Simas critica modelo com 4 desfiles por dia, pede democratização da Sapucaí e faz alerta sobre camarotes: ‘Vi gente saindo na 2ª escola’

Luiz Antonio Simas antes do desfile da Unidos da Tijuca – Romulo Tesi

O professor de História e escritor Luiz Antonio Simas conversou com o blog sobre as principais mudanças na dinâmica e organização dos desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Entre elas, a divisão das apresentações em três dias, com quatro agremiações por noite, foi a mais criticada.

Simas lembra que não há precedente na história do Carnaval um dia de desfiles cmo tão poucas apresentações, desde o primeiro, em 1932.

O fechamento das notas ao fim de cada noite também preocupa, dada a dificuldade de comparação entre escolas que desfilam em dias diferentes.

O escritor, um dos compositores do samba deste ano da Unidos da Tijuca, também lançou um alerta sobre a temperatura dos desfiles. Para o escritor, as apresentações foram quentes, mas a recepção de parte do público, principalmente dos camarotes, esfria a pista e influencia na avaliação das escolas.

Para o professor, é preciso popularizar o Sambódromo e colocar para dentro quem de fato queira assistir aos desfiles.

“Quem não viu Mangueira desfilar não tem o menor discernimento do que é a cultura de escola de samba”, afirma.

Leia abaixo a entrevista na íntegra:

Avaliação do primeiro dia com novo formato

“O que aconteceu no primeiro dia foi um sinal muito ruim. Tivemos um dia morno. Às 3h30, 4h da manhã não tinha mais escola desfilando. O pagode na Praça da Apoteose não contemplou praticamente ninguém. Começaram as raves em tudo quanto foi camarote. O metrô e estava um caos absoluto, porque todo mundo saiu ao mesmo tempo com a noite escura. Deu tudo errado. A gente tem que ter o discernimento de manter o que funciona, mas também voltar atrás quando as coisas não funcionam.”

Menos escolas

“Quatro escolas é muito pouco para quem assiste ao desfile. Ou volta com dois dias, com seis escolas em cada, ou, se quiserem insistir nos três dias, não pode ter só quatro.”

“Em 1932 [ano do primeiro concurso] a gente tinha mais ou menos umas 20 escolas ali, mas nós temos registradas cinco escolas desfilando mesmo. Então é mais do que um dia de hoje. Isso é um absurdo.”

Mais povo

“Nós precisamos popularizar o Sambódromo. Porque a gente teve um dia [domingo] de desfiles mornos em relação ao contato com o público, e não é por causa da escola. A Imperatriz estava deslumbrante. Mangueira sempre é a Mangueira, traz essa pujança. A UPM [Unidos de Padre Miguel] fez um grande desfile. Mas você desfila para camarote que em todo mundo fica apanhado como lata de sardinha.”

“O povão estava aqui [no Sambódromo] no ensaio técnico, não está aqui hoje [segunda]. Exceções confirmam a regra. Então tem que popularizar, tem que democratizar o Sambódromo. Isso é bom para o Carnaval, porque caso contrário se transforma num espetáculo frio. O que a gente tem a rigor é um público distante. Eu vi gente indo embora na segunda escola.”

“Quem não viu Mangueira desfilar é porque não tem o menor discernimento do que é a cultura de escola de samba.”

Julgamento

“Estou muito curioso para ver a abertura desses envelopes. Porque julgar sem estabelecer critério comparativo não tem sentido nenhum. Fechar envelope assim [após o fim de cada dia] é uma loucura.”

Teste

“É um ano de testes, mas vai ter que mudar muita coisa, porque o primeiro dia já foi um sinal muito complicado para aquilo que a gente imagina que seja desfile de escola de samba”

Romulo Tesi

Romulo Tesi Jornalista carioca, criado na Penha, residente em São Paulo desde 2009 e pai da Malu. Nasci meses antes do Bumbum Paticumbum Prugurundum imperiano de Aluisio Machado, Beto Sem Braço e Rosa Magalhães, em um dia de Vasco x Flamengo, num hospital das Cinco Bocas de Olaria, pertinho da Rua Bariri e a uma caminhada do Cacique de Ramos, do outro lado da linha do trem. Por aí virei gente. E aqui é o meu, o nosso espaço para falar de samba e Carnaval.

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