Um dos mais requisitados para selfies – com a mão no queixo, uma marca dele – na concentração da Viradouro nesta sexta-feira (22), o compositor Felipe Filósofo bebericava um chá de erva cidreira para aliviar a tensão.
“Eu fico nervoso, e o chá me relaxa”, disse o sambista.
O nervosismo é justificável, já que dali a alguns minutos, o samba de sua autoria seria executado no desfile oficial da atual campeã. “A Carta”, como foi rebatizada pela chamada “bolha do Carnaval”, enfrentaria, enfim, o teste da apresentação valendo nota, após protagonizar os mais acalorados debates nas redes sociais – com direito a intensas trocas de indiretas.
Na mesma época, Filósofo peregrinava em lives comentando e defendendo a obra, explicando verso por verso.
“Não é ansiedade, minha pressão [arterial] deve estar normal, não é medo. É estado de êxtase, no sentido de ficar perplexo. Aliás, um dos caminhos da origem da filosofia é o momento em que você experimenta a perplexidade em relação à existência. Os gregos antigos chamavam de thaumazein“, explicou o professor de Filosofia, como o nome artístico entrega.
No ensaio técnico, o samba recebeu críticas pela execução acelerada – o que engrossou o caldo dos debates sobre a trilha sonora do desfile sobre o Carnaval de 1919, o primeiro pós-pandemia de gripe espanhola.
O próprio mestre de bateria da escola, Ciça, admitiu que o andamento estava acelerado no teste do último dia 10 na Sapucaí. Ele inclusive sublinha: foi só um teste. “Ensaio é para essas coisas”. Para o desfile, o músico prometeu um andamento não tão rápido, mas sem exagero.
“A bateria da Viradouro não toca pagode. Ela pulsa”, afirmou Ciça, enquanto aguardava seus comandados se prepararem para o desfile.
“O samba é maravilhoso, eu me apaixonei na primeira vez que ouvi”, declarou-se, mesmo admitindo: “ele é um desafio pra escola”.
“A Carta” nunca foi uma unanimidade, mas, pelo fervor de defensores e detratores, ela dominou a pauta na internet – principalmente no Twitter. E os haters eram tão ruidosos quanto os fãs, inclusive até a última passada no desfile.
Inabalável, com uma calma cultivada à base de ervas colhidas no quintal de sua casa no bucólico bairro Rio do Ouro, em Niterói, Filósofo afirma que já flagrou convertidos a ‘carters’.
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“Eu frequento rodas de samba. E eu já vi [diz, alongando o “i”] uns 90% [dos haters] cantando escondidinho. As pessoas me chamam no privado no Instagram e dizem que não gostavam do samba, mas passaram a gostar depois de ouvir uma segunda vez”, conta Filósofo, aproveitando para citar o poeta Mário Quintana.
“Quintana dizia: ‘é preciso um segundo olhar’. É claro, evidente que tudo que é revolucionário na estética, vai causar um impacto. Mas o termômetro é o povo”, completou, citando o ineditismo de um samba-enredo em formato de carta, sacada que foi buscar inspiração na Commedia dell’Arte após “intuições espirituais”.
“Veio aquele insight: ‘procura lá como era a história original do Pierrot’. E o Pierrot realmente escrevia cartas para a Colombina. Ele guardava e depois passa a declarar as cartas. Era só uma pesquisa que todo mundo poderia ter feito”, diz.
No samba, o Pierrot se declara ao Carnaval, que volta após a pandemia. E segundo Filósofo, o Carnaval já respondeu.
“O amor foi correspondido. E o final, nós sabemos o que será, que é a consagração do amor”, encerrou, seguido de uma gargalhada.
Ainda não se sabe, porém, se os jurados de samba-enredo foram conquistados após o desfile. O resultado, como as cartas, também está guardado em um envelope, que será aberto na próxima terça-feira (26), na apuração.
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O samba da Viradouro é lindo, mas o falecido Dominguinhos do Estácio está fazendo falta a Escola, ou outro intérprete melhor que esse. Voz chata pra samba enredo
Fala Rômulo meu velho amigo de Bahiense. Depois me manda seu contato cara. Maravilhoso esse samba da Viradouro, gente do céu.