Sírio vítima de xenofobia no Rio vai desfilar pela Portela

Com a porta-bandeira Lucinha Nobre, sírio Mohamed Ali Kenawy beija pavilhão da Portela – Foto: Tainá Lima/Cerimonial Alerj

O sírio Mohamed Ali Kenawy, vítima de xenofobia no Rio de Janeiro, ganhou um convite para desfilar pela Portela em 2018.

Ao falar sobre intolerância, a escola levará para a Marquês de Sapucaí no próximo Carnaval um enredo que fala também de casos como o de Kenway, tendo como tema principal a saga de judeus que escaparam da inquisição na Europa e vieram para o Brasil em busca de liberdade. Por isso a ideia de chamar o sírio para o desfile.

Em meados de agosto passado, Kenawy foi agredido em Copacabana enquanto vendia salgados em uma calçada do bairro. O agressor, também ambulante, exigia que o sírio deixasse o Brasil. O caso ganhou as manchetes e gerou uma onda de reação em benefício de Kenawy, que nesta quarta-feira recebeu o título de cidadão fluminense na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

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“A Portela é solidária ao Mohamed Ali e a todos os que são vítimas de xenofobia diariamente pelo mundo. Por isso, queremos convidá-lo para participar do nosso desfile”, disse a diretora social da Portela, Beth Ferreira.

Kenawy beijou a bandeira portelense, posou para fotos com os sambistas da escola e prometeu tentar aprender a sambar.

“Aprendi a amar o Rio e o Brasil. Aqui me sinto em casa. Minha vida mudou bastante depois daquele episódio em Copacabana, mas, hoje, me sinto respeitado e querido pelas pessoas. Agradeço muito pelo convite. Vou tentar aprender a sambar”, disse.

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“A grande maioria dos cariocas ficou chocada com o ataque que o Mohamed Ali sofreu. E a Portela marca posição clara contra a xenofobia em seu enredo. Em nosso desfile, a Estátua da Liberdade, grande símbolo de Nova York, representará a mãe dos exilados do mundo inteiro, assim como está no poema que está gravado aos pés da imagem, escrito por Emma Lazarus. Por isso, o Mohamed Ali é muito bem-vindo. Depois de tanto sofrimento que passou, será muito bom poder vê-lo feliz e cantando nosso samba-enredo na Sapucaí”, disse o presidente da Portela, Luis Carlos Magalhães.

Contra intolerância e xenofobia

Atual campeã (em título dividido com a Mocidade), a Portela tentará o bicampeonato (e a 23ª conquista) com o enredo “De Repente de Lá Pra Cá e Dirrepente de Cá Pra Lá…”, assinado pela carnavalesca Rosa Magalhães.

A escola contará a história dos judeus que, após fugir da perseguição da inquisição na Península Ibérica, na Europa, chegaram ao nordeste do Brasil, principalmente em Pernambuco. Depois da expulsão dos holandeses, em 1654, foram para a América do Norte. No caso, para Nova York, ainda chamada de Nova Amsterdã, ajudando na formação da cidade.

A ideia é falar de xenofobia e intolerância em tempos de crises migratórias, num mundo onde o presidente dos EUA, Donald Trump, se coloca abertamente contra os povos migrantes.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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