
Os títulos conquistados pela Imperatriz Leopoldonense nos anos 90 e na virada para a década seguinte colocaram na escola a pecha de técnica e fria – fama que superou os limites da chamada “bolha” do Carnaval e persistiu até quando as conquistas minguaram. O tempo passou, e hoje povo de Ramos é conhecido como uma das mais quentes das 12 agremiações do Grupo Especial do Rio de Janeiro. E mais uma mostra do que a turma gresilense pode fazer foi visto no desfile deste domingo (2), com direito a coreografia de torcida organizada.
“A gente não é mais a ‘Certinha de Ramos’. Como diz o Leandro [Vieira, carnavalesco da escola], a gente é a ‘Ex-Certinha de Ramos’. A gente quer trazer alegria, a gente quer trazer uma escola feliz, uma escola que que pise na Sapucaí e fale: ‘Eu sou de Ramos e eu estou feliz'”, diz o intérprete Pitty de Menezes, que fez em 2025 o terceiro desfile na escola, sempre com atuações destacadas – em 2024, levou o Estandarte de Ouro de melhor intérprete.
“A gente tem uma equipe, ou uma família, muito jovem, que quer muito ganhar, quer muito vencer”, completa Pitty, ele próprio uma das faces da renovação da escola depois de uma breve, mas marcante passagem pelo grupo de acesso.
Com mais tempo de casa, o mestre-sala Philipe Lemos, ainda vê a escola como “certinha”, mas com algo mais.
“A Imperatriz continua sendo certinha, só que agora ela tem um espírito mais jovem, que que quer não ser só fazer o certo, mas também quer ser brincalhão, quer ser divertido, quer trazer as pessoas para dentro, que é o que a gente faz”, defende, enquanto ouvia axé no fone de ouvido para se energizar para o desfile sobre a saga de Oxalá.

“Hoje a Imperatriz tem uma nova cara, mas ela continua sendo certinha e brigando como sempre brigou para ser campeã do Carnaval”, completa.
Técnica com orgulho
Curiosamente, a fama de ordeira e fria não exatamente combatida pelos gresilenses na época do bicampeonato de 1994-95. Inclusive defendida pelas lideranças da escola em inflamadas entrevistas nos desfiles e após as apurações, como fazia o então presidente em 1994, Marcos Drumond.
Após o título de 2001, porém, a escola vai, aos poucos, deixando de frequentar os primeiro lugares, e assim segue na década seguinte. Até culminar no rebaixamento de 2019, em um desfile que fez os gresilenses sentirem saudade da fama de “técnica”.
Com a “obrigação” de subir imediatamente, a escola contrata o então carnavalesco campeão da Mangueira, Leandro Vieira, e reedita o clássico absoluto de 1981, sobre Lamartine Babo, rebatizado como somente “Só Dá Lalá”, sem a menção à marchinha sobre os cabelos crespos das mulheres negras, “O Teu Cabelo não Nega”. A escola vence o acesso com sobras.
CPX
Em julho de 2020, durante a pandemia de Covid-19, morre o patrono Luiz Pacheco Drumond, após sofrer um AVC, e a escola intensifica a transformação com a geração seguinte da família.
A atual presidente, Cátia Drumond, que toca a escola atualmente com o filho João Felipe, defende que o rebaixamento foi decisivo para mudança de ares, incluindo uma reaproximação com a comunidade de Ramos e arredores. A Imperatriz coloca em evidência o povo do Complexo do Alemão, onde buscam a rainha Maria Mariá.
“Com a queda em 2019, a gente fez o resgate da comunidade”, diz Cátia. “E a Imperatriz passa a ser uma escola feliz. Ela quer vir para a avenida, ela quer brincar, ela quer ser certinha, mas uma certinha feliz”, resume.
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