O Setor 1 esteve no Desfile das Campeãs, neste sábado (25), e acompanhou os bastidores das apresentações de Grande Rio, Mangueira, Beija-Flor, Vila Isabel, Viradouro e Imperatriz. Teve o choro da porta-bandeira da Mangueira, o cansaço da filha de Lampião, a falta de água e mais. Veja como foi.
O choro de Cintya
A porta-bandeira Cintya Santos foi uma das requisitadas para fotos na concentração da Mangueira. Ao ser cumprimentada pelo mangueirense Elmo José dos Santos, diretor de Carnaval da Liesa, Cintya pediu desculpas pelas notas. Elmo tratou de animar a porta-bandeira, disse palavras de apoio e afirmou que não havia do que se desculpar.
Ao comentar o episódio com o blog, Cintya se emocionou.
“Ninguém trabalha para tirar nota baixa. Eu vim do acesso [da Porto da Pedra], me doei, dei o máximo para as pessoas verem que eu posso estar aqui [no Grupo Especial] também”, dizia a porta-bandeira, quando interrompeu a fala por não segurar as lágrimas.
“Quando o resultado não vem você acha que as pessoas ficarão contra. Mas você vê carinho, respeito, e vê que as notas não significaram nada. Isso é muito importante, é muito gratificante. Só tenho a agradecer a Estação Primeira de Mangueira por isso”, completou Cintya.
A porta-bandeira e o mestre-sala Matheus Olivério receberam três 9,9 e um 10. Uma das justificativas para não dar a nota máxima foi de que houve excesso de vigor na apresentação. Ao comentar as justificativas, ela evitou críticas.
“Serve de aprendizado, para eu aprimorar minha dança”, declarou a Cintya, que levou o Estandarte de Ouro. “Agora é rumo a 2024”, concluiu. O casal já renovou para o próximo Carnaval.
Férias no Nordeste
Quem também veio do acesso e estreou no Especial na Mangueira foi o carnavalesco Guilherme Estevão. O artista disse que o ciclo do Carnaval 2023 foi muito feliz e mostrou satisfação com o quinto lugar.
“Erros aconteceram, e a gente tem que trabalhar em cima deles. Mas a Mangueira teve um balanço muito mais positivo do que negativo. A gente gabaritou enredo e fantasia, e agora é trabalhar nas alegorias”, afirmou Estevão, lembrando que a escola tirou pontuação máxima em seis dos nove quesitos.
O carnavalesco disse que a escola quer começar a trabalhar cedo para 2024 – “a gavetinha de enredos já tem algumas opções”, disse -, mas que ele antes tem dois compromissos: primeiro no Carnaval de Uruguaiana (RS), onde assina o desfile da Bambas da Alegria, e depois as merecidas férias, provavelmente no Nordeste.
Sangue de Maria Bonita (mas meio cansadinha)
Única filha de Lampião e Maria Bonita, Expedita Ferreira teve jornada dupla no Carnaval 2023, com desfiles na Mancha Verde, em São Paulo, e na Imperatriz, no Rio. Com o título da escola de Ramos, ela voltou à Marquês de Sapucaí para sair de destaque no último carro da agremiação. Na concentração, porém, ela admitia certo cansaço, mas sem desistir.
“Hoje eu cansei”, confessou.
“Eu passei o dia todo mole, mas levantei a cabeça e estou aqui”, completou Expedita, 90 anos.
“Foi uma grande alegria eles lembrarem que meu pai existia e para mostrar que eu estou viva. Muita gente acha que eu não existo mais”, declarou ela, vivinha.
Se Lampião não foi para céu nem para o inferno, onde ele está? “Ele está por aí”, respondeu dona Expedita, que, para não cansar mais, entrou sentadinha na alegoria que tinha uma grande escultura do rosto do pai, enredo da Imperatriz. Depois levantou.
Zeca e a Portela
Quem estava por lá também foi Zeca Pagodinho, para abrir a noite com a Grande Rio. O sambista, enredo da escola de Caxias, apareceu de azul e branco para desfilar de novo no último carro, que levava uma águia, símbolo da Portela.
Perguntado sobre a escola do coração, Zeca foi no miudinho.
“Carnaval é assim mesmo. Depois melhora”, disse, liso.
Lesão de Carnaval
Quem sentiu o pós-Carnaval foi Marcelo Misailidis – no caso, o joelho do coreógrafo da Imperatriz Leopoldinense. Sofrendo com uma lesão de menisco no joelho esquerdo, Misailidis apareceu no Sambódromo se locomovendo com a ajuda de uma bengala.
“Eu vinha fazendo muito esforço físico e estava sentido dores [antes do Carnaval]. Depois do desfile eu relaxei, e quando fui fazer um pequeno esforço, senti a lesão”, explicou. “A gente já passou pela tempestade. Agora é recuperar os estragos”, completou o coreógrafo, que comentou as justificativas das notas que a comissão de frente recebeu – dois 10 e dois 9,9.
“Eu não desconsidero a dificuldade que é fazer um julgamento, mas às vezes falta uma noção do que é realmente importante para o projeto. A resposta, quando é muito subjetiva, em vez de trazer explicações, te deixa sem respostas”, disse.
Diniz e as notas de samba-enredo
O compositor André Diniz, da Vila Isabel, foi um dos críticos mais eloquentes do julgamento de samba-enredo no ano passado. Em 2023, o autor do samba do desfile da Vila sobre Martinho da Vila voltou a bater.
“Achei incoerente como sempre. Escolas com sambas excelentes perdendo ponto. Mesmo jurado dando 10 para sambas questionáveis. Não tem nada melhor que comparar o mapa de um ano com o outro. Aí você se pergunta: ‘como o cara que tirou ponto nessa samba dá 10 para esse outro?’ Ou ‘por que esse [jurado] sempre dá 10 para sambas questionáveis da mesma escola?'”, criticou.
“Eu como compositor continuo sem vontade de me expor ao julgamento que tem sido feito”, arrematou.
Bocão na bronca com a diretoria (do Flamengo)
Parceiro de longa data de Diniz, o também rubro-negro Evandro Bocão, ex-presidente da torcida organizada Raça Rubro-Negra, está na bronca com a diretoria do Flamengo. Para ex-presidente da Vila Isabel, o técnico Vítor Pereira tem apenas parte da culpa da atual fase do time, que vem de derrota em decisão para o Palmeiras e uma eliminação precoce no Mundial de Clubes.
“Ele [Vitor Pereira] é culpado de algumas coisas, mas a maior culpada é a diretoria do clube: [o vice de Futebol do Flamengo, Marcos] Braz e [o presidente do clube, [Rodolfo] Landim”, detonou Bocão, que considera um erro a troca de técnico, com a demissão de Dorival Junior, campeão brasileiro e da Libertadores, e a contratação do português.
“Pra que vai trocar o técnico? O que eles fizeram não existe. Tem que assumir”, cobrou o sambista, que mostra pessimismo. “Ainda vai demorar pra acertar esse time”, concluiu.
Bronca nilopolitana
Por falar em torcida, parte dos nilopolitanos esta na bronca com o quarto lugar da escola. Um dos alvos nas redes sociais tem sido o carnavalesco André Rodrigues, que dividiu o desenvolvimento do desfile com o veterano Alexandre Louzada. No ano passado, André atuou como assistente e, com a mudança de posto, sentiu a diferença.
“O que mudou na prática foi quantidade de pedrada que eu levei (risos)”, respondeu André, com bom humor.
“O balanço para mim foi bem positivo. A escola ficou em quarto lugar, e dentre os trabalhos dos carnavalescos, o nosso foi o sexto melhor avaliado, num grupo de 12. Não tem como achar isso ruim no meu primeiro ano de trabalho, jogando só com fera”, avaliou.
“O ruim é que ainda não consegui comemorar isso, porque a torcida da Beija-Flor acha que o quarto lugar é a pior coisa do mundo. E eu não acho”, completou.
A escola já anunciou o desligamento de Alexandre Louzada.
Renovações na Viradouro
Após o vice-campeonato da Viradouro, o presidente Marcelinho Calil garante que ainda não pensou na renovação da equipe para 2024.
“A partir de amanhã [domingo] eu começo a pensar nisso”, afirmou.
“De uma maneira geral a escola vem de bons resultados, com bons projetos, então obviamente não vou fazer uma loucura e sair trocando todo mundo. Mas não não vou demorar. Essa semana eu já resolvo tudo”, projetou.
Problema é a largura
Quem elogiou o projeto da Viradouro foi Helcio Paim. Conhecido profissional do Carnaval, o ferreiro chefe da Unidos da Tijuca admite que os carros estão mais gigantes – um alerta feito por parte da crítica especializada. Mas ele afirma que o problema não é a altura das alegorias, nem o comprimento, mas a largura – e defende um limite.
“Um carro estreito entra e sai bem da avenida, mas às vezes tem a vaidade de certos carnavalescos que fazem aquelas peças monstruosas na lateral dos carros, que atrapalham em tudo. Carnaval não é visto de frente mais. Aliás, só é visto de frente na televisão. Carnaval é visto de lado. Eu adoro carro grande, o público tem que se encantar, mas desde que não seja aquela repetição e não canse as pessoas. Não adianta fazer algo gigante e dizer nada”, explicou.
“Eu gosto de coisas criativas. Um exemplo está aqui”, disse Paim, no momento em que a Viradouro entrava na avenida.
O ferreiro ainda lembrou que “muitas escolas” tiveram problema na saída do Sambódromo, como o Império Serrano, onde também atuou este ano.
“Lá atrás [ruas na saída da Praça da Apoteose] não tem estrutura nenhuma, e a saída é estreita. É um sacrifício. A [rua] Frei Caneca é uma vergonha”, disparou.
Sem água
A dispersão do Sambódromo foi praticamente o único lugar onde foi distribuída água de graça para desfilantes e outras pessoas envolvidas na festa. Tradicionalmente, os aguadeiros – como são conhecidos os responsáveis pelo serviço – ficavam em vários pontos da Sapucaí e entorno, com um contingente maior na concentração, de onde eles sumiram.
Resultado: no trailer instalado ao lado do Setor 1, a água mineral, vendida a R$ 6, acabou por volta das 3h, faltando ainda duas escolas para desfilar: Viradouro e Imperatriz. A outra opção era comprar de ambulantes que conseguiram se infiltrar na concentração, por um preço um pouco barato: R$ 5.
Para piorar, a noite das Campeãs teve um dos dias mais quentes da semana de Carnaval, com cerca de 25º às 3 horas da manhã. Fora a sensação térmica.
Com luz
E o carro de Cosme e Damião da Grande Rio, considerado um dos mais bonitos do ano, e canetado pelos jurados por ter passado apagado no desfile oficial, cruzou a Sapucaí nas campeãs aceso.
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