Viradas e desviradas: relembre os capítulos de mais uma crise no Carnaval do Rio

Imperatriz 2019 – Fernando Grilli/Riotur

O Carnaval de 2019 do Rio de Janeiro ainda não acabou – especificamente para a ponta de baixo da classificação do Grupo Especial. Após viradas e desviradas de mesa, ainda não se sabe, quatro meses depois da Quarta-Feira de Cinzas, quem será de fato rebaixada.

Abaixo, o Setor 1 lista os capítulos da nova crise no Carnaval do Rio, a terceira em três anos.

3 de março
Império Serrano abre os desfiles do Grupo Especial com um desfile fraco em vários quesitos. Nem o clássico “O que é, o que é”, de Gonzaguinha, usado como samba-enredo, salva a apresentação, e a escola da Serrinha é considerada como a primeira rebaixável.

3 de março
Com um enredo sobre dinheiro, a Imperatriz Leopoldinense se apresenta longe de suas tradições: pobre e com plástica pouco exuberante. O samba, um dos mais fracos do ano, não acontece, e a escola passa a ser cotada ao rebaixamento junto de sua madrinha.

4 de março
No segundo dia de desfiles, todas as escolas realizam apresentações que oscilam entre a regularidade e a emoção – caso da Mangueira, considerada favorita. O dia raiava na Marquês de Sapucaí, enquanto a Mocidade encerrava o Carnaval, quando já se ouvia falar em uma eventual virada de mesa. Tudo por causa do possível rebaixamento da Imperatriz.

Mangueira 2019 – Gabriel Nascimento/Riotur

6 de março
Na apuração da Quarta-Feira de Cinzas, o resultado, pouco contestado, confirma o título da Mangueira e os rebaixamentos de Imperatriz Leopoldinense e Império Serrano, 13ª e 14ª colocadas, respectivamente. No mesmo dia, questionado sobre a possibilidade de nova quebra de regulamento, o presidente da Imperatriz, Luiz Pacheco Drummond, descarta uma manobra para salvar sua escola. “Caiu, caiu. É o regulamento. Senão, daqui a pouco, teremos 30 escolas no Grupo Especial”, declarou o dirigente ao jornal Extra.

28 de março
Uma crise estoura na Série A. O presidente da Lierj, entidade que promove os desfile da divisão, Renato Marins, o Thor, anuncia sua saída da presidência da liga diante da reação de um grupo de escolas insatisfeitas. A renúncia, porém, não é formalizada legalmente.

Renato Thor – Reprodução/Facebook

17 de abril
Thor volta atrás, desiste da renúncia e anuncia que fica na presidência da Lierj. No mesmo dia, as escolas “rebeldes”, com apoio do grupo que controla a Liesb (das divisões de acesso a partir da Série B, que desfilam na Estrada Intendente Magalhães), anunciam a criação de uma nova entidade, a Liga-RJ, presidida por Wallace Palhares. A cizânia fica exposta. Entre alguns grandes do Grupo Especial, a notícia não é bem recebida.

23 de maio
A crise, pelo menos a aparente, chega ao fim na Lierj, com a saída de Thor e posse de Palhares. A Liga-RJ é extinta. Nos bastidores, crescem os rumores de que a Imperatriz, insatisfeita com os rumos da Série A, poderia ser salva.

Grupo de dirigentes da Liga-RJ: Palhares é o quarto da esquerda para a direita – Divulgação

3 de junho
Em assembleia geral na sede da Liesa, 13 escolas do Grupo Especial se reúnem. Por 8 a 5, decidem evitar o rebaixamento da Imperatriz – e só dela, já que o Império Serrano fica fora da manobra. Mangueira, Portela, Viradouro, Beija-Flor e Vila Isabel votam pelo cumprimento do regulamento. Salgueiro, União da Ilha, Estácio, Unidos da Tijuca, São Clemente, Paraíso do Tuiuti e Mocidade e Grande Rio se posicionam pela virada de mesa, a terceira em três anos.

Após o encontro, o presidente da Liesa, Jorge Castanheira, cita o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) em 2018, e anuncia sua renúncia. Pelo acordo, a Liesa se compromete a respeitar o regulamento, caso contrário deve pagar uma multa de R$ 750 mil.

6 de junho
MPRJ
notifica a Liesa e dá 48 horas para o pagamento da multa.

6 de junho
Prefeitura lança um vídeo em que defende o fim do investimento público no Carnaval. A peça publicitária, filmada na Marquês de Sapucaí, diz que a administração pública não tem retorno com a festa, e que somente Liesa e TV Globo fatura.

Assista aqui.

O filme tem inconsistências, generalizações e pelo menos uma informação que contradiz a própria prefeitura: de que o poder público municipal gasta R$ 70 milhões com os desfiles das escolas de samba. No início do ano, antes do Carnaval, a Riotur anunciou investimento direto de R$ 30 milhões da gestão Crivella, e outros R$ 40 milhões da iniciativa privada.

10 de junho
Prazo se encerra, e Liesa não paga multa, mas consegue mais tempo para realizar a quitação – no caso, até 28 de junho. O MPRJ, que havia anunciado uma ação civil pública contra a liga, espera.

Imperatriz Leopoldinense 2019 -Fernando Grilli/Riotur

26 de junho
Escolas se reúnem na Liesa, e o jogo vira: de 8 a 5 pela virada de mesa, o placar passa a marcar 8 a 5 contra a manobra no tapetão. Três escolas mudam de lado: Unidos da Tijuca, União da Ilha e Paraíso do Tuiuti. A Imperatriz contesta, e afirma que o encontro se trata apenas de uma reunião ordinária, sem poder de mudar uma decisão de uma assembleia geral.

Castanheira, que segue demissionário, anuncia que uma nova assembleia seria marcada para formalizar a “desvirada” de mesa.

28 de junho
Liesa informa ao MPRJ a mudança no placar e consequente respeito ao regulamento. O órgão diz ainda que a liga marcara para 10 de julho a assembleia que pode confirmar a reversão da quebra de regulamento, o cancelamento da multa e, consequentemente, o fim do Carnaval 2019.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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