desde as agressões contra opositores na apuração de 2014 e a reação violenta do fatídico domingo onde o Sr. Darly foi posto pra fora pela comunidade, até as ações administrativas nocivas que levaram a escola em direção ao rombo extraordinário de 3 milhões de reais. Nosso papel é lutar para que isso acabe e se torne possível sonhar com um futuro digno para nossa escola. O nome RESISTÊNCIA foi escolhido em função da consciência que sempre tivemos do quão árdua seria essa luta e do quão baixo chegaria esta gestão sem escrúpulos”, escreveu a oposição.
O grupo, que conta com o apoio de Thobias, rebate as acusações de intransigência, feitas pela diretoria, e diz que Neguitão e seus aliados são os responsáveis pelo impasse. Em comunicado, o Resistência narra uma série de negociações para uma transição amigável, mas que, na hora de firmar o acordo, o presidente não apareceu no encontro.
“Ocorre que, como é de costume, o Sr. Darli não honrou com a sua palavra. Assumiu um compromisso e não cumpriu. Declinou em silêncio da própria proposta. Nós, infelizmente, já sabíamos de antemão que isto ocorreria. Na data combinada para o retorno do acordo, o Sr. Darli simplesmente NÃO APARECEU e não se importou em responder ao documento. Sendo assim, o Movimento de Oposição RESISTÊNCIA VAI-VAI expõe o documento com a proposta de composição administrativa que eles consideram absurda, para que todos tirem suas próprias conclusões e entendam que tudo se trata de APEGO AO PODER e FALTA DE AMOR AO PAVILHÃO, inclusive por parte de alguns que dizem ser a história viva da entidade”, afirma.
“Como consequência, declaramos esgotada qualquer possibilidade atual e futura de negociação com a RESISTÊNCIA. Nós continuaremos em nosso objetivo que é expurgar todos aqueles que tomaram a nossa escola, principalmente os que não pertencem a mesma e vem se aproveitando da fragilidade do momento para se instalar na ESCOLA DO POVO”, continua a nota.
Veja abaixo os dois comunicados na íntegra:
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