A Paraíso do Tuiuti já anunciou o enredo para 2019, mas o histórico desfile sobre a escravidão, vice-campeão deste ano, segue repercutindo. E dessa vez bem longe de São Cristóvão – foi nos Estados Unidos, pela ex-presidente Dilma Rousseff.
Na última segunda-feira, 16, em sua fala durante evento no Centro para Estudos Latino-americanos da Universidade de Berkeley, na Califórnia, Dilma citou a ala dos “manifestoches”, cuja fantasia fazia menção aos manifestantes que tomaram as ruas pedindo o impeachment da então presidente da República a partir de 2015, principalmente.
Segundo Dilma, esses manifestantes acabaram, involuntariamente, vítimas dos próprios protestos.
“Eles [oposição que articulou a queda do governo] subestimaram a crise econômica, a crise política, que eles tinham criado, e subestimaram a compreensão da população (…) Parte da população foi induzida a se voltar contra seus próprios interesses. No Brasil há produtos culturais coletivos que deixam as coisas mais claras. Foi uma escola de samba, no Carnaval desse ano, chamada Unidos [na verdade, Paraíso] do Tuiuti, que mostrou os chamados ‘manifestoches’, ou os manifestantes fantoches, que usaram uma situação específica para se mobilizarem contra si mesmos”, declarou a ex-presidente, errando o nome da escola.
Dilma aproveita passagem pelos Estados Unidos para denunciar o que militantes do PT, apoiadores e vários setores da sociedade chamam de golpe. No caso, o processo que começa com o impeachment de 2016 e culmina na prisão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, no dia 7 de abril último.
A petista é cotada para disputar uma vaga no Senado por Minas Gerais nas eleições deste ano. Se a candidatura se concretizar, Dilma terá provavelmente o tucano Aécio Neves como adversário, reeditando a disputa presidencial de 2014. Em 2018 serão duas vagas no Senado em disputado por estado.
O vídeo na íntegra pode ser visto abaixo, no perfil do centro da Universidade de Berkeley no Facebook. O trecho em que Dilma cita a Tuiuti começa por volta de 1h26:
Relembre
A Tuiuti foi, de longe, a escola mais falada no Carnaval 2018, por conta do histórico e polêmico desfile sobre a escravidão, assinado pelo carnavalesco Jack Vasconcelos.
A apresentação, que valeu o vice-campeonato, fez, no último setor, uma crítica bem-humorada às atuais relações de trabalho, tendo como alvo principal o governo de Michel Temer e a reforma trabalhista.
Temer veio representado como um “vampiro neoliberal”, no alto de um carro alegórico. Na ala logo à frente, os “manifestoches” lembravam os manifestantes que pediam a saída de Dilma. Os componentes vestiam camisa amarela, que remetia à da Seleção Brasileira, boia de pato, imitando o bicho símbolo da campanha da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), usavam nariz vermelho de palhaço e seguravam colher de pau e panela.
O figurino ainda tinha um detalhe provocativo: por cima dos desfilantes, uma grande mão “controlava” os movimentos dos manifestantes por meio de cordas ligadas aos membros, como fantoches.
O desfile fez a escola se tornar um dos assuntos mais comentados no Twitter em todo o mundo e conquistar torcedores – além de ganhar detratores. Na apuração, grupos de movimentos políticos de esquerda compareceram à Praça da Apoteose para torcer pela Tuiuti. No entanto, quem esperava que os dirigentes da agremiação repetissem o discurso crítico do desfile pode ter se decepcionado. Tanto o presidente da escola, Renato Thor, quanto o então diretor de Carnaval, Thiago Monteiro, reforçaram o caráter apartidário da Tuiuti.
No Desfile das Campeãs, nova polêmica. O destaque Leonardo Moraes, que representava o “Temer vampiro”, desfilou sem a faixa presidencial, motivando especulações de uma possível censura por parte do Palácio do Planalto. A escola negou. Apesar da ausência do adereço, o “estrago” estava feito: centenas de memes surgiram e a caracterização vampiresca do presidente virou referência pop, aparecendo até em capa de revista.
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