Para vencer uma disputa de samba-enredo numa escola de samba de ponta no Rio de Janeiro, uma parceria pode gastar até R$ 150 mil em todo o concurso. A estimativa é de Xande de Pilares, compositor bicampeão no Salgueiro (2014 e 2015), que este ano tenta o tri com uma espécie de “dream team” de sambistas formado por Demá Chagas, Dudu Botelho e outros.
Sambista de carreira sólida – acaba de lançar um novo álbum, “Esse Menino Sou Eu” -, Xande considera o investimento muito alto. E pede mudanças para que o concurso se torne mais democrático, com chances para os compositores menos abastados.
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“Torcida, ônibus, cerveja, ingresso para entrar na quadra… É uma série de coisas para bancar”, enumera o sambista em entrevista ao Setor 1. “Antigamente era mais simples. Você subia no palco, cantava seu samba e perdia ou ganhava. Aquele compositor que tem bom samba, mas não tem dinheiro, não consegue sustentar a disputa. Até pela crise que o país enfrenta, é preciso dar uma aliviada, porque dói para o compositor, principalmente quando não ganha. A conta sempre chega depois”, diz Xande, que cita algumas alternativas para levantar a grana, como a articulação para conseguir um investidor ou até mesmo a famosa vaquinha.
“Assim o samba-enredo deixa de ser o foco, e o mais importante passa a ser quem tem mais para a disputa. E às vezes quem tem dinheiro não tem um bom samba”, completa Xande, finalista em duas escolas da Série A: Unidos de Padre Miguel e Estácio de Sá.
Ouça o samba da parceria de Xande para o Salgueiro 2018:
“Encomenda é afronta”
Algumas escolas, muitas da Série A do Rio, decidiram simplesmente não realizar concursos e encomendaram seus sambas para 2018. A safra para o próximo Carnaval é de indiscutível qualidade, mas a medida não agrada a todos. Para Xande, a ideia é uma “afronta”.
“Não gosto. Não vou criticar porque não sei o critério, mas isso desvaloriza a ala de compositores, que é um patrimônio da escola. Encomendar samba é uma afronta ao compositor. Mas isso não vai matar a ala de compositores. Se acabar com ela, acaba o desenvolvimento musical das escolas”, concluiu.
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