Hoje não seria uma boa ideia reunir escolas de samba e o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella. Este já anunciou que pretende reduzir a verba destinada às agremiações pela metade, e usar a diferença para investir em creches. Com isso, dos R$ 24 milhões da subvenção, somente R$ 12 milhões seriam repassados pela administração municipal para as escolas. Um tombo para algumas, porém contornável para outras. O curioso é que o gesto de Crivella acontece menos de um ano depois de a maioria das escolas declararem apoio ao então candidato do PRB.
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Foi em 14 de outubro do ano passado, no auge da campanha, em que o presidente da Liesa, Jorge Castanheira, e representantes de algumas escolas, declararam apoio a Crivella. Teve troca mútua de elogios e pose para foto fazendo o número 10 com as mãos espalmadas, alusão à numeração do candidato.
Pega no ganzá
Texto publicado na ocasião no site do PRB cita o ex-presidente da Mocidade Paulo Viana como “articulador” do encontro.
“(…) Paulo Viana (…) disse que Crivella vai abraçar o carnaval. ‘Nosso objetivo era trazer o mundo do samba ao prefeito Marcelo Crivella que, tenho certeza, vai abraçar o carnaval carioca. Quem diz que o senador é contra o carnaval é que deve ser contra. O mundo do samba abraça o Crivella’, disse Paulo Viana”, cita o site do partido.
Presente na reunião, o presidente da Mangueira, Francisco de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira, disse que o “o preconceito contra o senhor (Crivella) foi quebrado quando o senhor esteve na Liga e assumiu compromissos com o carnaval, uma das coisas mais sérias que tem no Rio de Janeiro. Meu compromisso nesse segundo turno é com o senhor, eu sou 10! A Mangueira é 10! O mundo do samba é 10!”.
O texto narra uma cena no mínimo curiosa, em que, questionado pela presidente do Salgueiro, Regina Celi (também presente no encontro), se acabaria com o Carnaval, Crivella respondeu cantando “Festa para um rei negro”, do Salgueiro de 1971 (“ô lê lê, ô lá lá, pega no ganzê, pega no ganzá”).
Sem encontro
Hoje em dia, tal encontro dificilmente o mesmo clima amistoso. As escolas não só queriam a permanência da subvenção pelo menos nos mesmos valores, mas se forma antecipada. Um encontro do prefeito com representantes das escolas estava marcado para esta segunda-feira, o que não aconteceu. Aliás, há algumas semanas as agremiações tentam encontrar espaço na agenda de Crivella, sem sucesso.
O gesto do prefeito não chega a ser uma surpresa, apesar do apoio no ano passado. Desde que assumiu, Crivella já dava sinais de que manteria certa distância em relação ao Carnaval. O primeiro deles foi na abertura dos desfiles, na sexta-feira, quando não apareceu na Marquês de Sapucaí para fazer a entrega simbólica da chave da cidade ao Rei Momo, cerimônia tradicional do Rio.
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