Segunda noite de desfiles tem Beija-Flor arrebatadora como destaque; Salgueiro faz a alegria dos ‘noventistas’

Beija-Flor 2025 – BeijaDhavid Normando/Rio Carnaval

A segunda noite de desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (3), teve a Beija-Flor de Nilópolis como destaque, com uma apreesentação que a credencia para disputar o título com a, até agora, favorita Imperatriz.

O desfile dedicado a Laíla, mítico “faz-tudo” do Carnaval, saiu como o homenageado gostava e exigia da turma de Nilópolis: samba aguerrido e canto potente da comunidade por anos comandada pelo seu maior regente.

O carnavalesco João Vitor Araújo optou por destacar a fé múltipla do sambista na primeira parte do desfile, que se definia como um “filho de Xangô osso duro de roer”, e a atuação decisiva no Carnaval, criando um jeito de realizar cortejos influente até hoje.

A plástica opulenta, como a turma de Nilópolis exige, foi outro destaque da apresentação, que teve alegorias volumosas e uma citação a “Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”, cultuado desfile vice-campeão de 1989 – perdeu só para outro clássico, “Liberdade, Liberdade”, da Imperatriz Leopoldinense, com quem, passados dois dias, a Beija-Flor deve disputar, décimo a décimo, o título de 2025.

O destino – e as bolinhas do sorteio da ordem dos desfiles – colocou o Salgueiro, primeira escola de Laíla, na sequência da Beija-Flor. E com um enredo que dialoga diretamente com o homenageado da apresentação anterior: “De corpo fechado”.

Na estreia do carnavalesco Jorge Silveira na escola, o Salgueiro traduziu em alegorias em fantasias os rituais brasileiros em busca de proteção física e espiritual. A apresentação, abragente, passou por desde elementos das religiões de matriz africana até os amuletos e pactos dos cangaceiros para fechar o corpo.

Salgueiro 2025 – Dhavid Normando/Rio Carnaval

Na cabeça da escola, a escultura do preto velho socando pilão remetia ao desfile de 1992. No fim, a homenagem ao cantor Quinho. Juntos, os dois momentos fizeram a noite dos noventistas – salgueirenses ou não.

Antigo problema, a escola acertou a evolução. E o samba, conduzido pela Furiosa bateria, rendeu o suficiente para deixar o Salgueiro em condições de voltar no Sábado das Campeãs, lugar que, ao que tudo indica, também briga a Unidos da Tijuca, que abriu a noite.

Com o enredo – há anos pedido pela torcida – sobre o Logunedé, o “santo menino que velho respeita”, os tijucanos mostraram um vigor que andava sumido na escola.

O carnavalesco Edson Pereira, em uma marca sua, fez um desfile volumoso, com um belo abre-alas e contando a história do orixá pelo viéis de sua origem e transmutações.

Unidos da Tijuca 2025 – Eduardo Hollanda/Reuters

Para completar a apresentação, o samba, que tem entre os autores a cantora Anitta – cujo santo “de cabeça” é o homenageado no enredo -, foi defendido com garra pelos componentes, e executado com a já tradicional competência da bateria do mestre Casagrande.

Fechando a noite, a Vila Isabel de Paulo Barros levou para a avenida o autoexplicativo enredo “Quanto Mais eu Rezo, Mais Assombração Aparece”.

Puxado por um trem-fantasma no abre-alas, que tinha Martinho da Vila no topo de uma caveira, a escola apostou em signos de fácil leitura para apresentar um pout pourri de elementos do imaginário popular. Indo desde o “velho do saco” até o hollywoodiano “Monstros S.A.”, pivô da maior polêmica do pré-Carnaval.

Tinga, cantor da Vila Isabel – Eduardo Hollanda/Rio Carnaval

O destaque, porém, foi o setor musical da apresentação. A bateria do Mestre Macaco Branco e o cantor Tinga formam atualmente uma das melhores parcerias do Carnaval, salvando sambas medianos – como é o caso de Vila Isabel 2025. A atuação brilhante pode colocar a escola num lugar do Desfile das Campeãs, como já aconteceu em outras situações semelhantes.

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

Adicionar comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.