Vice da Mocidade pede mudanças no Carnaval, prevê paz com a Portela e diz: a imagem de 2017 é o Aladim

Aladim da comissão de frente da Mocidade - Sofie Mentens/Riotur

O sexto título da Mocidade saiu numa quarta-feira, mas não na de Cinzas. Os independentes só soltaram o grito de campeã no dia 5 de abril, mais de um mês depois da apuração. Até então, a Portela era a única detentora do troféu de primeiro lugar. Depois da plenária na sede da Liesa, o título foi dividido entre as duas escolas – não sem bronca por parte dos portelenses.

(Clique aqui para entender a crise do Carnaval 2017)

Em entrevista ao Setor 1, do Portal da Band, o vice-presidente da Mocidade, Rodrigo Pacheco, admite que a emoção não seja a mesma de ser aclamado campeão na Apoteose, mas se dá por satisfeito com o resultado. O que o dirigente não mostra satisfação é com a atual situação da festa. Tanto que vai pedir mudanças para 2018, como a própria Portela já anunciou.

“As ideias são muitas. Acredito que isso leve umas 10 reuniões para chegar a um formato ideal”, declarou Pacheco, que descarta ir à Justiça tentar alguma reparação financeira.

Leia também:
Sambódromo pode ganhar telões, museu e assentos numerados
Autor de capas de discos inspira desfile sobre Martinho da Vila
Teste seus conhecimentos sobre São Jorge

Nesta conversa, Pacheco explicou a posição da escola, classifica como exagero o desconto de pontos pela falta de um destaque de chão (o que causou todo o problema), culpa o jurado Valmir Aleixo pelo erro, prevê que a paz logo reinará entre os sambistas, enquanto torcedores trocam farpas pelas redes sociais, e diz que a Mocidade não ficará marcada como uma “escola do tapetão”, sem prejuízo para a imagem da agremiação da Zona Oeste do Rio.

“O Aladim é a imagem do Carnaval, rodou o mundo todo”, afirmou.

Rodrigo Pacheco, vice-presidente da Mocidade

Veja a entrevista na íntegra:

O resultado ficou na medida para a Mocidade?
Diante do cenário, sim. Foram vários fatos que culminaram com esse problema. Sabíamos que era uma grave falha e buscamos uma reparação. Não era tão simples, até porque era a primeira vez, isso nunca tinha acontecido.

A Portela acabou desistindo do recurso, mas essa história poderia acabar na Justiça?
Não. Foi uma decisão que não foi da Liga, mas da maioria das escolas, e não cabe questionamento. A gente estava bem tranquilo em relação a isso por conta da falta de opção de rebater o que foi decidido pela maioria. Desde o início eu sabia que aconteceria o que aconteceu. Que eles fossem analisar com calma e enxergar que foi uma decisão da maioria das escolas.

Se a nota do Valmir Aleixo fosse 10, a Mocidade seria campeã sozinha. Se a Portela tivesse ingressado com o recurso, vocês poderiam mudar de posição e pedir um título sem divisão? Isso passou pela cabeça de vocês em algum momento?
Não. Em momento algum colocamos em pauta o pedido do título sozinha. A gente entende que a Portela também não tem culpa. Não partiu deles qualquer tipo de manobra. Por isso pedimos a divisão.

A Mocidade havia pleiteado também a divisão do prêmio em dinheiro. E isso acabou não acontecendo. Por quê?
Isso seria mais demorado, mais burocrático, demandaria uma análise financeira. Os prêmios já haviam sido pagos e a obviamente escola já havia usado seu saldo. E na hora optamos deixar isso de lado para que a solução fosse tomada imediatamente, e não aguardar mais. Abrimos mão para chegar ao resultado principal, que era chegar ao título.

Mocidade em 2017 – Fernando Grilli/Riotur

Vocês cogitam algum processo na Justiça contra a Liesa ou o jurado, para buscar alguma reparação financeira?
Não, isso não passa pela nossa cabeça. A Mocidade já está bem satisfeita com a divisão do título. A comunidade já está bem feliz. E já estamos voltados para o Carnaval 2018, para ganharmos o bicampeonato, e aí de maneira correta, sendo ovacionada no dia da apuração. O título veio num momento posterior, não é a mesma emoção, mas não poderíamos deixar também a comunidade desamparada, ao ver um erro e deixar de lado.

A Mocidade não figurava entre as favoritas. Vocês acreditavam no título antes do Carnaval?
Eu esperava, sim. Na verdade eu comecei o trabalho querendo ficar entre as seis (primeiras). No meio do processo, quando escolhemos o samba enredo, eu passei a acreditar que ficaríamos entre as três, porque o samba pegou muito bem na comunidade. Depois do ensaio técnico na Sapucaí eu passei a acreditar que dava para brigar pelo título, porque a escola veio muito bem, e eu sabia de tudo que estava sendo feito na parte artística.

As escolas e a Liesa já discutiram mudanças no Carnaval para 2018? Quais as sugestões da Mocidade?
A gente tem algumas ideias. Mas tem que haver mudança, não tem outro caminho. Precisamos de uma atualização em critério de julgamento, análise do quesito, o que vai ser cobrado em cada um, verificar se tudo que foi feito no último Carnaval foi válido e coerente, se precisa mudar mais alguma coisa. Temos que olhar o Carnaval como um todo. A Liesa já se colocou à disposição e vai fazer, para que não tenhamos problemas. Tivemos um Carnaval atípico, e algumas soluções tiveram que ser decididas no momento, sem experiência sobre o ocorrido. Tudo isso tem que ser pensado antes. As ideiais são muitas. Acredito que isso leve umas 10 reuniões para chegar a um formato ideal.

Quais sugestões a Mocidade vai levar à Liesa?
A questão da cabine dupla, por exemplo. Precisa ser pensada com muita atenção, se vale ou não vale a pena. Tivemos muitos problemas ali, com notas muito divergentes, numa cabine onde a apresentação é única. Precisamos delimitar mais o trabalho do julgador. Com uma coirmã, um julgador de Evolução que criticou o fato de uma fantasia não estar de acordo com o carro abre-alas.

Comissão de frente da Mocidade em 2017 – Tata Barreto/Riotur

O julgadores às vezes agem como fiscalizadores, vendo algo que faltou. Você acha certo tirar ponto por causa da ausência de uma musa?
No curso de jurados, eles são orientados a não tirar ponto por causa disso. Ainda que tivesse com o material certo, seria um excesso.

Mas lendo as justificativas, parece que é contrário.
Aí entra o lado subjetivo. No nosso caso, o jurado disse que o (destaque de chão) “Esplendor dos Sete Mares” é fundamental para a leitura do enredo. Ora, o que o destaque me acrescentaria em relação ao enredo se o setor já estava todo amarradinho Não faria diferença. Mas se ele estivesse com o roteiro certo e acontecesse de não vir com o destaque, eu ficaria sem condições de debate. Poderia não entender, mas teria que aceitar, porque para ele aquilo era fundamental. Mas é um ponto em que a gente precisa de uma definição mais precisa. E se no dia o destaque tem um problema de saúde e não aparece para desfilar? Claro, no caso de um destaque de carro, eu penso diferente, porque ele complementa a leitura da alegoria. Ela fica comprometida se não tiver aquela peça ali. Mas no chão, isolado, não.

Vocês já sabem o que aconteceu para o Valmir Aleixo estar com o roteiro errado no dia do desfile?
Ele recebeu um material prévio, por conta do curso de jurados, onde fez as anotações. Mas o próprio manual diz que o julgador recebe o material de julgamento no domingo de Carnaval, na reunião que antecede a ida para o Sambódromo. O que aconteceu é que ele ficou com o material antigo e preferiu não olhar o novo, para conferir se tinha algo diferente. Foi uma opção dele, foi uma falha dele.

Você acha que ele pode voltar a ser julgador?
Se eu estivesse no lugar dele, não ia querer continuar. Se eu sou o presidente da Liga, não ia querer escalá-lo. Acho que isso já está decidido, não deve ficar. Mas nunca foi colocado pela Mocidade, e nunca ficou claro para ninguém, que ele agiu de má fé. Ele cometeu um erro.

A escola acabou prejudicada justamente nessa parte do uso do roteiro. Em 2018 vocês vão tomar um cuidado especial com isso?
Mas as escolas não têm acesso aos jurados. A gente nunca saberia se ele estava com o livro errado. O que a gente faz e fizemos é conferir o Abre-Alas que sai. Quando ele é impresso, a mesma versão que vai para os jurados, vai para as escolas. E aí falam: ‘ah, mas a Mocidade não enviou errata’. Como eu vou enviar errata para uma coisa que já está certa?

O clima entre as torcidas de Portela e Mocidade esquentou, e nasceu uma certa rivalidade entre elas. Isso tudo vai afetar a relação entre as escolas, entre vocês e a Portela e entre todas as outras?
Não vejo por esse lado. Cada dirigente vê o lado da sua escolas, mas na própria plenária, após o resultado, eu estive com o presidente da Portela (Luís Carlos Magalhães) e nos abraçamos. Por parte da Mocidade, não existe problema algum. Diante do cenário, a coisa realmente deu uma acalorada entre torcedores, mas acredito que isso já tenha passado. O samba é muito democrático, muito unido. Isso vai ser rapidamente superado. Em breve a gente vai estar com a Portela em nossa quadra e estaremos na quadra da Portela. São duas escolas que passaram muito tempo longe da briga por campeonato, e graças a Deus aconteceu de forma conjunta. Então vamos comemorar.

Portela 2017 - Fernando Grilli/Riotur
Portela 2017 – Fernando Grilli/Riotur

Acompanhando a repercussão nas redes sociais, vi que as pessoas se dividiram basicamente entre quem apoiava a decisão da Mocidade e teve gente que criticou. Teve até piada, com algumas pessoas comparando a Mocidade ao Fluminense, que ela foi brigar no “tapetão”. Qual é a imagem que fica da escola?
A imagem não muda. Na ocasião da plenária para decidir sobre o não rebaixamento, a Mocidade foi a única contrária, ou seja, se posicionou pela manutenção do regulamento, por seguir o certo. E logo em seguida passamos por um problema que nos afeta, e decidimos solicitar o certo. Não brigamos por nada errado. Isso não afeta a imagem da escola. As brincadeiras acontecem em situações como essa. Mas é salutar. Teve muita gente da própria Mocidade brincando. A Mocidade trouxe a imagem do Carnaval, que foi o voo do Aladim. O jornal O Globo no dia seguinte ao desfile, quando nem havia resultado, destacou o “Voo mágico da Mocidade”. Em um Carnaval com todas as possibilidades de que a imagem fosse negativa, por conta dos acidentes, ainda assim o Aladim conseguiu superar. O que ficou gravado desse Carnaval foi essa imagem da Mocidade. É isso que vamos carregar por muitos anos. O Aladim é a imagem do Carnaval, rodou o mundo todo. Fomos o segundo assunto mais comentado nas redes sociais no dia.

E a capa do CD, como fica? Vai ter Aladim ou águia?
Acho que pode colocar os dois. Na própria plenária nós levamos isso bem na esportiva. Dá para colocar o Aladim voando com a águia. Vamos pensar nisso no momento certo.

Um leitor do blog sugeriu fazer um encarte dupla face, em que a pessoa escolhe qual capa usar.
Pode ser. Não tinha pensado nisso. Gostei da ideia, vou levar adiante.

Para 2018, já definiram o enredo?
Estamos trabalhando, mas ainda não está definido. Mas acho que em 15 dias a gente divulga.

Camila Silva, rainha de bateria da Mocidade – Pilar Olivares/Reuters

Vocês ainda falam com a Carmen Mouro? (Angolana ex-rainha de bateria que foi substituída às vésperas do Carnaval por Camila Silva)
Ela infelizmente teve o problema de saúde. Quem me passou a situação não foi ela, foi a médica que estava cuidando dela no Rio e preferiu que ela voltasse para a recuperação plena. Depois disso falamos muito pouco, porque entramos na correria do Carnaval e ela tem as atividades de empresária. Mas não houve qualquer problema entre a Carmen e a Mocidade. Ela foi bem recebida. Mas na reta final não tínhamos condições de aguardar a situação ser resolvida e chegamos a um consenso de que era melhor a substituição. Ela não estava 100% recuperada no Carnaval. Por mais que ela quisesse desfilar, não conseguiria.

Carmen Mouro

A Mocidade foi uma das surpresas do Carnaval, após anos na parte de baixo da classificação. O que vocês vão fazer para manter o nível em 2018?
Em time que está ganhando não se mexe. Em um ano de muitas mudanças nas escolas, a Mocidade só mudou uma peça, que foi o mestre-sala (Diogo Jesus), que preferiu sair. A equipe já está trabalhando, temos um entrosamento, uma sintonia. O clima na escola é muito bom. Vamos dar prosseguimento. Alguns detalhes serão melhorados. Seguindo nessa linha, já estamos credenciados para brigar pelo título. Falta definir enredo, escolher um bom samba e desenvolver o Carnaval.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

3 comentários

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

  • A imagem que fica é a de uma comissão julgadora que deliberadamente não enxerga uma série de erros gravíssimos no enredo dá Mocidade. É não me venha falar em licença poética! Aladim, Sherazade e CIA no Marrocos é de um equivoco lamentável!!!!!!!!

  • Sou componente da mocidade desfilo a 22 anos, aconteceram falhas que doravante não se repita pois serve para todas as escolas.

    Outro ponto negativo e a falta de banheiros públicos no entorno do sambodromo.

    E mais um telão na armação, porque na concentração já é quase desfile , agradeceria muito se estes pedidos fossem atendidos, em nome do ISO, para o carnaval.