Bruno Filippo*
Nelson Sargento, que morreu nesta quinta-feira, vítima da Covid-19, aos 96 anos, foi um artista múltiplo. A maioria, pelo foco midiático que lhe era conferido, só o tinha como sambista da Mangueira, escola da qual era presidente de honra. Em alguns obituários que reivindicam seu corpo, ele é descrito por inteiro: para além de cantor e compositor, Nelson foi pintor – de parede e de quadros -, artista plástico, escritor e ator.
Seu samba mais conhecido, “Agoniza mas não morre”, já lembrado a exaustão, esconde outras obras-primas compostas ao longo de uma carreira que remonta ao fim dos anos 1940, influenciado pelo seu padrasto, o compositor – e também pintor de paredes – Alfredo Português.
“Agoniza mas não morre” foi gravada por ele em 1979; e dela pode-se inferir uma leitura mais afeita à década de 1970: Nelson cantava, por meio de um samba triste, a alegria pelo sucesso do gênero musical, que estava em evidencia devido a nomes como Clara Nunes, Beth Carvalho, Alcione, Joao Nogueira, Roberto Ribeiro, Paulinho da Viola.
É curioso que exatamente nesta época – em 1975 – Alcione tenha estourado com outro clássico do samba, “Não deixe o samba morrer”, de Edson Conceição e Aluísio Silva. Nas duas obras predomina a ideia de extinção, de finitude do gênero, ainda que para Nelson Sargento isso jamais acontecerá, ao passo que, para a dupla gravada por Alcione, a ameaça seja real – daí o imperativo do título, contido no verso principal.
Quando o samba esteve realmente agonizando, Nelson batalhou para que ele não morresse. Na história da música popular brasileira, a década de 1960 foi marcada por pela ascensão de novos gêneros que tiraram o espaço do samba tradicional: bossa nova, Jovem Guarda, MPB oriunda dos festivais de música, Tropicalismo.
Veja também:
Paulo Gustavo, Homenagem no Carnaval e Catarse, por Bruno Filippo
CPI da Covid: Mandetta nega que Bolsonaro tenha pedido cancelamento do Carnaval
Liesa lança pesquisa para o público do Carnaval; veja como participar
Saiba quando cai o Carnaval em 2022
Por essa época adversa, Nelson integrou dois conjuntos de samba junto com nomes que se consagrariam – “A Voz do Morro”, com Zé Kéti, José da Cruz, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho e Anescarzinho do Salgueiro; e “Os Cinco Crioulos”, com Mauro Duarte, Elton, Jair, Paulinho e Anescarzinho. E participou do histórico show “Rosa de Ouro”, em 1965, no Teatro Jovem, dirigido por Hermínio Bello de Carvalho.
Hoje que o samba está novamente em baixa, sem conquistar de maneira maciça corações e mentes de jovens, que curtem mais funk e sertanejo, e com tendência a tornar-se um nicho de rodas de samba, a imensa repercussão de sua morte torna mais concreta a letra de sua magna obra.
*Bruno Filippo é jornalista e sociólogo
Divulgação A Portela anunciou nesta quinta-feira (4) o enredo da escola para o Carnaval 2025:…
Portela 2024 - Marco Terranova/Riotur Em um enredo - inspirado no livro "Um defeito de…
Em uma das fotos que mais circularam no Carnaval deste ano, o mestre de bateria…
Carro da Imperatriz empacado na concentração - Romulo Tesi O último carro da vice-campeã Imperatriz…
Anúncio da contratação de Renato e Márcia Lage pela Mocidade - Divulgação/Mocidade O casal Renato…
Annik Salmon e Guilherme Estevão - Foto: Mangueira A Estação Primeira de Mangueira anunciou nesta…