Riotur não prevê mais cortes, mas presidente diz: escolas de samba devem ser autossustentáveis

Alves (centro da foto) no dia da Apuração do Carnaval de 2017 – Alexandre Macieira/Riotur

A menos de dois meses para os desfiles das escolas de samba do Rio, o presidente da Riotur, Marcelo Alves, conversou com o Setor 1 para atualizar algumas questões sobre o Carnaval 2018. Liberação de verbas para agremiações, reforma e nova iluminação do Sambódromo, emissão de credenciais, Série A, patrocínios e o que muita gente já deve estar se perguntando: no próximo ano, o prefeito Marcelo Crivella planeja mais cortes de recursos?

Segundo Alves, isso não faz parte dos planos, mas faz um alerta.

“As escolas precisam, sim, entender que devem montar um projeto mais complexo e levar isso ao mercado. Não podem mais depender exclusivamente de recurso público. Isso não tem mais condição, não há mais viabilidade para isso como era feito”, diz Alves, que pede mais profissionalismo às agremiações.

Veja a entrevista na íntegra abaixo:

Logo após o Carnaval deste ano, em entrevista sua ao Setor 1, você revelou que havia um projeto para trocar a iluminação do Sambódromo, com o uso de luz de led. Será possível fazer a instalação para os desfiles de 2018?
Já estamos com todo o projeto tecnicamente pronto. Colocamos todos na mesa para discutir a melhor proposta. Não só o pessoal de iluminação da TV Globo, como nosso pessoal da Rio Luza, e estávamos buscando recursos no mercado para investir nesse projeto. Temos hoje duas empresas aptas a fazer: a Philips e a GE. E como ainda não tivemos investimentos da iniciativa privada, recebemos uma ótima notícia, que a Câmara de Vereadores aprovou um empréstimo de R$ 100 milhões da Caixa Econômica Federal para esse projeto. Não será feito para 2018, mas, automaticamente, acabando esse Carnaval, a gente já começa a fazer isso. Já temos os recursos. Serão usados não só em iluminação, mas também na parte estrutural do Sambódromo. Esse dinheiro também será investido em melhorias no Pavilhão de São Cristóvão, no Parque dos Atletas, em pontos de atendimento ao turismo e outros.

Nessa conta entram também os telões e a reforma dos banheiros, por exemplo?
Sim. A gente vai fazer também da Praça da Apoteose uma arena altamente qualificada em termos estruturais, para receber grandes espetáculos. Já recebemos muitos shows, mas ela deixa muito a desejar em logística, até porque é um espaço que não foi feito especificamente para isso. Nós precisamos gerar receitas para reinvestir no turismo, e a Apoteose é um lugar hiper desejado pelos grandes produtores internacionais de shows. Para que a gente continue recebendo ainda mais, precisamos fazer uma reforma estrutural. Que não interfira na arquitetura, até porque é um espaço tombado, mas que dê aos produtores muito mais conforto, mais estrutura para que se torne a maior casa de espetáculos ao ar livre do Rio de Janeiro.

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Já há um orçamento de quanto vai custar as intervenções no Sambódromo?
Estamos fechando o orçamento. É um conjunto de reformas, de cabeamento, de parte elétrica, água… O Sambódromo não tem reforma há 30 anos. Desde o início ele vem sendo maquiado, e precisa ter uma intervenção muito radical em todas as áreas. Estamos finalizando esse projeto na engenharia, mas as necessidades já estão definidas. É muito complexo.

Como é o projeto de iluminação? A empresa responsável já foi escolhida?
A Philips está mais adiantada. Até porque a tecnologia dela nos atende melhor em termos de refletores e economia. A iluminação de led tem um lado artístico muito importante, que é dar ao espetáculo um programa para cada desfile. Cada escola poderá fazer seu programa de light design. Ela pode reforçar certas alas ou diminuir em alguns carros e trocar as cores. É como se fosse um grande teatro. Além disso, o mais importante, que favorece e potencializa o espetáculo, é a economia de 50% com a implantação dessa tecnologia. Só no Carnaval gastamos R$ 2 milhões com a iluminação do Sambódromo.

Também por causa dos acidentes em 2017, havia a ideia de tratar a avenida como palco. Dentro disso, reduzindo o número de pessoas na pista. Foi feito algo nesse sentido?
Estamos reduzindo muito, junto da Liesa, o número de credenciais no local do espetáculo, na pista, que vamos tratar como palco. Quem tem que estar no palco são os artistas e quem está trabalhando. Já há um entendimento com a Liesa para a redução drástica da emissão de credenciais. Seremos muito criteriosos sobre isso. Vamos reduzir em mais de 20% a emissão de credenciais de pista, contando imprensa e geral.

Sobre o contrato coma Série A, há uma previsão?
Será assinado esta semana. Só estamos dependendo do número do empenho. Já está tudo alinhando, pronto e resolvido, mas só posso assinar o contrato depois da emissão do número de empenho, e quem nos manda isso é a Fazenda. Sai em poucos dias. Até sexta-feira acredito que esteja resolvido.

Unidos de Padre Miguel, 2017 – Fernando Grilli/Riotur

E o dinheiro cai na semana seguinte?
Não. Aí vem o processo de pagamento. Empenho não é liquidação. Empenho é a reserva do recurso. Isso feito, abre o processo de liquidação, que leva mais algumas semanas. A gente está agilizando esses processos para que pague o quanto antes, porque sabemos que eles estão precisando e muito.

É possível que esse recurso caia na conta das escolas ainda em 2017?
A gente está fazendo de tudo. Não vou prometer. Pagar uma fatura via órgão público é algo muito burocrático. São dezenas de assinaturas. Não é uma coisa “pega o cheque e paga”, mas estamos correndo muito e envolvendo todos que participam dessa liberação. Nós compactuamos com a necessidade deles, mas temos que entender o trâmite normal.

Hoje é possível prever se haverá mais cortes na subvenção da Prefeitura para as escolas de samba?
Não é a nossa vontade. A gente entende que o que foi feito (corte de 50%), na realidade, foi uma atualização aos anos anteriores. E entendemos que, pela grandiosidade desses espetáculos, eles precisam ser autossustentáveis. Não que a Prefeitura deixe de apoiar, pelo contrário. Mas essa subvenção em 50% é algo pré-definido. Até porque não podemos tomar atitudes sem o retorno que esperamos desse incremento em receitas via impostos. A Prefeitura vive uma deficiência grave em receitas de impostos. A gente continua com esse entendimento dos 50% (de corte), mas as escolas precisam, sim, entender que devem montar um projeto mais complexo e levar isso ao mercado. Não podem mais depender exclusivamente de recurso público. Isso não tem mais condição, não há mais viabilidade para isso como era feito. Essa mexida vivida esse ano movimentou todos para buscar caminhos, como a gente fez aqui, via Uber, por exemplo. As prioridades da Prefeitura são emergenciais na saúde. Já que o recurso está escasso, a gente tem que priorizar o que é emergencial. Não, evidentemente, desprestigiando o Carnaval, porque a gente entende que é um grandioso projeto turístico para a cidade. Não podemos ser demagogos com o recurso público.

Há uma previsão sobre os R$ 6,5 milhões do patrocínio do Uber?
Está para ser assinado no próximo dia 15. Está tudo tramitando direitinho no Ministério da Cultura.

E cairia quando na conta das escolas? Em janeiro?
Com certeza.

Salgueiro – Fernando Grilli/Riotur

Na sua opinião, é uma tendência que as escolas não recebam mais dinheiro público?
Não, acho que deve ser um mix. Deve acontecer uma redução. A gente tem buscado caminhos. O Carnaval de rua tinha um investimento, através de um caderno de encargos, nos anos anteriores, de R$ 8 milhões. Hoje, com a nossa movimentação no mercado publicitário, captamos R$ 35 milhões. O interesse é que, cada vez mais, a gente tenha o investimento público reduzido. Até porque a Prefeitura investe muito na operação do Carnaval, são mais de R$ 100 milhões. As pessoas não têm essa noção. São seis milhões de foliões na rua. Isso implica em quadruplicar o efetivo da Comlurb, quadruplicar o consumo de insumos, quadruplica o efetivo da Guarda Municipal em horas extras. O mesmo para Cet-Rio, postos médicos… A Prefeitura investe, sim, e muito. A gente precisa minimizar as outras áreas que permitem buscar patrocínio. Está aí o Rock in Rio, que é um exemplo claro de evento extremamente competente em captação de patrocínio. Por que o Carnaval não pode ser? O Carnaval é maior que o Rock in Rio em termos de audiência. São seis milhões de pessoas nas ruas, consumindo, vivenciando marcas. No Rock in Rio são 600 mil. Então tem que ter profissionalismo nisso. Isso envolve Liesa, Lierj e nós aqui, cada vez mais, para gerar para eles ainda mais recursos via iniciativa privada. Tem que estar todo mundo junto, embalando isso de forma muito profissional, comercialmente falando, para que as marcas tenham interesse.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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