Com Zeca Pagodinho, Grande Rio encerra ensaios distribuindo cerveja na Sapucaí

Zeca Pagodinho no ensaio técnico da Grande Rio – Vitor Melo – Rio Carnaval

O motorista da picape tentava manobrar o carro no meio da pequena multidão que se aglomerou em frente ao primeiro recuo de bateria do Sambódromo, numa dinâmica de idas, vindas, rés e avanços. Junto, os gritos de “VEM!” e “SEGURA!”, formavam uma cena que parecia o das manobras das alegorias. Na carroceria, cheia até a boca, estava valiosa carga de incontáveis latinhas de cerveja da marca preferida de Zeca Pagodinho, o enredo da Grande Rio no Carnaval 2023.

“Toma cuidado com isso aí!”, gritou um gaiato no meio do fuzuê causado pela passagem do sambista no ensaio da escola de Duque de Caxias neste domingo (12). Campeã de 2022, a Grande Rio ficou com a missão de encerrar a temporada de ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí. E levou para a avenida o homenageado, que viu de perto a escola realizar um desejo seu de distribuir cerveja – 2.500 latinhas, mais ou menos, segundo chute da turma que cuidou a logística – para o povo que encarou o imprevisível clima do Rio de fevereiro para encher o Sambódromo.

Carregamento de cerveja no ensaio da Grande Rio – Romulo Tesi

Cercado pelos sete lados por membros da Grande Rio uniformizados, jornalistas e fãs -, Zeca tratava de atender quem se aproximasse, num meet and greet improvisado. Pedidos de selfie, fotos posadas, perguntas: a estrela de noite deu atenção a todos, mesmo que poupasse alguns sorrisos, visivelmente incomodado com o calor.

Água mesmo, só pra refrescar a cabeça. Zeca se calibrava como gosta. Minutos antes de cruzar a avenida, a contagem estava em modestas duas latinhas de cerveja e uma taça de vinho – segundo apuração da reportagem -, servidos por um ajudante da escola escalado para a nobre missão de carregar o estoque líquido do compositor. Zeca pedia, e na mesma hora enchiam o copinho de vidro, erguido algumas vezes para o brinde coletivo descrito no samba-enredo, imagem que já entrou para a iconografia do samba.

A repórter da transmissão oficial da Rio Carnaval se aproxima e pergunta sobre onde Zeca desfilará no próximo domingo, na apresentação pra valer.

Figurinha fácil nos eventos cariocas, Caíque presta homenagem a Zeca – Romulo Tesi

“Nao sei…”, respondeu o sambista, ensaboado, como se não soubesse como vai desfilar uma semana do Carnaval. Tá, bom, Zeca…

Um spoiler possível, que o enredo já sinalizava e o ensaio acabou de entregar, é que a Grande Rio vai mostrar o “Mundo Zeca”. Os signos do subúrbio carioca, da vida simples de Xerém, a boemia, a religiosidade popular e uma visão doce da infância são pule de 10 na apresentação oficial. Tudo traduzido em alegorias, fantasias e música – incluindo a bossa cervejeira da bateria de Mestre Fafá.

Se Zeca não entrega onde vai desfilar, no ensaio o homem veio em um tripé com familiares, e cercado de frutas, doces e bolas de brinquedo. Tudo foi distribuído para o público. Junto da cerveja, claro. O Setor 1 fez as honras da casa aos Pagodinhos, com direito a homenagem do homem-cartaz Caíque, personagem carioca que ficou famoso pelas aparições em eventos exibindo mensagens escritas em papelão. “Você é o cara”, exaltava o cartaz da vez.

Quem ficou sem cerveja foi Deiverson Paiva. É ele quem recebeu a incumbência de se vestir da versão mascote de Zeca. O figurino incluiu uma cabeça gigante do sambista, desproporcional ao corpo, em estilo de caricatura.

Sofrendo com a alta temperatura dentro do figurino, Deiverson levanta a cabeça da fantasia para expor o rosto por breves segundos, o tempo necessário para se hidratar com água mineral. Ele estica o braço e pede para uma ajudante encher a caneca de cerveja falsa, dessas vendidas em lojas de presentes lúdicos.

“Agora não dá, mas no fim do ensaio eu vou beber uma com o Zeca”, disse, enquanto o próprio homenageado se preparava para tomar uma com o povo no Sambódromo.

Zeca em versão mascote – cerveja, só de.mentirinha – Romulo Tesi
Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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