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Prefeitura corta 50% da verba para grupo de acesso no Rio, diz Lierj

As escolas de samba da Série A do Rio de Janeiro, divisão logo abaixo do Grupo Especial, divulgaram uma carta aberta nesta terça-feira em que anunciam o corte de 50% da verba da Prefeitura para o Carnaval 2018.

No texto, assinado pela diretoria da Lierj, liga responsável pelos desfiles, e as 13 agremiações, o grupo diz que já foi avisado pela administração de Marcelo Crivella da redução, lamenta a decisão e critica o que chama de uma tentativa de “podar uma das poucas fontes de alegria e exaltação de um povo que enfrenta dificuldades em todos os setores da sociedade”.

Segundo a Lierj, a verba da prefeitura representa 80% dos recursos que as escolas investem nos desfiles. O valor não foi informado.

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“O revés chega em um momento onde o nível do espetáculo atingia patamares crescentes de qualidade, elogiados tanto pela mídia quanto pelo público que acompanha os desfiles, seja no Sambódromo ou pela televisão. Muito além dos 55 minutos apresentados na avenida, cada uma das 13 escolas engloba o sustento, o lazer e a motivação de milhares de pessoas. Trabalhadores humildes emprestam um pouco da arte e do talento para que um enorme espetáculo cultural possa encantar cariocas e turistas”, diz a carta.

Apesar do revés, a Lierj garante a realização dos desfiles: “Mesmo assim, vamos manter a cabeça erguida”

“Temos a certeza de que, independentemente de qualquer obstáculo, não vamos deixar o povo na mão. Cada integrante vai desfilar com ainda mais garra e dedicação para mostrar a força que representa o pavilhão. Todos estarão unidos para garantir, seja em 2018 ou nos próximos quatro anos, a nota 10 em quesitos fundamentais, como o respeito, a arte, a cultura, o trabalho, o lazer e, principalmente, a emoção. O samba pode até agonizar, mas, jamais irá morrer”, bradam as escolas.

Grupo Especial

A falta de verbas oficiais que já havia afetado as escolas do Grupo Especial tem efeito muito mais devastador das agremiações do acesso.

No grupo de elite, o corte foi anunciado por Crivella pouco depois do Carnaval deste ano, abrindo uma crise entre as escolas e a prefeitura. A subvenção também foi reduzida em 50%, caindo de R$ 2 milhões para R$ 1 milhão o montante para cada uma. Apesar da primeira parcela ter sido prometida para julho, até fins de outubro o dinheiro não havia caído nas contas das agremiações. Sem dinheiro, a Liesa informou que os ensaios técnicos só acontecerão caso se consiga um patrocinador.

Crivella reunido com representantes das escolas e da Liesa – Foto: Edvaldo Reis/Prefeitura do Rio

O Governo Federal se comprometeu a cobrir o rombo (ou pelo menos parte dele) de R$ 13 milhões. Até o momento, sabe-se apenas que a Caixa deve repassar R$ 8 milhões. O dinheiro, porém, ainda não chegou às agremiações, que ainda enfrentam restrições do Ministério do Trabalho. A Superintendência do Rio, após vistoria, mandou interditar os barracões (alguns parcialmente) ou interromper algumas atividades por conta de problemas em relação à segurança do trabalho.

Não há previsão de vistoria nos barracões das escolas da Série A, segundo o próprio Ministério do Trabalho.

Veja abaixo a carta da Série A na íntegra:

Carta aberta à população do Rio de Janeiro

Prezado cidadão do Rio de Janeiro,

Hoje, infelizmente, parece que o Carnaval perdeu a importância como propulsor da cultura popular, do turismo e da geração de renda para a cidade do Rio de Janeiro. A Prefeitura, visando cortes de verbas, tenta podar uma das poucas fontes de alegria e exaltação de um povo que enfrenta dificuldades em todos os setores da sociedade.

A exatos 101 dias dos desfiles, as escolas de samba da Série A receberam o comunicado da Prefeitura de que haverá redução de 50% da verba de incentivo cultural para o Carnaval de 2018. Ressalta-se que o valor dessa subvenção representa aproximadamente 80% dos recursos financeiros que são utilizados para a realização do desfile.

O revés chega em um momento onde o nível do espetáculo atingia patamares crescentes de qualidade, elogiados tanto pela mídia quanto pelo público que acompanha os desfiles, seja no Sambódromo ou pela televisão. Muito além dos 55 minutos apresentados na avenida, cada uma das 13 escolas engloba o sustento, o lazer e a motivação de milhares de pessoas. Trabalhadores humildes emprestam um pouco da arte e do talento para que um enorme espetáculo cultural possa encantar cariocas e turistas.

Mesmo assim, vamos manter a cabeça erguida. Apesar de toda preocupação, temos a certeza de que as pessoas jamais deixarão de acreditar no Samba. Partilhamos da tese de que é ele o melhor remédio para as angústias e problemas do cotidiano.

Os memoráveis representantes da velha-guarda continuarão colocando as vestimentas impecáveis, enquanto os ritmistas seguirão os incansáveis ensaios para que o samba fique na cadência perfeita para embalar a dança do casal de mestre-sala e porta-bandeira que tão bem reverencia o pavilhão de cada agremiação. Não podemos esquecer, ainda, das nobres mães baianas, que tratam cada folião como um verdadeiro filho.

Quem diria que o Samba, um dia, seria considerado o “Maior Espetáculo da Terra”, atraindo mais de 2 milhões de turistas para a cidade no período? Não se olvide que o Carnaval, representado pelas escolas de samba, é mais do que um produto cultural de consumo interno. Ele é propulsor de uma rica indústria criativa, que tem nas agremiações e na cultura carnavalesca verdadeiros bens de exportação, valoráveis do ponto de vista do turismo, geradores de incremento na renda circulante, de investimentos na cidade e de grande visibilidade institucional.

O Carnaval, sem sombra de dúvidas, é a festa popular que causa maior impacto positivo na economia da cidade do Rio de Janeiro, injetando e fazendo circular milhões de reais todos os anos, pois, além de elevar as taxas de ocupação do setor hoteleiro, desenvolve a produção e o lucro de outros setores, como comércio e serviços.

Em síntese, o Carnaval da Série A é realizado graças ao enorme esforço, criatividade e dedicação de profissionais que transformam o amor pelo samba em verdadeiras obras de arte populares. Cada fantasia finalizada gera uma felicidade incalculável para uma família, uma vez que a grande maioria é destinada gratuitamente para a comunidade. Não são raros aqueles que aguardam ansiosamente o ano inteiro pelo dia do desfile para que possam, ao mesmo tempo, brincar e se orgulhar de defender a escola do coração na busca pelo campeonato. No desfile, não existe coadjuvante. Cada membro é peça fundamental na história contada pela agremiação!

Temos a certeza de que, independentemente de qualquer obstáculo, não vamos deixar o povo na mão. Cada integrante vai desfilar com ainda mais garra e dedicação para mostrar a força que representa o pavilhão. Todos estarão unidos para garantir, seja em 2018 ou nos próximos quatro anos, a nota 10 em quesitos fundamentais, como o respeito, a arte, a cultura, o trabalho, o lazer e, principalmente, a emoção.

O samba pode até agonizar, mas, jamais irá morrer.

Atenciosamente,

Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIERJ)
G.R.E.S. Unidos do Viradouro
G.R.E.S. Estácio de Sá
G.R.E.S. Unidos de Padre Miguel
G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra
G.R.E.S. Acadêmicos da Rocinha
G.R.E.S.E. Império da Tijuca
G.R.E.S. Acadêmicos do Cubango
G.R.E.S. Inocentes de Belford Roxo
G.R.E.S. Renascer de Jacarepaguá
G.R.E.S. Acadêmicos do Sossego
G.R.E.S. Acadêmicos de Santa Cruz
G.R.E.S. Alegria da Zona Sul
G.R.E.S. Unidos de Bangu

OBS: Assinam a carta todas as 13 agremiações da Série A. A original desta, com as devidas assinaturas, encontra-se na sede da entidade.

Ensaio técnico da Mangueira – Alexandre Macieira/Riotur

Entenda o caso do corte de verba

Crivella anunciou que pretende cortar em 50% a verba destinada às escolas de samba para investir em creches. O valor em 2017 foi de R$ 24 milhões, sendo R$ 2 milhões para cada agremiação. Como em 2018 serão 13 escolas no Grupo Especial, a expectativa era que o montante chegasse a R$ 26 milhões. Mas, conforme a Riotur (Empresa Municipal de Turismo do Rio de Janeiro), responsável por organizar a festa, já confirmou, o valor ficará mesmo em R$ 13 milhões.

A Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) anunciou que, sem os R$ 13 milhões, os desfiles ficam inviáveis em 2018, e decidiu suspender as apresentações até que as partes cheguem a um acordo. A entidade espera conseguir um encontro com o prefeito, algo que vem tentando há meses, sem sucesso.

A Riotur disse, em nota, que o Carnaval está garantido e afirmou que vai buscar na iniciativa provada os recursos para as escolas. Mas confirma que as creches são prioridade.

Em resposta, sambistas realizaram um protesto. O grupo se concentrou em frente ao edifício administrativo da prefeitura, na Cidade Nova, e caminhou até a Marquês de Sapucaí.

O prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis, se prontificou a ajudar e ofereceu levar os desfiles para a cidade da Baixada Fluminense. “A festa traz receita, movimenta a economia. Tem dinheiro para tudo. Se puder levar a Sapucaí para Caxias, eu banco. Vai dar lucro, traz turistas, é importante para a cidade”, disse Reis ao jornal Extra.

No dia 28 de junho, Crivella recebeu as escolas de samba e ficou decidido que haverá desfile em 2018.

A Prefeitura acertou pagar R$ 1 milhão para cada escola e se comprometeu a conseguir mais R$ 500 mil da iniciativa privada.

No dia 25 de julho, o presidente da República, Michel Temer, prometeu repassar mais R$ 1 milhão para cada agremiação, cobrindo o corte promovido por Crivella.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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