Trauma de feijoada, nada de samba e planos para os 80: a quarentena no cafofo da Surica

Tia Surica em ação, em foto de arquivo – Eliane Carvalho/Riotur

Para quem está preocupado, Tia Surica avisa: ela está bem, cumprindo a quarentena, praticamente sem sair de casa, mas já um tanto impaciente: “tem sido duro, amigo… Eu sou rueira”, lamenta a sambista em bate-papo com o Setor 1, neste domingo, 5.

Por causa da pandemia de coronavírus, a baluarte da Portela garante que vem cumprindo religiosamente as orientações do Ministério da Saúde: desde que começou o confinamento, só saiu do seu cafofo de Madureira para breves idas ao supermercado – com máscara no rosto e o álcool em gel na bolsa. Quando volta, vai direto para o banho. E sem visitas.

“Estou me preservando, fazendo tudo direitinho porque eu quero viver”, afirma Surica, perto de completar 80 anos e, portanto, dentro do grupo de risco para Covid-19.

O aniversário, inclusive, já está sendo planejado. Surica espera fazer uma boa festança em novembro, com direito a samba, claro, mas – atenção – sem feijoada.

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“Eu estou com trauma de feijoada. São 365 dias por ano comendo feijoada, ninguém merece”, exalta-se, prometendo um cardápio diferente daquele que se tornou uma das suas marcas. Cozido e mocotó estão entre as possibilidades.

“Eu espero, se Deus quiser, fazer uma boa festa, o quanto o dinheiro der. Estou me preparando pra isso”, declara.

Tia Surica no desfile da Portela de 2020 – Gabriel Nascimento/ Riotur

Mais TV, zero samba

Enquanto não chega o dia, Surica mantém um rotina simples com mais duas companheiras em casa: a irmã, de 78 anos, e uma vizinha, de 86. Elas passam os dias basicamente conversando, assistindo à televisão e – atenção de novo – sem samba.

“Não tenho ouvido nada. Fico mais vendo televisão”, conta a sambista, ainda assim já cansando da massificação de notícias sobre o coronavírus. “Só se fala nisso. Já tá até saturando”, reclama a portelense, que tem conversado com os amigos por Whatsapp.

Se ainda falta muito para novembro, Surica já decidiu o que fazer quando a pandemia passar – e ela espera que seja logo: “entrar num bar e tomar bastante cerveja”.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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